Pedro Paulo Figueiredo/Carta Z Notícias |
Paulo César Pereio: "É preciso acabar com ditadura do erro". |
Como ator, Paulo César Pereio é um ícone do cinema nacional. Sempre que se pensava em um personagem irônico, irreverente e desleixado, o nome dele vinha à baila. Um programa de entrevistas comandado por ele na tevê não tinha como fugir dessas características. E ele é o Sem Frescura, já há três anos no ar pelo Canal Brasil. Nele, Pereio fala o que lhe vem à cabeça, sem se incomodar com possíveis "tropeços".
O ator/entrevistador, na verdade, se esforça para fugir às regras e fórmulas normais dos "talk-shows" e transformar sempre as conversas em bate-papos informais. "Precisamos de ousadia. Não me importo em errar porque se eliminamos o erro, a gente não acerta nunca. É preciso acabar com a ditadura do erro", apregoa.
P – No Sem Frescura, há muito improviso e entrevistas bem informais. Ou seja: o oposto do que costuma acontecer nos programas de entrevista…
R – Temos um formato realmente bem diferente dos "talk-shows" convencionais. E esse é o barato. O que dá mais certo no programa é esta procura pela contradição, quero a ousadia, gosto de polêmica. Não sigo roteiros ou pauta previamente definida e não me importo se, por acaso, "tropeçar" durante a entrevista, o que não acontece com programas do gênero. Atualmente existe uma "convenção" de que a gente não pode errar. Então, coloca-se o erro no poder, passa-se a sofrer a ditadura do erro. Por conseguinte, você também não acerta nunca. Fica tudo como uma linha pontilhada que deve ser seguida à risca. Para mim, o erro é Deus e temos de ir atrás dele para acertar. É preciso não ter medo.
P – Mesmo sem se preocupar com eventuais deslizes, algumas entrevistas podem não render o esperado…
R – É claro. Existem as entrevistas que dão um ótimo bate-papo e outras que não. Na conversa com a Martha Medeiros, que escreveu a peça O Divã e está em cartaz há muito tempo, por exemplo, pintou uma antipatia mútua. Nada funcionou. Meu senso de mau humor, de "escrotidão", não deu com o dela. Uma pena. Mas isso acontece, faz parte do jogo. Nem sempre a gente acerta na escolha dos convidados.
P – Os convidados são das mais variadas áreas do conhecimento. É você mesmo quem escolhe?
R – É fundamental que a pessoa que vai ao meu programa seja interessante. O objeto do programa é o meu convidado e ele tem de ter alguma coisa para falar. Primeiramente, procuro as pessoas que gosto. Mas já cumpri sem problemas a pauta da "casa" e da diretora, que é a minha filha Lara Velho. No início, quando me impunham determinadas pessoas que não concordava, reclamava. Mas, hoje, freqüentemente esses convidados sempre me ganham.
P – Não é a primeira vez que você apresenta um programa. No final da década de 70, você esteve à frente do Variety 60 Minutos, na Band. Foi uma experiência que não deu muito certo?
R – No início foi muito interessante, era ao vivo. Mas veio aquele negócio de não poder assumir o erro ao vivo. Errávamos e eu pedia desculpas. Mas a direção dizia que não podia fazer assim. Passaram a exigir que eu gravasse previamente o programa e dissesse que era ao vivo. Ora, não dava para enganar o público e não queria conviver com aquela hipocrisia.
P – Recentemente você fez uma participação em A Lua Me Disse, da Globo. Pensa em voltar a fazer novelas?
R – Prefiro entrar para o Exército a me engajar numa novela. Ficar oito, nove meses em função daquilo, com o mesmo personagem, não dá. Os textos também são muito parecidos e, em geral, fracos. Saem de uma consulta de marketing. Como até agora consegui me segurar sem fazer novelas, não preciso. Aliás, quero avisar: não me chamem para fazer novelas! Não me convidem, pois, quando me convidam, fico tentado a fazer, já que com o dinheiro posso fazer uma reforma no meu apartamento e isso vai me deixar num grande conflito. Por favor, não me chamem!
* Sem Frescura, Canal Brasil, 22h, terças-feiras.