Homenageado do CineSul, Eliseo Subiela mostrou domingo (9), no Rio, seu filme mais recente. Paisajes Devorados foi exibido no Centro Cultural Banco do Brasil. Após a exibição, houve debate com o diretor argentino. Subiela, autor de filmes que se tornaram referências – como Hombre Mirando al Sudeste e O Lado Escuro do Coração -, pegou carona em Violeta Parra, o que foi bastante apropriado num evento de audiovisual ibero-americano. Um dos grandes sucessos da cantora e compositora é Volver a los 17. Subiela diz que se sentia de volta aos seus 17 anos.

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“Tinha esta idade quando fiz meu primeiro curta, que já se passava num instituto psiquiátrico de Buenos Aires. Aos 37, voltei ao mesmo local para fazer Hombre Mirando al Sudeste e, agora, 20 anos depois, fiz ali meu terceiro filme, Paisagens Devoradas. Não sei se terei coragem de voltar aos 77. Daqui a 20 anos, talvez não me deixem sair”, brincou o diretor. Ele desistiu de entender o motivo, mas loucura, morte e sexo são temas que o perseguem. “Todos os meus filmes tratam disso”, resume.

Num texto especial para o catálogo do CineSul – que você encontra em www.eliseosubiela.com -, o cineasta lembra o cinema de bairro em que via faroestes e filmes de guerra. Via, é modo de dizer. Quase sempre ia com a namorada e passava mais tempo se beijando do que com o olho na tela. Como sempre, a origem de Paisajes é obscura. “O filme é um falso documentário sobre três estudantes de cinema que realizam seu trabalho de conclusão de curso com o interno de um manicômio. Ele se chama Rémoro e, no passado, pode ter sido, ou foi, um famoso diretor cuja obra se perdeu num incêndio e, agora, ressurge pelo olhar dos jovens.”

Subiela fez o filme com alunos de sua escola de cinema. Usou tecnologia digital. Dinheiro? “Não tínhamos.” Ele admite que nunca teve um ator na manga para o papel. Rémoro é interpretado por uma das lendas do cinema latino-americano, Fernando Birri. Nos anos 1950 e 60, por meio de curtas como Tiredié e longas como Los Inundados, ele iniciou uma nova forma de mesclar ficção, documentário e poesia. Fundou o Instituto de Cinematografia da Universidade do Litoral, em Santa Fé, na Argentina, e foi um dos artífices da Escola de Cine de Los Baños, em Cuba. Subiela nem teria dinheiro para trazer Birri, que vive em Roma, mas calhou de ele estar em Santa Fé e gostar do roteiro.

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“Seria um filme bem mais simples de fazer se Fernando não fosse tão exato com o diálogo que escrevi. Se trocava uma palavra, ele já queria repetir a cena.” O que Birri diz e Subiela escreveu não deixa de ser uma súmula do pensamento cinematográfico dos dois. ‘Cinema é sonho’, ‘A vida é o roteiro que não logramos filmar.’ Numa cena, Birri assiste, numa parede branca, a um filme feito sem câmera, que só ele vê. E chora, e ri, porque o cinema, como diz, tem essa capacidade de envolver as pessoas. Impossível imaginar o filme sem Birri. “Ele é mais louco que o personagem”, diz Subiela, com carinho. O filme estreia em julho na Argentina.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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