Oscar com surpresa decisiva: melhor filme

crash_4_large.jpgHouve apenas uma grande surpresa na 78ª cerimônia de premiação da Academia de Hollywood, que terminou na madrugada de hoje, mas foi a maior de todas as zebras. Crash – No Limite (foto), de Paul Haggis, derrotou o favorito O Segredo de Brokeback Mountain e foi o melhor filme do ano. No total, Crash recebeu três prêmios – melhor filme, montagem e roteiro original Empatou com Brokeback Mountain, que deu a Ang Lee o prêmio de direção e ganhou também os de roteiro adaptado e trilha. Foi um desfecho inesperado para a festa que vinha rolando de forma previsível. Philip Seymour Hoffman foi o melhor ator, por Capote; Reese Witherspoon, a melhor atriz, por Johnny e June; George Clooney, o melhor coadjuvante, por Syriana; Rachel Weisz, a melhor atriz secundária, por O Jardineiro Fiel. Os prêmios técnicos foram descarregados no King King de Peter Jackson, que derrotou o outro candidato peso-pesado, Guerra dos Mundos, de Steven Spielberg.

Mais divertida que de hábito, a 78ª cerimônia de entrega dos prêmios da Academia de Hollywood começou no estilo Casseta e Planeta, como uma paródia do próprio Oscar. Mas o primeiro vencedor da noite seguiu rigorosamente o script – anunciado por Nicole Kidman, George Clooney subiu ao palco do Kodak Theatre para receber seu prêmio de coadjuvante, por Syriana. Ele próprio fez piada – "Já que não vou receber o Oscar de direção…" Logo em seguida, Clooney falou sério e disse que a comunidade de Hollywood tem a fama de viver num mundo de faz-de-conta, mas os filmes falavam de aids e de direitos humanos quando esses temas ainda eram tabus. "É muito bom fazer parte desse mundo de sonho" ele acrescentou, já que o filme pelo qual foi premiado trata de temas como corrupção na política e petróleo, tudo aquilo que não se encontra na mídia, mas faz parte da realidade americana atual

O Oscar da política, como foi chamado, começou muito engraçado. Para apresentar o pouco conhecido (no Brasil, como no restante do mundo) Jon Stewart, que foi o âncora da cerimônia, a Academia imaginou a seguinte situação. A câmera do Oscar foi bater na porta de vários apresentadores de anos anteriores, pedindo-lhes que voltassem ao palco do Kodak Theatre. Billy Crystal, numa barraca montada na montanha, abriu o zíper para dizer que estava ocupado e apareceu a cara de Chris Rock, numa bem-humorada referência a O Mistério de Brokeback Mountain, de Ang Lee, o grande favorito da noite. Sucessivamente, Whoopi Goldberg, Steve Martin, Mel Gibson, David Letterman, ninguém queria ou podia apresentar o Oscar. Sobrou para Jon Stewart, que acordou de noite, como se fosse um sonho, primeiro com Halle Berry e, depois, com George Clooney na cama.

Stewart apresenta o programa The Daily Show na TV americana. Faz humor de fundo político, satirizando, com freqüência, o presidente George W. Bush. Tinha, portanto, o perfil para apresentar o prêmio que este ano privilegiou o cinema mais adulto e politizado. Comentando os filmes concorrentes, Stewart disse, a propósito de Capote, que o filme de Bennett Miller é a prova de que nem todos os gays são caubóis, mas também podem ser sofisticados escritores do Leste. Logo em seguida, nova estocada no imaginário criado por Hollywood. Quem foi que disse que os caubóis eram gays? Eram muito machos, ele ironizou, e apareceram cenas de westerns clássicos em que mocinhos célebres ficavam medindo suas pistolas ou fazendo insinuações de fazer os pastores de ovelhas de Ang Lee ficarem corados.

As premiações foram confirmando o favoritismo – melhores efeitos visuais, para King Kong; melhor longa de animação, Wallace e Grumit; melhores figurinos, Memórias de Uma Gueixa; melhor maquiagem, As Crônicas de Nárnia. Uma quebra nesses prêmios técnico-artísticos e o grande Morgan Freeman anunciou o prêmio para a melhor coadjuvante. Foi o mais próximo que o Brasil conseguiu chegar do Oscar neste ano, com a vitória de Rachel Weisz, por sua participação no filme que Fernando Meirelles adaptou do livro de John Le Carré. Rachel, popularizada na série da Múmia, é, realmente, a alma de O Jardineiro Fiel. Ela fez um bonito agradecimento a Meirelles, de quem destacou a humanidade. Seguiu-se uma homenagem ao filme noir, apresentada pela eterna viúva de Humphrey Bogart, Lauren Bacall. Foi o momento da saudade do Oscar, com imagens dos trailers originais de grandes filmes que entraram para a história – Punhos de Campeão, Gilda, Mortalmente Perigosa, À Beira do Abismo e muitos outros.

Novas categorias e vencedores – melhor documentário de longa-metragem, A Marcha dos Pingüins; direção de arte para o favorito Memórias de Uma Gueixa, que ainda receberia a estatueta de melhor fotografia. Mais uma homenagem – Samuel L.Jackson subiu ao palco para lembrar como Hollywood, por meio de diversos filmes de conteúdo social e político, ajudou a debater questões importantes e até a construir a cidadania. E surgiram as imagens de O Sol É para Todos, Um Estranho no Ninho, Filadélfia, A Hora Final, O Vento Será Sua Herança, Rede de Intrigas, Amargo Regresso, Norma Rae, Sindicato de Ladrões, A Mulher Faz o Homem.

Diante dessa "impressionante coleção de imagens", o próprio presidente da academia, Sid Ganis, destacou que mudam as tecnologias, mas o fascínio do cinema continua ligado à arte de narrar e à comunhão dos espectadores na sala escura – um curioso ataque ao DVD, que é hoje o principal aliado da indústria. Os filmes, disse Ganis, divertem, mas muitas vezes são incômodos – como os cinco indicados deste ano, todos comprometidos com a realidade social e política, não apenas os concorrentes americanos, mas também os estrangeiros. O sul-africano Tsotsi ganhou o prêmio de melhor filme estrangeiro, mas a surpresa final foi a vitória de Crash como melhor filme.

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