Oscar dividido não causou grandes surpresas no público

E 12 Anos de Escravidão ganhou o Oscar de melhor filme, como se previa. Mas a premiação foi dividida. Além disso, ganhou os troféus de atriz coadjuvante e roteiro adaptado. Gravidade ficou com o maior número de prêmios, mas concentrou-se nas categorias técnicas.

Matthew McCounaughey venceu como melhor ator, uma bola cantada. Afinal, seu trabalho em Clube de Compras Dallas é de fato magnífico. Emagreceu para fazer o eletricista que se descobre aidético e resolve contrabandear drogas ainda proibidas nos Estados Unidos. É ator intenso, e empenhado. Seu discurso foi longo, mas a atuação é concisa; e intensa.

Cate Blanchett venceu como melhor atriz por sua maravilhosa atuação em Blue Jasmine, de Woody Allen. Era favoritíssima, mas se temia que as acusações de abuso sexual lançadas pela filha de Mia Farrow, Dylan Farrow, contra Allen, pudesse prejudicar a atriz. Por sorte isso não aconteceu.

Alfonso Cuarón repete a premiação do Globo de Ouro e fica com o Oscar de melhor direção. Bastante discutível, levando-se em conta que concorria com Alexander Payne, de Nebraska, e Martin Scorsese, de O Lobo de Wall Street.

O roteiro original foi para Spike Jonze, o que era esperado. É, de fato, muito engenhosa a história do homem (Joaquin Phoenix) que se apaixona por um programa de computador. Também com a voz de Scarlett Johansson, pode-se dizer, não é nenhuma vantagem. Mas, brincadeira à parte, embora o filme possa parecer meio frio, a história é de fato inventiva. E reserva algumas surpresas interessantes em seu desenvolver. Já roteiro adaptado para 12 Anos de Escravidão. Prêmio importante, inclusive por recolocar em circulação o livro do personagem Solomon Northup.

Em algumas categorias a premiação foi a que se esperava. Por exemplo, a de melhor ator coadjuvante para Jared Leto era uma das barbadas deste ano. Leto compõe um transexual comovente e divertido em Clube de Compras Dallas. Não tinha para mais ninguém. Maquiagem foi também para Clube de Compras Dallas.

Mais disputado, mas mesmo assim Lupita Nyong’o levou um prêmio de atriz coadjuvante que só se pode definir como justíssimo. Papel difícil, que ela leva com muita garra em 12 Anos de Escravidão. Lupita teve de enfrentar cenas penosas e compõe a personagem da escrava abusada pelo patrão, com muita dignidade. É aquela história: nasce uma estrela. A partir daqui será chamada para vários papéis. Há outra coisa: a maneira como recebeu o prêmio foi comovente. Atrizes mais experientes não conseguem disfarçar, não digo o tédio, mas o hábito que têm em serem reconhecidas. Para a menina era uma novidade. Não cabia em si de contentamento.

Pode-se fazer um reparo na categoria de animação: deram o prêmio óbvio, para Frozen, deixando de lado o melhor filme do mestre japonês Miyazaki, Vidas ao Vento, em cartaz em São Paulo. Nada contra Frozen, mas Vidas ao Vento está em outro patamar, de maturidade, de desenho artesanal e sofisticado, uma história para adultos, cheia de poesia mas também de desolação. Frozen ganhou ainda o troféu de canção original, Let It Go.

Gravidade, como era de se esperar, está dominando os prêmios técnicos.

Ganhar o Oscar de efeitos visuais era mais óbvio nas apostas. É o que o filme tem de melhor sem dúvida. E ainda levou os troféus de fotografia, mixagem de som e edição de som, além de montagem, feita pelo próprio Cuarón, diretor do filme. Talvez uma certa surpresa na estatueta de trilha sonora, afinal é uma história ambientada no silêncio sideral. Mas o cinema não precisa ser tão realista assim. Na verdade, quase nunca o é.

A Grande Beleza, de Paolo Sorrentino, foi eleito melhor filme estrangeiro. Qualquer outro resultado seria uma injustiça, embora tenha concorrido com títulos fortes, como o dinamarquês A Caça. A Grande Beleza é um dos grandes filmes italianos dos &,uacute;ltimos tempos com sua visão decadentista da sociedade italiana da era Berlusconi. E tem um ator, Toni Servillo em estado de graça.

O Grande Gatsby ganha o Oscar de figurino. O filme é chique mesmo. Uma adaptação meio vazia de Scott Fitzgerald, mas o visual é ok. Gatsby: desenho de produção. uma produção difícil mesmo, pelo lado técnico, de direção de arte complicada. Os problemas do filme estão em outra parte. Aqui ele vai bem. E foi reconhecido.

Na parte da cerimônia reservada aos desaparecidos do ano, entre astros do cinema americano como Shirley Temple e Philip Seymour Hoffman, houve espaço para o nosso Eduardo Coutinho, morto há pouco em circunstâncias trágicas. Não consta que Coutinho, o genial documentarista de Cabra Marcado para Morrer, ligasse muito para a Academia. Mas Hollywood lembrou-se dele. Foi bonito.

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