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Otimista há 15 anos, trio Tribalistas volta preocupado com o caos

Calma, nem mesmo o irmão de Arnaldo Antunes sabia que ele estava, novamente, ao lado de Marisa Monte e Carlinhos Brown em uma nova empreitada musical sob a alcunha de Tribalistas. O novo trabalho do trio, gestado em segredo, chegou assim, de fininho, às plataformas digitais, a partir do primeiro minuto desta sexta-feira, 25. “Isso foi verdade. Meu irmão me perguntava: ‘E aí, tem alguma novidade?’. Eu dizia que não tinha nada, não’.”

O fato é que os Tribalistas voltaram de uma só vez, com um anúncio de supetão nas redes sociais de cada um dos três integrantes, com o aviso de que às 23h daquele dia, uma noite de quinta-feira, haveria um ao vivo no Facebook deles. E, pontualmente, lá estavam os Tribalistas, em formação, para apresentar quatro das dez canções que estão nesta segunda aventura musical de um trio que, como eles mesmo gostam de dizer, “nunca deixou de existir”.

São 15 anos entre os dois álbuns, ambos chamados de Tribalistas, aliás. Na época do lançamento do primeiro trabalho, Marisa, Carlinhos e Arnaldo também surgiram de surpresa, não deram entrevista e sequer embarcaram em turnê – fizeram somente um show, juntos, em Paris, em 2003.

Da mesma forma, ressurgiram agora. Cederam poucas entrevistas – o Estadão estava entre os veículos selecionados para falar com exclusividade com o trio -, mas uma turnê por enquanto só é rumor. No momento, o que existe é um disco e um DVD com imagens das gravações das músicas, uma registrada por dia, ao longo de dez canções.

Curioso, mesmo, é o fato de que nenhuma das ferramentas usadas pelos Tribalistas para divulgar seu retorno – Instagram, Facebook, live nas redes sociais – existiam há 15 anos. De repente, tudo está diferente e, mesmo assim, eles foram capazes manter a volta em completo sigilo.

Como se estivessem em um disco dos Tribalistas, Marisa, Arnaldo e Carlinhos entrelaçam suas vozes e ideias durante a entrevista. O último, em dado momento, decide deixar o sofá pomposo e vermelho onde estava acomodado, ao lado de Marisa, para se estatelar no chão, mesmo. Cada um, da sua maneira, é a voz. Por vezes, do grupo. Noutra, com suas particularidades, opinam sobre a nova safra de canções.

Dialogam como velhos conhecidos que são – mesmo durante o período no qual os Tribalistas estava “inativo”, por assim dizer, eles se reuniam.

“Não queríamos criar uma expectativa (a respeito de noticiar a gravação do álbum) para conseguir manter a surpresa”, diz Marisa. Arnaldo completa: “E essa expectativa já existia. Amigos e entrevistadores, mesmo. Todos perguntavam sobre o retorno, era inevitável”. A resposta era sempre misteriosa: os Tribalistas nunca deixaram de existir.

E há uma verdade nisso. Ao longo dos 15 anos que separam os discos número um e dois, os três não deixaram de se encontrar. E, cada encontro, garantem, gerava um punhado de canções. “É algo que apenas acontece”, conta Arnaldo. Carlinhos é quem completa. “O que eu mais gosto a respeito dos Tribalistas é a nossa total falta de noção”, ele afirma, com uma pausa para dar dramaticidade à sua frase, e prossegue: “Nossa total falta de noção a respeito dessa química que temos. Nos perguntam: ‘Que química é essa?’. E nós apenas não sabemos!”. Ao fim, Carlinhos e os dois companheiros de trio riem juntos.

Marisa gosta de tratar o período com os Tribalistas como férias – e, a verdade é que, na presença dos três, é possível perceber um afeto muito claro ali. O novo álbum nasceu de duas viagens dos três à Bahia de Carlinhos Brown. Em períodos curtos, de “quatro ou cinco dias”, lembra ainda Marisa.

Ao buscar as datas nas fotos clicadas durante as duas viagens e armazenadas no celular, ela se transformava numa metáfora das suas próprias canções. O novo Tribalistas, o disco, é um retrato desse tempo. Tal qual foi o álbum número um, criado e lançado em um momento de euforia no território nacional. Era 2002 e, veja só, o Brasil era o país do futuro, a Seleção Brasileira se tornaria pentacampeã mundial de futebol. Tudo era diferente. Agora, diante do contemporâneo e seu caos, os Tribalistas soam com mais austeridade, mesmo que mantenham certa leveza. “Não é que pensamos em fazer um disco que refletisse o hoje, mas essas questões estão nos nossos papos”, garante Marisa. Carlinhos, o mais eloquente dos três, contudo, encontra o resumo mais adequado à nova safra. “É um disco sobre amor.” Ou, é claro, sobre a ausência dele.

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