A exposição Odorico Tavares ? A Minha Casa Baiana ?Sonhos e Desejos de Um Colecionador de Arte apresenta pela primeira vez a coleção completa, composta por 444 obras, formada pelo jornalista, poeta e colecionador Odorico Tavares. O curador da mostra, Emanoel Araújo, a classifica como uma das mais belas coleções de arte moderna brasileira, reunida na Bahia por Odorico, entre os anos 50 e 70.
Para apresentar a grande coleção, o monumental Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba (PR), foi escolhido para iniciar o roteiro expositivo nacional. Depois segue para o Museu AfroBrasil, em São Paulo, Recife, Salvador e está em negociação para ser exibida também no Rio. A mostra no Oscar Niemeyer, que poderá ser apreciada pelo público entre 15 de julho e 18 de setembro, será aberta a jornalistas e convidados no próximo dia 14, às 19h.
Na mesma ocasião será aberta outra importante exposição ?Farnese: Objetos. A mostra reúne 128 trabalhos do desenhista, gravador e pintor mineiro Farnese de Andrade (1926-1996). Em tempo, a exposição resgata a singular obra de um artista que até os anos 70 foi consecutivamente premiado ? de 1962 a 1970? e praticamente esquecido nas duas últimas décadas. As duas mostras marcam as comemorações do segundo aniversário de funcionamento do Museu, a ser completado no próximo dia 8 de julho. Também comemora os 90 anos de nascimento de Odorico Tavares.
Eclético e atento
Pernambucano de Timbauba e baiano por devoção, Odorico fez da Bahia sua casa e de sua casa uma afetiva galeria. Colecionou principalmente obras-primas de artistas brasileiros, amigos e inspiradores de sua porção poeta, chegando a dedicar a cada um deles um poema, reunidos em Meus Poemas e Meus Artistas, o penúltimo de seus livros publicados.
?É uma coleção formada com antigüidades, com intimidade e afeto de Odorico pelos artistas que dela fazem parte?, afirma o curador Emanoel Araújo. De estética e gosto apurados, o colecionador dividiu o cenário da paisagem baiana com obras de Portinari, Di Cavalcanti, Pancetti, Djanira, Antonio Bandeira, Segall, Volpi, Guignard, Manabu Mabe, Cícero Dias e Carlos Bastos, entre outros.
Todos amigos dele, com poemas dedicados. Desses, a mostra apresenta nada menos do que 22 obras de Portinari, 20 de Pancetti, 16 de Di Cavalcanti, algumas obras de Mabe ?inclusive com figurativos da Bahia?, e até 20 obras da fase baiana do artista paranaense Poty Lazarotto. ?Ele também foi amigo de Tomie Ohtake, mas que por alguma impossibilidade não chegou a adquirir nenhuma obra dela. Por isso, Tomie está produzindo uma obra especialmente para homenageá-lo.?
Colecionador ?sequioso e atento por estender seu olhar nas muitas viagens que fez?, em suas andanças de jornalista, Odorico também levou para a Bahia obras de Picasso, Miró, Matisse e do francês Georges Roualt. Além de obras dos japoneses, internacionalmente reconhecidos, Hamaguchi, Sugai e Tsutaka ?muito valorizados no Japão. A mostra exibe seis Mirós, quatro Picassos e seis obras de Hamagushi. Além de uma série fotográfica inédita de Pierre Verger.
Todos devidamente acompanhados por uma coleção, composta de 35 obras dos séculos 17 e 18, da imaginária religiosa barroca, além de peças do mobiliário dos séculos 18 e 19. Estes marcam os primeiros momentos da vocação de colecionador inveterado de Odorico, na sua primeira casa na Bahia, na Rua Recife, em Salvador.
No pequeno apartamento, os que com ele conviveram, encontraram bonecos e santos de Severino de Tracunhaen, as primeiras imagens de santos da Bahia, os bois de Vitalino e, com eles, nas paredes, os desenhos de Augusto Rodrigues, os quadros mais antigos de Cícero Dias, de Lula Cardoso Ayres e de Rego Monteiro. Eram os artistas pernambucanos.
?A coleção de Odorico mostra esse olhar eclético que possuía, sem diferenciar escolas ou processos criativos, mas que amarrava com sensibilidade o vigor da arte brasileira, desde a imaginária barroca baiana até a arte modernista, através dos nomes mais emblemáticos da arte brasileira. Depois estendendo seu olhar atento a Picasso, Braque, Miró e outros.?