?Nem mar, nem montanha. Do oceano, sabe-se que está ali pertinho, imenso azul. A serra é o que se vê, grande sentinela silenciosa. Entre as duas imponências, assentada sobre as ondulações suaves que lhe deram nome, está Morretes, com seu casario baixo e branco debruçado sobre o rio.? Assim começa a descrição que circunda fotografias das belas paisagens da pequena cidade litorânea paranaense no livro Morretes, meu pé de serra. A jornalista Teresa Urban e o fotógrafo Nego Miranda retomaram a história, captaram os cenários históricos e naturais, retrataram a vida cotidiana e a integração das pessoas com a natureza e uniram o trabalho no livro, que será lançado no próximo dia 7.
O texto descritivo mesclado com poético é o tom usado por Teresa para ?contar? a cidade de cerca de 15 mil habitantes. ?Há alguma coisa muito sedutora nessa cidade. Há uma integração perfeita entre as pessoas. É um local onde não há pressa, onde as pessoas se conhecem, se dizem bom dia com alegria?, contou Teresa, ao explicar a razão da escolha de Morretes como tema do livro. ?A cidade devolve a delicadeza que se perdeu entre as pessoas, que se perdeu nas grandes cidades?, completou. Este é o segundo livro que a jornalista e o fotógrafo produzem em conjunto. ?Escolho sempre temas paranaenses porque o Paraná é muito desconhecido do resto do Brasil?, explicou Miranda.
Morretes, meu pé de serra traz 160 fotos, selecionadas entre cerca de 2,5 mil, de inúmeras paisagens naturais, como a Serra do Mar, o Rio Nhundiaquara, o Caminho Itupava e a Estrada do Anhaia, da arquitetura histórica, que mostra a Igreja São Sebastião do Porto de Cima e a Rua General Carneiro, e de diversos personagens, todos retratados em preto e branco em seu habitat. A intenção é que as fotografias contem a histórias dessas pessoas. ?Eu pretendia fazer os retratos em preto e branco e as paisagens coloridas. Mas não resisti e coloquei algumas paisagens em preto e branco também?, contou Miranda. Dos quatro livros já publicados pelo fotógrafo, este é o primeiro que usa cores nas fotos.
Morretes: bicicletas e cachaça
?A bicicleta ganhou espaço porque é o meio de transporte local. E não é questão de classe social, é hábito mesmo. Eles dão até nome para as bicicletas?, contou Teresa. A afirmação justifica as 24 fotos de ciclistas no capítulo Morretenses e morretianos. Aliás, o nome do capítulo, explicou a autora, é porque existe uma discussão de como devem ser chamadas as pessoas que nascem na cidade. ?Morretense é quem nasce lá. Já morretiano é quem adota a cidade?, concluiu a autora em suas entrevistas.
A cachaça, produto típico de Morretes, tem seu registro no livro. A autora conta até que a palavra ?morretiana? significa cachaça na língua portuguesa. O capítulo Cachaça substantivo feminino mostra a produção da bebida. ?O nome é porque tem muitas mulheres produzindo. Andando pelos engenhos encontramos só mulheres e isso por si só virou um fato relevante. E tem até história sobre isso. Existe uma lenda que diz que as mulheres estragavam a cachaça quando produziam durante o período menstrual?, contou Teresa.
Exposição
O lançamento do livro vai ser no Espaço Cultural BRDE – Palacete dos Leões, em Curitiba, no próximo dia 7. Miranda vai expor 30 das 160 fotos do livro até o dia 27 no Espaço. Segundo o fotógrafo, o livro levou um ano para ser produzido e contou com o apoio da Lei Rouanet, de incentivo à cultura, e da Triteck.