Conta a lenda que o próprio Joaquín Rodrigo, presente na gravação de seu Concierto de Aranjuez, teria dito que ninguém tocara a peça com tanta intensidade e paixão como Paco de Lucía. Em 1991, quando gravou o Concerto, Paco já era considerado o grande revolucionário do flamenco e em sua discografia havia joias raras – 12 Canções de García Lorca, para guitarra, e um outro álbum em que interpretava Manuel de Falla.

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Costuma-se dizer que o flamenco capta a alma da Espanha como o fado, a de Portugal e o samba, a do Brasil. Identificado com a região de Andaluzia, o flamenco não é só uma música, mas também uma dança. Suas origens remontam a diferentes culturas – cigana, mourisca, árabe e judaica. É um produto impuro, da miscigenação. Começou só cantada, depois veio o acompanhamento de violão ou guitarra e, finalmente, o baile. Existe flamenco sem canto, mas sem toque e baile é difícil. É muito cinematográfico, e o cinema muitas vezes fez apelo a Paco de Lucía.

Ele apareceu em Carmen, a adaptação da tragédia clássica do ciúme (de Prosper Mérimée e Georges Bizet) por Carlos Saura. Antes disso, tocara em Bodas de Sangue, também de Saura, baseado em Lorca. Ainda colaboraria com ele em Sevillanas.

Foram muitas trilhas – para Stephen Frears (The Hit), Woody Allen (Vicky Cristina Barcelona) e até Quentin Tarantino – Malagueña Salerosa, em Kill Bill. Em 2004, Paco de Lucía recebeu o prêmio Príncipe de Astúrias por sua contribuição à arte da Espanha. Como artista, permanecia enraizado na tradição, mas buscava novos territórios. Em 2010, o flamenco foi declarado patrimônio da humanidade pela Unesco. Na tela e no tablado, Paco contribuiu para esse reconhecimento. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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