Depois de olhar demais para fora nos últimos anos ansiando desesperadamente pelo reconhecimento internacional, a Osesp parece neste momento mais voltada para necessárias correções e ajustes em sua engrenagem interna, além de atentar para o seu público local. É o que mais ressalta na temporada 2015, que terá 36 diferentes programas sinfônicos e elegeu como tema Os Lugares da Música.

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Um movimento saudável. Finalmente, problemas crônicos parecem ter sido enfrentados. Os programas pesados demais, sem tempo adequado de ensaios, por exemplo, já não são maioria. Dois exemplos flagrantes: 1) o regente StéphaneDenève faz, em maio, um concerto onde na primeira parte se ouvirá a música de cinema de John Williams e Bernard Herrmann; e, depois do intervalo, a Sinfonia Fantástica de Berlioz; 2) Isaac Karabtchevsky terá duas semanas de ensaios para os monumentais Gurre-Lieder de Schoenberg, em setembro. Nota-se igualmente aumento do espaço para os músicos da casa.

O desfile de atrações internacionais continua apetitoso. Mas há distorções. Trazer o irrequieto KrystjanJärvi para reger um programa convencionalíssimo como a Abertura Carnaval de Dvorák, as Variações sobre uma canção húngara de Kodály e acompanhar Arnaldo Cohen no primeiro de Tchaikovsky é puro desperdício. Em compensação, será ótimo ver Louis Langrée reger Morte e transfiguração de Richard Strauss e a Sinfonia n.º 4 de Scriabin.

Boas as iniciativas de colocar os próprios músicos e maestros comentando as obras em palestras, a escolha do japonês ToruTakemitsu como compositor transversal e o ciclo Scriabin 100 anos. E será excelente ver em ação o compositor John Adams regendo suas obras – uma com o quarteto Osesp como solista – e regendo a Sinfonia n.º 7 de Beethoven.

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O ciclo Quem tem medo de Schoenberg apresenta, além dos Gurre-Lieder, o quarteto n.º 2, Noite Transfigurada e PierrotLunaire com os músicos da Osesp. É ótimo abrir espaço para Manuela Freua se testar no difícil Pierrot Lunaire e para Ricardo Bologna reger Takemitsu.

Vê-se a primeira luz no fim do túnel do capítulo encomendas: em 2015, acontece a primeira coencomenda justa da Osesp, com a Fundação Gulbenkian: a obra de Aylton Escobar estreia aqui e será levada em Portugal; depois uma obra de compositor português estreia lá e será trazida pra cá. Deveria ser a regra, mas é exceção. As demais – como a de Dalbavie em parceria com a Orquestra de Paris e Filarmônica de Londres – não têm contrapartida, só dão direito à Osesp de fazer a estreia latino-americana.

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São cinco as encomendas a brasileiros, mas apenas uma, a do baiano Paulo Costa Lima, é para orquestra (sem contar o habitué André Mehmari). As demais são para coro (Aurélio Edler Copes), quinteto de sopros (o veterano do frevo Clóvis Pereira) e quarteto de cordas (Antonio Ribeiro). Afinal, a uma orquestra brasileira caberia viabilizar a criação de novas obras brasileiras para… orquestra. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.