Há filmes que ostentam a fama de ser obras menores de grandes diretores, mas que, às vezes, revistos, se revelam gratas surpresas. O próprio Ingmar Bergman não tem muito apreço por "Sonhos de Mulheres", que realizou em 1955, entre "Uma Lição de Amor" e "Sorrisos de Uma Noite de Amor". "Sonhos de Mulheres" está sendo resgatado pela Versátil, num DVD marcado pelo capricho habitual da distribuidora. "Sonhos" tem encantos que o próprio Bergman desconhece.
O filme situa-se numa fase decisiva do diretor. Em 1953, ele fez "Noites de Circo", que, em janeiro do ano seguinte, exibido no Festival Internacional de Cinema de São Paulo organizado para comemorar o quarto centenário da cidade, marcou a primeira consagração de Bergman em todo o mundo. De repente, em São Paulo, em 1954, críticos atentos descobriram o imenso talento de um diretor sueco ainda desconhecido. Em 1956, foi o Festival de Cannes que descobriu "Sorrisos de Uma Noite de Amor" O resto é história. Em 1960, Bergman ganhou seu primeiro Oscar, por "A Fonte da Donzela". Ele recebeu mais três prêmios da Academia de Hollywood, um recorde, e, em 1995, Cannes lhe outorgou a Palma das Palmas, instituída para comemorar o centenário do cinema.
Bergman sempre foi atraído pelo universo feminino. O roteiro original de "Sonhos de Mulheres" previa três histórias. Ele filmou duas, com personagens (uma modelo e uma fotógrafa) que pertencem ao mundo da moda. "Sonhos" faz o que não deixam de ser pesquisas de imagem e som, oferece um belo papel a Eva Dahlbeck, mas o mais curioso é comparar o mundo da moda, visto por Bergman, com o de Michelangelo Antonioni em "As Amigas", também de 1955 (e lançado em DVD, pela Versátil, no País).