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Oscar 2019: Um prêmio engajado

Uma pesquisa entre usuários do Twitter nos Estados Unidos apontou que muitos não estão dispostos a assistir à cerimônia do Oscar, na noite deste domingo, 24, por conta de seu “caráter político”. Outra consulta com possíveis espectadores americanos descobriu que 39% deles podem desligar a TV pelo mesmo motivo. “Político”, no entendimento dessas pessoas, significa discursos de aceitação partidária. Seguindo esse raciocínio, é de se esperar, portanto, uma nova queda na audiência da transmissão uma vez que, entre os oito indicados para o Oscar de melhor filme, seis apresentam enredos com fortes cores políticas – as exceções seriam Nasce uma Estrela e Bohemian Rapsody.

Daquela meia dúzia, um é escancaradamente político: Vice, que apresenta de forma até cômica a trajetória do ex-vice-presidente dos EUA Dick Chaney. Já Infiltrado na Klan apresenta uma trama que põe em confronto o racismo do grupo Ku Klux Klan com o poderoso movimento do poder negro na década de 1970. E Pantera Negra recria a clássica série de HQ sobre dois primos que lutam pelo trono de uma superpotência africana fictícia. Por falar em realeza, A Favorita concentra sua trama na disputa entre duas mulheres pela influência política que cerca a rainha Anne. E, mesmo que não seja tão evidente quanto os quatro anteriores, Green Book – O Guia percorre também por caminhos do racismo ao mostrar um pianista negro tentando se impor pelos direitos civis, na década de 1960. E, finalmente, Roma toma um rumo sombrio quando um protesto estudantil da Cidade do México se torna violento.

Ao observar um número tão expressivo, o crítico Ben Zauzmer, do New York Times, analisou todos os 554 filmes já indicados para o principal Oscar em toda a história do prêmio e concluiu que, com esses seis indicados, a cerimônia de 2019 empata com a de 1944, que também apresentava meia dúzia de produções com forte teor político. Ambas só perdem para a festa de 1943, que tinha sete longas com tal característica. O mundo naquela época, no entanto, sofria com a 2ª Guerra, o que justificaria as vitórias de Rosa da Esperança (1943), um filme com forte mensagem patriota e de engajamento, e de Casablanca (1944), clássico conto de intrigas políticas da guerra, estrelado por um expatriado americano que reluta em ser herói.

Retornando aos dias atuais, a Academia de Hollywood tem a chance, segundo a maioria dos críticos, de revelar um avanço em seus ideias considerados conservadores se premiar Pantera Negra ou Roma – com esse último, aliás, quebraria duas barreiras: eleger um filme em língua estrangeira e produzido por uma companhia sem tradição cinematográfica, a Netflix. Seja quem for, um discurso político parece iminente.

Já pensando nisso, Peter Mehlman, roteirista e produtor da série Seinfeld, escreveu um divertido artigo para o NYT em que prega a emenda do Não Agradecimento, em que os vencedores evitariam citar os “cerca de 50 parentes e conhecidos” e que tornaria o tom político do discurso em algo “altamente opressivo, possivelmente polarizador e certamente incoerente”. Com isso, talvez a audiência possa subir.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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