Pânico já provoca riso amarelo

De todos os gêneros, talvez seja o humor o mais efêmero. Poucas piadas mantêm a graça depois de conhecidas, poucas comédias podem ser repetidamente vistas e obter o mesmo impacto da primeira apresentação. Pânico na TV, que a Rede TV! apresenta domingo, ao vivo, também demonstra sinais desse envelhecimento precoce. Na base do humor, há sempre um componente de surpresa, de inusitado, que torna a experiência do riso em uma descoberta do que há de convencionalismo ou irracional nas relações humanas. Essa quebra de expectativas é que transforma um escorregão numa casca de banana em algo risível.

Pânico na TV surgiu, em 2003, na Rede TV!. Como tem acontecido há décadas na televisão brasileira, foi o rádio que criou e preparou esses artistas. A agilidade do rádio deu ao elenco o jogo de cintura necessário para criar uma produção debochada, inventiva e com um humor rápido e agressivo bem ao gosto dos adolescentes. O programa continua a ser exibido pela Rádio Jovem Pan e ainda alimenta seu desdobramento televisivo, com quadros e entrevistas.

Pânico na TV levou ao ar uma descontração que fazia falta à tevê. No lugar da linguagem burocratizada dos jornalísticos e da empostação e da artificialidade da dramaturgia, o programa baseava-se no improviso, na galhofa, no bizarro e na imitação grotesca de celebridades. Emílio Surita, criador do programa, Wellington Muniz, o Ceará, Sabrina Sato, a Japa, Marcos Chiesa, o Bola, Carlos Alberto da Silva, o Mendigo, Rodrigo Scarpa, o repórter Vesgo, Vinicius Vieira, o Mano Quietinho, Daniele Souza, a Mulher-Samambaia, e a Panicat Tânia Oliveira conquistaram uma audiência em torno de seis pontos a cada domingo. Recentemente o programa chegou ao segundo lugar de audiência, com pico de 16 pontos por dez minutos, ao apresentar a entrevista exclusiva com Silvio Santos, o verdadeiro, em Los Angeles.

O sucesso deveria indicar o auge do programa. Mas a repetição de personagens e situações leva ao cansaço e à falta de imaginação e o que era improviso transforma-se em fórmula. É importante notar que a produção do programa sempre busca novas atrações e novos quadros e personagens, embora nem sempre com sucesso. Com o tempo, a criativa exploração de estereótipos como a mulher-burra, a mulher-objeto, o mendigo, o carioca perde a contundência e os estereótipos acabam reduzidos àquilo que vinham ironizar. O admirável festival de grosserias com artistas na entrada de festas protagonizado pelo repórter Vesgo perde o caráter transgressivo e se torna apenas grosseria. Assim como as intermináveis aventuras de Sabrina sobre avestruzes, em balões de gás ou dentro de esgotos.

O humor só vive por um breve momento, como comprovam os mausoléus do riso no qual se tornam a maioria dos programas humorísticos televisivos. Wellington Muniz, o melhor dos imitadores do programa, acaba de conseguir renovar a autorização de Silvio Santos para continuar a imitá-lo. Durante algum tempo pode atrair o público, mas um bom artista merece mais do que servir a um único personagem. Renovar também quer dizer rejuvenescer.

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