Onofre Pinto, quarto da esquerda para a direita, foi um dos presos políticos trocados pelo embaixadior americano, Charles Elbrick, sequestrado em 4 de setembro de 1969. Com os punhos cerrados, José Dirceu. |
O difícil período da ditadura militar vem sendo cada vez mais abordado pela imprensa e literatura. Mesmo após a Anistia, em 1979, arquivos confidenciais, pessoas envolvidas em torturas e execuções passaram muito tempo calados. Pudera, o horror foi grande, mas precisa ser esclarecido. Com essa idéia o ex-revolucionário e jornalista Aluízio Palmar publica pela Travessa dos Editores o livro Onde foi que vocês enterraram nossos mortos?. Em um relato completo de quem sofreu na pele as calamidades impostas pela repressão, o autor relembra momentos de assombro com um único objetivo: encontrar os restos mortais do último grupo revolucionário ativo, formado por seis companheiros.
Segundo Palmar, sua intenção não é outra senão resgatar um pedaço importante da história nacional. ?As famílias dessas pessoas e a história merecem saber o que aconteceu com os desaparecidos do período militar?, afirma. Em um livro-reportagem o jornalista incansável vasculha arquivos, documentos antigos, e o mais importante, vai atrás de pessoas ligadas aos desaparecidos, em busca do local onde seis integrantes do último grupo de revolucionários ativo foi assassinado na fase final da Operação Juriti. São eles: Joel José de Carvalho, Daniel de Carvalho, José Lavéchia, Víctor Ramos, Enrique Ruggia e Onofre Pinto. ?Os seis foram atraídos pelo ex-sargento Alberi Vieira dos Santos para uma emboscada dentro do Parque Nacional do Iguaçu?, conta Palmar. Naquele tempo, o Centro de Inteligência do Exército infiltrava agentes dentro dos grupos revolucionários para armadilhas fatais.
Aluízio Palmar publica Onde foi que enterram os mortos? |
Ao longo da narrativa em 1ª pessoa, o autor relembra a conjetura política, o período de exílio, as torturas e sua busca por informações, muitas vezes desconexas e com pistas falsas, que tornaram seu trabalho tão difícil quanto achar uma agulha num palheiro. Fundador e líder do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR8), Aluízio Palmar foi preso em 1969 e libertado em 1971 mediante troca pelo então embaixador da Suíça no Brasil, Giovanni Enrico Bucher.
?A busca pelos corpos é mais difícil do que se imagina, mesmo hoje em dia algumas pessoas que têm informações vitais têm medo de falar, o que é um prejuízo irreparável para a história do País?, afirma. Segundo Palmar, na região oeste do Estado existe um clima de assombro quando se pesquisa o assunto a fundo. ?Fui motivado a continuar com as buscas quando um sujeito do Rio Grande do Sul me passou a localização do sítio onde Alberi levou o pessoal. Na região localizei a família do Alberi, e seu primo acabou me falando de uma sétima pessoa, peça fundamental em minha busca?. Essa nova pessoa se tratava de um taxista que conduziu Alberi e os seis rumo ao local onde foram mortos. Segundo Palmar, o motorista foi contatado pela Polícia Federal e indicou o lugar onde a cilada foi armada. ?A polícia, geólogos, biólogos do Ibama, antropólogos, eu e outros profissionais fomos ao local mas até agora nada foi encontrado. O motorista não sabe dizer o local exato onde os corpos foram enterrados?, conta.
Ao longo das 366 páginas, Aluízio Palmar relata detalhes sobre a armadilha, a forma como aconteceu a chacina e outros dados que se comovem o leitor com o passado chocante, também alertam para um período nebuloso que mostra uma verdade obscura mesmo após 26 anos da Anistia. ?Até hoje o Exército não abre seus arquivos sobre aquele período triste de nossa história. As pessoas que possuem informações, muitas delas no Paraná, inclusive em Curitiba, devem se manifestar pois a questão é de importância humanitária?, afirma.