Cinema

Oscar será polêmico, com boas disputas e ausência de negros

Talvez nem tanto pelos filmes em disputa, mas teremos um Oscar nada banal este ano. Ele ficará marcado pela ausência de negros entre os concorrentes, o que ocasionou protestos e defecções. Spike Lee e Will Smith e sua mulher, Jada Pinkett Smith, disseram que não vão à cerimônia. A própria presidente da Academia de Hollywood, a afrodescendente Cheryl Boone Isaacs, confessou-se frustrada com as indicações.

A história toda, como era inevitável, teria de gerar algum comentário infeliz, e a atriz britânica Charlotte Rampling (indicada por 45 Anos) não deixou passar a ocasião. Ponderou que talvez os atores negros não merecessem mesmo ser indicados e ajuntou que no futuro seria preciso criar uma cota para brancos. Como se brancos e bem nascidos precisassem de cotas neste nosso mundo. Bobagens à parte, fica a expectativa: como os apresentadores vão tratar a questão?

Ignorá-la? Ou será possível fazer piada com o tema, sem recair na síndrome Rampling?

Tirando essa questão política, a maior expectativa da festa fica por conta do prêmio de ator, que decidirá se Leonardo DiCaprio sai ou não da fila. Tudo indica que sim. Depois de ser indicado cinco vezes e cinco vezes morrer na praia, parece que este é seu ano, com um papel sob medida para garantir a estatueta. Ele mostra todo o repertório para ganhar o troféu – talento, empenho, espírito de sacrifício, coragem. Sofre como um condenado no papel do caçador de peles dado como morto depois de atacado por uma ursa selvagem e que volta para se vingar dos que o abandonaram.

Mais cotado

De resto, O Regresso é o mais cotado para receber a maioria dos principais prêmios. Foi indicado em 12 categorias, entre elas as de melhor filme, direção (Alejandro González Iñárritu) e ator (DiCaprio).

Há outro dado interessante a seu respeito. Se vencer na categoria de melhor direção, dá o bicampeonato a Iñárritu, que ganhou ano passado com Birdman. Nesse caso, como Alfonso Cuáron levou em 2014 com Gravidade, um mexicano venceria o Oscar de melhor diretor três vezes em seguida, deliciosa anomalia num tempo em que o discurso xenófobo de Donald Trump seduz cada vez mais norte-americanos.

Brasil

O Brasil, sempre sedento por um Oscar, entra diretamente na disputa este ano. Quando se pensou que estava mais uma vez de fora com a exclusão de Que Horas Ela Volta?, de Anna Muylaert, O Menino e Mundo, de Alê Abreu, classificou-se para tentar a estatueta de melhor animação. É um belíssimo trabalho, que teria caminho mais fácil não encontrasse pela frente um peso-pesado da Disney/Pixar, o também muito bom Divertida Mente. É o favorito. Se der zebra, o brasileiro leva.

Aliás, a categoria da qual o Brasil foi excluído, a de filme estrangeiro, chega bem forte este ano. O favorito é O Filho de Saul (Hungria), de fato uma visão muito forte e original do Holocausto, tema que sempre comove os acadêmicos de Hollywood. No entanto, O Abraço da Serpente, da Colômbia, poderia muito bem se impor com sua imersão profunda na relação entre colonizadores e povos indígenas da América. O Lobo do Deserto, da Jordânia, também é muito bom e, em patamar inferior, As Cinco Graças, da França, não faz feio.

No mais, é ir apostando nas outras categorias. Todas têm seus favoritos e possíveis azarões. Se Leo DiCaprio reina sozinho como virtual vencedor da estatueta de ator, a disputa por melhor atriz parece mais equilibrada. Fala-se muito em Brie Larson, de fato maravilhosa como a mãe encarcerada de O Quarto de Jack. Mas uma disputa envolvendo duas queridas da Academia, como Cate Blanchett(Carol) e Jenniffer Lawrence (Joy), nunca está decidida Saorise Ronan (de Brooklin) corre por fora e Charlotte Rampling aparece maravilhosa e sutil em 45 Anos. Mas seu nada sutil comentário sobre os negros pode tirá-la do páreo.

Coadjuvantes

Entre os coadjuvantes, há quem tenha como certo o nome de Tom Hardy, o vilão de O Regresso. Mas pode pintar um prêmio sentimental para o veterano Sylvester Stallone por seu treinador decadente e doente em Creed: Nascido para Lutar). O melhor seria o estupendo Mark Rylance, como informante soviético em Ponte dos Espiões, um Spielberg adulto e surpreendentemente bom. Entre as coadjuvantes, muito se fala em Jennifer Jason Leigh no papel de uma bandida aprisionada em Os Oito Odiados, de Tarantino.

Por fim, há se que voltar à categoria principal. Sim, O Regresso é o favorito. Mas há outros no páreo. Mad Max: Estrada da Fúria, a distopia de George Miller, seduz muita gente. E dois filmes “menores”, voltados para problemas reais da atualidade, também têm lá suas chances. A Grande Aposta visita as entranhas da especulação financeira, que jogou o mundo na crise econômica desde 2008. E Spotlight, drama do jornalismo old school, mostra o empenho de um repórter e um jornal em desvendar uma rede de pedófilos incrustados na Igreja Católica. Pode parecer demais para o gosto um tanto conservador da Academia. Mas, quem sabe?

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