A atriz Carolina Kasting esboça um sorriso tímido ao admitir que também já teve os seus dias de professora Mariquinha. Ela tinha acabado de se formar no Teatro Escola Célia Helena, uma das mais conceituadas de São Paulo, quando foi convidada, pela própria fundadora do curso, a dar aulas de preparação corporal para atores. “Ah, eu daria uma nota bem baixa para mim como professora. Eu não tinha muita experiência. Para você dar aula, você tem de ter o que ensinar e, principalmente, saber como ensinar”, analisa. Por isso mesmo, Carolina Kasting admira tanto a atual personagem.
No “remake” de Cabocla, Mariquinha assume a árdua tarefa de dar aulas para crianças na única escola de Vila da Mata. “Acredito muito que, modificando a cabeça dessas crianças, as professoras também podem modificar um pouco o futuro delas. A gente nunca sabe…”, divaga.
Na hora de compor a personagem, Carolina Kasting foi buscar inspiração nas muitas professoras que conheceu nos colégios de Florianópolis, onde nasceu. Entre as favoritas, reverencia Sandra Nolla, uma das responsáveis por sua formação de balé clássico, dos seis aos 14 anos. “Mas tive também umas péssimas, terríveis mesmo, que usavam varetinha para ensinar a gente”, entrega.
Generosa
Mas a Mariquinha, de Cabocla, não é do tipo que usa palmatória ou põe de castigo. Muito pelo contrário. A doce professorinha da novela das seis tem sempre uma palavra de incentivo a dar ou um ombro amigo a oferecer para quem quer que seja. Nem que seja para o peão Tobias, o eterno amor de sua vida, interpretado por Malvino Salvador, que vive suspirando pela caboclinha Zuca, de Vanessa Giácomo… “A Mariquinha é boa e generosa simplesmente por ser. Ela nunca espera nada em troca. A generosidade dela é encantadora!”, derrama-se.
Tanta generosidade, porém, não será em vão. Se as responsáveis pelo “remake” de Cabocla, Edilene e Edmara Barbosa, não alterarem o desfecho da personagem, Mariquinha termina mesmo ao lado de Tobias. “O bacana de fazer um ‘remake’ é acreditar que a nova versão pode ficar tão boa quanto, ou, quem sabe, até melhor que a original”, observa. Independentemente do desfecho de Mariquinha, Carolina Kasting se diz satisfeita simplesmente por estar trabalhando novamente com Benedito Ruy Barbosa. Do mesmo autor, ela fez Terra Nostra, atualmente em cartaz no Vale a Pena Ver de Novo. Na trama exibida em 1999, a atriz interpretou a dissimulada Rosana, uma das filhas do “todo-poderoso” Gumercindo, de Antônio Fagundes. “Ao contrário da Mariquinha, a Rosana possuía uma certa safadeza, um caráter duvidoso. Tanto que mentiu que perdeu a virgindade com o Mateo só para se casar com ele”, lembra, referindo-se ao personagem de Thiago Lacerda.
Em Cabocla, Carolina volta a trabalhar também com o diretor Ricardo Waddington. Juntos, os dois fizeram Anjo de Mim, que marcou a estréia da atriz na tevê, em 1996, Presença de Anita, Coração de Estudante e Mulheres Apaixonadas. “É uma história muito bonita, de competência e profissionalismo.
Aos 28 anos, Carolina Kasting garante não ter preferências por esse ou aquele personagem. O mais importante, ressalva ela, é continuar alternando tipos: românticos, vilanescos, urbanos, rurais… “Não gosto de pensar a minha carreira como uma paixão que acaba rápido. Prefiro imaginá-la como uma relação mais estável, duradoura, quase um casamento”, compara a atriz.
Passagem pelo Teatro Guaíra
Para realizar o sonho de ser bailarina, a catarinense Carolina Kasting foi capaz de tudo. Até sair da casa dos pais em Florianópolis, com apenas 14 anos, e mudar-se para Curitiba. Aqui, passou a morar em pensionatos enquanto integrava o corpo de balé do Teatro Guaíra. Mais adiante, aos 19 anos, já decidida a tornar-se atriz, Carolina mudou-se de novo. Dessa vez, para São Paulo. “Saí de Curitiba para ganhar o mundo. Sofri muito com a solidão, mas acho que todo adolescente sofre muito com a solidão”, minimiza, com balançar de ombros.
A estréia na Globo aconteceu em 1996, quando ela interpretou a Valentina de Anjo de Mim, de Walter Negrão. Dois anos depois, já integrava o elenco da minissérie Hilda Furacão, de Glória Perez, onde se destacou como a Bela B. Não demorou muito para Carolina Kasting protagonizar sua primeira novela: Brida, na extinta Manchete. Com a falência da emissora, a novela foi retirada do ar antes do final. “Costumo dizer que fui a única beneficiada com Brida. Afinal, tive a chance de trabalhar com Walter Avancini”, orgulha-se.
Depois do fiasco de Brida, Carolina Kasting voltou à Globo em 1999, quando interpretou uma noviça tresloucada em Malhação. Em seguida, trabalhou com os mais diferentes autores.
Dança, teatro e cinema…
# Entre a dança e o teatro, Carolina Kasting viveu também uma experiência marcante como modelo. Aos 15 anos, ela ficou entre as finalistas do Look of the Year, um dos concursos de beleza mais badalados do Brasil.
# Carolina Kasting não é a única atriz da família. A irmã, Rejane Arruda, cinco anos mais velha, atuou nas novelas O Cravo e a Rosa, da Globo, e Jamais te Esquecerei, do SBT.
# A primeira e única experiência de Carolina Kasting no cinema foi no filme Sonhos Tropicais, de André Sturm, em 2001.
# Em 2001, Letícia Spiller era o nome mais cotado para interpretar o papel da desequilibrada Mariana em Coração de Estudante, de Emanuel Jacobina. Com a recusa da atriz de fazer a novela, o diretor Ricardo Waddington teve de recorrer, às pressas, a Carolina Kasting.
# Carolina Kasting conheceu o atual marido, o ator e diretor de arte paulistano Maurício Grecco, de 37 anos, no espetáculo Alice Através do Espelho, de Lewis Carroll, encenado em 1999.