O sexteto, que esteve em Curitiba
nos anos 70: “Frio da bexiga”.

Está nas lojas um CD que traz de brinde uma viagem. Uma jornada instantânea e sem escalas até o famoso Pátio do Forró de Caruaru, cidade do agreste pernambucano que se orgulha de abrigar o “maior São João do mundo”. A Trama acaba de lançar o disco Banda de Pífanos de Caruaru, no Século XXI, no Pátio do Forró, o segundo da tradicionalíssima dinastia nordestina pelo selo indie.

Nesse disco, conforme explica o cantor, compositor e zabumbeiro João Biano, a banda (fundada em 1924 pelo avô de João, Manoel) buscou uma aproximação com o forró “moderno”, “mas sem deixar de lado a tradição do pé-de-serra”: “Por onde a gente passa, a gente percebe que a rapaziada nova fica se mexendo nas cadeiras. Então, resolvemos dar o que eles queriam: um forró atual, só que mais aconchegante, com mais suingue, e assim nasceu o CD. O forró está na boca do povo, dos universitários aos trabalhadores de obra”, constata o atual líder do grupo, onde está há mais de 47 anos.

Mas isso não quer dizer que a Banda de Pífanos (desde 1980 radicada em São Paulo) não aderiu ao chamado “forró universitário”? “O forró universitário foi criado pelos estudantes paulistas, como o pessoal do Falamansa, e não tem o nosso suingue. Foi muito bom para trazer o forró de volta às rádios, mas eles dançam levantando o pé… o nosso forró é o pé-de-serra, que se dança arrastando o pé no chão, para levantar poeira mesmo. A gente mete a perna no meio da coxa da mulher e sai de umbigo quente…”, ensina.

A canção No Pátio do Forró, que inspirou o nome do CD, alia esse “arejamento” ao lugar onde acontece o gigantesco São João de Caruaru. “Nesse pátio se concentra uma média de 50 mil pessoas por noite, de 1.º a 30 de junho, com três bandas se revezando no palco. Essa música é uma homenagem à nossa Caruaru”, explica João. A cidade é lembrada em outras quatro faixas – Caruara, Caruaru, Pot-Pourri de Ciranda, Forroziar e Carupina. O Pot-Pourri é também uma homenagem de João Biano à lendária cirandeira Lia de Itamaracá, que esteve recentemente em Curitiba. Forroziar é outra homenagem, mas de Geraldo Azevedo e Carlos Fernando, um xote-enredo dedicado à Banda de Pífanos. Foi nessa música que Carlos Fernando cunhou a expressão “Os Beatles de Caruaru” para descrever o grupo.

Trilha junina

Na primeira audição, …No Pátio do Forró não transparece essa “aproximação com o forró contemporâneo”. As 14 músicas soam como um apanhado do melhor da música nordestina, uma autêntica trilha sonora de festa de São João. Nada de guitarras, violões ou outras invencionices. Vai do autêntico arrasta-pé Marina (João Biano), ao baião clássico Canto da Ema, de Ayres Viana, Alventino Cavalcante e João do Vale (do verso “A ema gemeu / No tronco do jurema”), terminando com o inesquecível xote Vida de Viajante (“Minha vida é andar por esse País…), de Luiz Gonzaga e Herde Cordovil. O CD ainda comporta outro tributo, o rojão Jackson, o Rei do Pandeiro e até um “samba matuto” – Pimenta Malagueta -, ritmo criado pelo próprio João Biano, que lembra o samba-reggae baiano. Vale destacar ainda as participações especiais de Oswaldinho e Chambinho do Acordeon, João Marcello Bôscoli (um dos donos da gravadora) e Jadelson Biano (Filho de João), ambos na percussão.

Mesmo com medo das baixas temperaturas (nos anos 70 a Banda de Pífanos fez uma temporada no Teatro Paiol e pegou “um frio da bixiga”), a família Biano não vê a hora de desembarcar de novo na terra das araucárias. “A gente come um barreado, toma uns dois litros de conhaque, usa uma “bainha pra oreia? (gorro) e manda brasa!”, adianta. E ele tem até uma solução para a conhecida “ginga de norueguês engessado” de boa parte dos curitibanos: “Eu ensino a dançar forró na hora, e nem preciso descer do palco”, desafia. “Garanto que todo mundo vai aprender a dançar pelo menos um pouquinho”. Para o bem dos pés dos casais curitibanos, venha logo, João!

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