Osmar Prado tem roubado a cena como o indiano Manu, em Caminho das índias. Na novela das oito da Globo, ele é pai da mocinha Maya, de Juliana Paes. Mas protagoniza momentos realmente hilários ao lado da esposa Kochi, interpretada por Nivea Maria, e tentando levar a melhor em seus acordos comerciais. “Tudo o que acontece de bom é porque ele é inteligente. Já quando algo ruim acontece, foi a mulher que errou”, resume Osmar, aos risos.
Com 50 anos de carreira, o veterano vive a expectativa de saber como Manu vai repercutir junto ao público. Para Osmar, quem destaca os grandes personagens de sua trajetória são os telespectadores. Entre os grandes sucessos está, por exemplo, Tabaco, do folhetim Roda de fogo, de 1986. “É o sonho de todo brasileiro ter três mulheres aos seus pés. Quem é que não sonha com isso?”, justifica o ator.
Mas o garanhão não foi o único. A ele somam-se ainda Tião Galinha, de Renascer, Barão de Araruna, em Sinhá Moça e até Clóvis Camargo, de Sangue do meu sangue, que ele fez no SBT. “A tevê é uma indústria, mas pode ser prazerosa para o ator. Para isso, ele tem de conseguir tocar as pessoas”, resume.
P – Glória Perez escreveu o Manu especialmente para você. Foi isso que te fez aceitar o convite, já que Ciranda de pedra ainda estava no ar quando foi chamado?
R – Caminho das índias é o meu terceiro trabalho com a Glória e sinto que ela escreve pensando em mim. Acho que ela já sabe das minhas potencialidades. O trabalho em Amazônia foi belíssimo e na novela O clone, o meu personagem Lobato teve muita repercussão. O que me seduziu no caso do Manu são as fragilidades dele e também suas espertezas como comerciante, o que o humaniza. Sem contar o fascínio da cultura indiana e o comportamento dos indianos. Mas eu me recusei a começar qualquer trabalho para o Manu enquanto não terminei Ciranda de pedra.
P – É por isso que você não participou dos workshops de preparação?
R – Isso mesmo. Meu trabalho é artesanal. Só no último dia de gravação como Cícero é que fui começar a pensar em Manu. Não ia menosprezar a novela das seis só porque estava indo para uma novela de horário nobre. A produção de Caminho das índias entendeu e a equipe de Ciranda de pedra agradeceu.
P – E o que você foi buscar depois para compor o Manu?
R – Vi alguns filmes que me foram indicados como Nome de família, de Mira Nair, e Gandhi, dirigido por Richard Attenborough. Também li Esta noite a liberdade, de Dominique Lapierre e Larry Collins, que fala sobre a independência da Índia. As informações sobre a cultura desse povo só vem enriquecer na composição. Mas acredito que todo ser humano tem um mundo interior muito vasto e todo personagem que você vai interpretar, a princípio, está dentro de você.
A relação de Manu com a esposa é interessante, ele é amoroso em seu universo familiar e é um conservador. A postura dele no comércio não deixa de ser uma vilania, já que ele comete pequenos atos de corrupção. E no momento em que ele descobre que o namorado da filha é um intocável, tem vontade de bater nela. Ele é muito humano.
O figurino também é determinante para a postura corporal do personagem. Faço o Manu com um comportamento bem reprimido, com o tom de voz controlado. É bem diferente dos italianos que já fiz, que colocam tudo para fora e berram mesmo.
P – Depois de colecionar alguns personagens de sucesso como Tabaco, de Roda de fogo, Sérgio Cabeleira, em Pedra sobre pedra e Tião Galinha, de Renascer, fica mais difícil selecionar papéis?
R – O fato de ter personagens bons na bagagem me dá mais credibilidade para que eu construa um novo personagem. Quanto mais trabalho, mais conhecimento adquiro e com mais rapidez alcanço um resultado. Meu prazer em toda essa his,tória é justamente apagar a personalidade de um personagem e começar outro, do zero.
Não tenho aquela ansiedade de saber que personagem vai vir em seguida de um grande trabalho. Eles vão surgindo. Quando terminei o Tião Galinha, que foi um estrondo, acabei saindo da Globo e indo para o SBT. Lá também fiz bastante sucesso em Éramos seis.
P – Você já deu declarações da relação atribulada que teve com a Globo nessa época. Como está sua situação com a emissora atualmente?
R – Depois de tantas idas e vindas, estou bem satisfeito e temos um bom diálogo. Acabei chegando ao ponto em que desejava chegar na hora certa. É o ponto da estabilidade. Em que você sente-se seguro com essa carreira e essa profissão, mas não se acomoda. Há outras emissoras fazendo teledramaturgia, o que é muito bom.
E quando a Globo soube que eu poderia ser assediado por uma delas, fizemos um novo acordo. Estamos juntos até pelo menos 2012 ou 2013. Mas a verdade é que a cada novo trabalho começa um novo jogo, tudo recomeça. Em uma novela você é um sucesso mas na próxima não sabe o que vai acontecer. O importante é a maneira como o seu personagem vai bater nas pessoas. Ainda não sei o que os telespectadores vão achar do Manu.
P – Como é a sua relação com o público?
R – Muita boa e respeitosa. As pessoas se lembram de muitos personagens e, como não sou um símbolo sexual, levo uma vida absolutamente normal (risos). É verdade que às vezes me confundem com o Stênio Garcia… Mas é uma honra ser confundido com ele, que foi uma das minhas referências no início da carreira.