Quando o porteiro interfona dizendo a frase mágica “a Taba chegou”, começa a agitação entre as irmãs Dora, 10 anos, e Helena, 9. “Elas saem correndo porque estão na expectativa para saber qual é o livro da vez”, conta Beatriz Gouveia, a mãe. As meninas confirmam: “Dá uma ansiedade muito grande porque todos os livros que mandam são muito legais”, diz Dora. A caçula faz eco: “Também fico muito ansiosa e quando chega a gente lê muito rápido, descobre muitas coisas e no outro mês já vem outro. É muito legal. E, enquanto não chega outro, eu leio de novo porque fico muito interessada.” A cena se repete na casa do Mateus, de 4 anos. “O livro chega embrulhado com o nome dele. Ele fica todo eufórico e curioso para saber o que é dessa vez. E vai tentando abrir, rasgando o papel e se perguntando: ‘O que será agora?’, conta Gisele de Andrade, mãe do garoto.
Livros não são nenhuma novidade para as crianças dessas duas famílias – o incentivo à leitura sempre foi uma prioridade. O que mudou de alguns meses para cá foi a forma como esses livros passaram a ser escolhidos e foram parar na biblioteca de Dora, Helena e Mateus. Os três fazem parte do Clube de Leitores promovido pela livraria virtual A Taba, o mais recente serviço de assinatura de livros infantis e juvenis do país – os outros dois são o Leiturinha, lançado em maio de 2014, e o Booxs, de outubro.
Pela rotina que cria, a proposta dos projetos lembra um pouco o antigo Círculo do Livro, que prestou um importante serviço entre os anos 1970 e 1990 especialmente para leitores que não contavam com uma livraria em sua cidade – ainda hoje uma realidade para muitos brasileiros. O modelo, no entanto, está mais para o de assinatura de vinho e cerveja.
A cada mês, os clubes mandam para seus associados, dependendo do plano e da empresa, um ou dois títulos – selecionados por especialistas (professores, pedagogos, psicólogos, contadores de história, etc.) que avaliam os lançamentos editoriais e resgatam volumes que já não estão mais em destaque nas livrarias. Junto, são enviados cartas e folhetos que pretendem ajudar a tirar melhor proveito da leitura. Os valores variam de R$ 29 a R$ 60 de acordo com o número de livros e a duração do contrato – e mais de 6 mil brasileiros já aderiram.
“Desde que o Mateus era bebê, eu incentivo a curiosidade dele pelo livro e o contato com o objeto, mas sempre tive dúvidas do que seria bom para ele. Então, eu conheci o serviço de consultoria deles no berçário. São livros muito bacanas e eu dificilmente colocaria os olhos neles numa livraria”, comenta Gisele, consultora de viagens corporativas. No canto de leitura que a família criou em casa, Mateus tem sua própria estante e se diverte com seu acervo. Às vezes, pede para os pais contarem uma história – no caso de Selou e Maya – Maya e Selou (SM) foram cinco vezes seguidas. Noutras, dispensa a ajuda e diz que vai “ler” sozinho.
Os livros enviados ficam expostos no site da Taba e qualquer um poderia usar a dica e comprar na livraria mais próxima ou na mais barata – por ser pequena, a Taba não consegue os mesmos descontos que as editoras dão para as grandes redes. O valor da assinatura é um pouco mais alto do que o valor do livro em si. “Mas às vezes o barato sai caro”, diz Beatriz, que trabalha com educação e assinou o serviço para as duas filhas que, apesar da idade parecida, estão em categorias diferentes. “A seleção é muito criteriosa e em geral não conseguiríamos escolher tão bem”, diz. Ela comenta ainda sobre o mapa de exploração do livro, material preparado pelos curadores que, como ela coloca, “ajuda o leitor a ver uma camada a mais, a avançar na compreensão leitora”.
Enquanto Leiturinha (0 a 7 anos) e Booxs (0 a 12 anos) apostam na divisão por faixa etária, a Taba se preocupa mais com o perfil das crianças, conhecido a partir de um questionado preenchido no momento da assinatura. Elas são, então, divididas em leitor iniciante, autônomo e experiente – a partir de maio haverá também a categoria bebê. Se vão ler sozinhos ou acompanhados é outra pergunta a ser respondida. E, por fim, os pais escolhem três “tipos” de livros (para se divertir, se emocionar, conversar sobre assuntos difíceis, viajar para mundos fantásticos, pensar na vida, etc.). Esse cuidado com o perfil do leitor vem da experiência da idealizadora da Taba, Denise Guilherme Viotto, ex-professora que trabalha como consultora na área de formação de leitores e de mediadores de leitura, e que sabe que a escolha de um livro vai além de critérios como idade e sexo.
“Perguntar a idade da criança e se é menino ou menina são coisas que sempre me incomodaram. Quero saber quem é essa criança, o que ela quer do livro”, diz.
Seu clube de leitura é a terceira etapa de um projeto iniciado em 2011 quando, durante um desses trabalhos com mediadores de leitura no interior do Espírito Santo, Tocantins e Mato Grosso, que previa a criação de um diário de leitura, ela teve a ideia de fazer um blog com esse conteúdo. “Eu ia lendo e comentando os livros lá e percebi que as pessoas que acompanhavam o blog não tinham acesso a esses livros e pediam para eu comprar e levar para elas. Virei meio caixeira viajante”, brinca. Notou ainda que os posts mais acessados eram aqueles sobre literatura infantil e viu ali uma oportunidade.
Pesquisou, levantou tudo o que havia sido publicado para crianças e adolescentes, reuniu um grupo e a equipe resenhou os melhores títulos – disponíveis ou fora de catálogo.
O blog A Taba foi lançado no final de 2013. Em agosto do ano seguinte, foi inaugurada uma livraria virtual, com títulos escolhidos pelo conselho curador. “A ideia sempre foi que a livraria fosse um apoio do blog, e não o contrário”, diz. Hoje são 1.600 livros cadastrados e resenhados – e a cada mês 30 títulos são incluídos. O serviço de assinatura, que inclui ainda fóruns online e é feito de forma independente, e não em parceria com editoras, começou pra valer no fim do ano. Entre as editoras que já tiveram livros selecionados para o clube estão Pequena Zahar, SM, Pulo do Gato e Cosac Naify.
Com 55 participantes até agora, ele tem concorrentes de peso – porque chegaram antes ou porque puderam investir mais. As propostas são similares, mas há diferença na qualidade dos livros escolhidos e do material preparado. Pioneiro, o Leiturinhas, criado por três sócios da área de tecnologia da informação e que investe bastante em marketing digital, já conta com 5 mil assinantes e outros mil para a versão digital do serviço, que custa R$ 12,90 por mês. Entre as editoras parceiras, destacam, no site, a Ciranda Cultural e Vale das Letras. Já a Booxs, que trabalha com editoras variadas e cujos sócios vêm da distribuidora de livros Books Online e da agência de publicidade Just, tem 350 assinantes.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.