Foi ainda no início da carreira, nos anos 1990, que o tenor norte-americano Gregory Kunde participou de sua primeira montagem de Otello, de Verdi, interpretando o tenente Cássio. “Eu me pegava pensando em como gostaria, um dia, de cantar Otello. No final da temporada, comentei isso com o maestro, que fechou a cara e me disse que esquecesse: jamais teria voz para tanto”, ele lembra.

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O maestro estava errado. Mas é justo dizer que, ao anunciar que cantaria o papel pela primeira vez, em 2012, Kunde surpreendeu a todos. Até a si próprio. “Otello é um dos papéis mais especiais e temidos do repertório. Quando me disseram, há alguns anos, que deveria pensar seriamente em cantá-lo, eu mesmo demorei a levar a ideia a sério.”

O início da carreira de Kunde esteve bastante ligado ao repertório ligeiro, em especial as óperas do bel canto. E, ao ouvir suas gravações da época, a evolução em direção a um timbre mais pesado, de cores dramáticas, parecia uma possibilidade distante. Mas o tempo passou. “Há cerca de dez anos, fiz um concerto e estava na plateia o maestro Antonio Pappano. Nós havíamos trabalhado juntos no começo de nossas carreiras, mas ficamos um bom tempo afastados. Após o concerto, ele foi me cumprimentar. E perguntou, espantado: o que aconteceu com a sua voz?”, recorda ainda.

E o que aconteceu? “Eu também não sei ao certo, mas tenho procurado seguir os caminhos para onde ela tem me levado”, ele diz, rindo. “A voz ganhou peso, mas não perdeu a agilidade nos agudos”, explica. E por isso ele se preparara, atualmente, para outros desafios, como os papéis de tenor em Cavalleria Rusticana e I Pagliacci e o Peter Grimes, de Britten. “Não importa o papel, eu sempre me aproximo dele com a técnica do bel canto. É difícil prever para onde vai a voz, mas o que importa é que quando me dou conta de que estou cantando um papel tão especial quanto Otello, preciso, em vez de me preocupar, apenas aproveitar a experiência. É muito bom.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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