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Escrever novelas a partir de uma obra da literatura é como começar uma escultura com o molde pronto. Fica mais fácil agregar histórias e personagens. Mesmo assim, alguns autores televisivos chegam a ?remoldar? obras inteiras. Outros preferem se inspirar num personagem ou até mesmo fundir várias obras do mesmo autor. Esse é o caso de Aimar Labaki, que assina Paixões Proibidas, trama adaptada de Amor de Perdição, O Livro Negro do Padre Dinis e Mistérios de Lisboa, obras do português Camilo Castello Branco. A Band pediu a Aimar apenas a adaptação de Amor de Perdição, mas o autor sugeriu costurar mais dois romances. ?Neste tipo de trabalho o autor precisa se concentrar primeiro na reconstituição da época e do texto. É mais fácil fazer a transposição numa minissérie, com menos capítulos?, explica Aimar.

Já Marcílio Moraes, que está no ar com Vidas Opostas, na Record, garante que o truque é não ficar totalmente preso à obra literária, mas utilizá-la parcialmente na trama. Dessa forma, Marcílio inseriu na trama naturalista uma parte da peça teatral FuenteOvejuna, do escritor espanhol, Lope de Vega. O autor brasileiro transpôs a rebelião de vassalos no século XVI para uma favela carioca, onde os moradores se revoltam contra policiais corruptos. ?O autor que quiser apenas ?traduzir? o livro para as cenas vai se dar mal. É necessário entender profundamente as questões que se vai abordar para ter novos caminhos na criação de personagens e histórias?, ensina Marcílio.

Luiz Fernando Carvalho, por exemplo, tem uma visível queda pela literatura. Já dirigiu Os Maias, uma adaptação do romance homônimo de Eça de Queiroz e agora grava no sertão da Paraíba A Pedra do Reino. A microssérie da Globo, também adaptada por ele e baseada na obra de Ariano Suassuna, tem estréia prevista para o primeiro semestre de 2007. ?Se tivesse de salvar apenas uma obra minha, seria essa. Já fiquei até desgostoso com ela, mas vendo o que está sendo feito com meu livro, parece que a história realmente presta?, brinca Ariano. ?Numa obra é importante reunir reflexões, emoções e o riso, coisas necessárias ao país?, filosofa Luiz Fernando.

Walcyr Carrasco, um mestre do riso nas telenovelas, construiu uma novela hilariante se inspirando no clássico A Megera Domada, de William Shakespeare, ao escrever O Cravo e A Rosa para o horário das seis da Globo. ?É importante sentir a magia da obra para adaptar e saber passar esse clima para o público. Caso contrário, não dá certo?, assegura Walcyr. Lauro César Muniz concorda com as idéias de Walcyr. Para Lauro, que planeja adaptar Hamlet, de William Shakespeare, em uma novela, é necessário uma identificação do autor com o tema e não simplesmente aceitar encomendas da emissora em que se trabalha. ?Isso acontece muito e gera adaptações sem alma. Uma vez me propuseram uma adaptação de um livro católico sobre Nossa Senhora. Se irritaram quando eu me neguei a fazer. Logo eu, um materialista e ateu convicto!?, espanta-se Lauro, que adaptou obras como As Pupilas do Senhor Reitor, de Júlio Diniz, e São Bernardo, de Graciliano Ramos, entre outras.

Enquanto alguns autores se deliciam ao recordar suas obras adaptadas, outros preferem nem falar mais no assunto. Gilberto Braga, por exemplo, autor da próxima novela das oito da Globo, Paraíso Tropical, fez muito sucesso na adaptação de A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães, em 1976, além de adaptar obras como Helena, de Machado de Assis, em 1975, e Senhora, de José de Alencar, no mesmo ano. ?Não aguento mais falar em adaptações. Mas é interessante fazer o povo analisar, refletir e aprender principalmente com os clássicos?, constata Gilberto.

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