Está confirmado: os personagens do selo DC Comics, que no mês de julho receberam “bilhete azul” da Editora Abril, passarão a ser editados no Brasil, a partir de outubro, pela Panini, a mesma casa editora que assumiu, em janeiro deste ano, em parceria com a Mythos, os títulos da Marvel Comics, a outra maioral dos quadrinhos norte-americanos.
O mundo dos super-heróis é sempre imprevisível. Dentro e fora dos gibis. No início do ano, os leitores foram surpreendidos pela notícia de que Homem-Aranha, X-Men, Capitão América, Hulk, Os Vingadores, Quarteto Fantástico e todos os demais personagens da Marvel Comics estavam deixando a Editora Abril, de São Paulo, depois de uma parceria de 22 anos, para serem editados no Brasil pela desconhecida Panini Comics. Seis meses depois, outra surpresa: a mesma Abril anunciava que estava também interrompendo a publicação dos heróis da DC Comics. Com isso, a editora deixava Super-Homem, Batman, Mulher-Maravilha, Liga da Justiça, Flash, Lanterna Verde & Cia., os mais tradicionais personagens dos quadrinhos, ao relento e longe do alcance do grande público brasileiro.
Era a primeira vez que isso acontecia no Brasil, onde os super-heróis chegaram na década de 40 e se firmariam nos anos 60, através da Editora Brasil-América Ltda., do Rio, a Ebal. Adolfo Aizen, que já tivera a primazia de lançar entre nós Super-Homem e Batman em revistas próprias, foi o primeiro a abrigar sob o mesmo teto os Universos DC e Marvel, mantendo-os unidos até meados dos anos 80, quando a Abril paulista apanhou o bastão.
Leitores na expectativa
Durante mais de dois meses, o futuro dos heróis DC foi uma incógnita. Iriam para a Mythos, que assumiu a produção editorial da versão nacional da Marvel para a Panini e já detém os direitos de publicação da série Elseworlds (Túnel do Tempo), da mesma DC? Ou para a Conrad Editorial, que se mostrou interessada em recebê-los. Ou então para a Brainstore, que também já vem publicando regularmente a revista DC Millennium? Quem sabe a Opera Graphica, atual detentora do selo Vertigo? O último boato, logo desmentido (conforme aqui noticiado), foi de que a Devir Livraria, que está se transformando em editora, teria adquirido o material pelo valor anual de 200 mil dólares.
A Character Comércio e Serviços, representante da DC Comics no Brasil, limitava-se a afirmar que as aventuras de Batman, Super-Homem e de seus companheiros encapuzados teriam continuidade aqui.
Enfim, a solução
Agora, acabou o mistério: os principais nomes da DC serão publicados pela Panini, que intensificará, assim, a parceria com a Mythos Editora. Resultado: três títulos (Batman, Superman e Liga da Justiça) chegarão às bancas e gibeterias nacionais na segunda quinzena de outubro, com qualidade idêntica à ora apresentada pelas revistas Marvel.
Para tanto, a editora firmou contrato com Fabiano Denardin, que será o editor da DC Comics no Brasil. Para quem não sabe, ele já foi produtor de O site, desenvolveu a homepage da Via Lettera Editora e foi redator dos websites da Sony Entertainment Television e da TV1.com.
Segundo a Character, o fato de a Panini já publicar a DC em outros países do mundo foi determinante para a escolha. Ela, no entanto, assegura que os contratos firmados com as outras editoras serão mantidos.
– Nosso plano envolve também outros títulos, edições especiais e minisséries – revela José Eduardo Severo Martins, diretor-presidente da Panini Comics Brasil.
Uma dessas publicações deverá ser o aguardado crossover Liga da Justiça/Vingadores, escrito por Kurt Busiek e desenhado pelo notável George Pérez, que se tornara inviável depois da separação dos Universos Marvel e DC e da retirada deste último dos jornaleiros brasileiros.
Mythos sai ganhando
A aquisição dos direitos sobre a produção da DC Comics pela Panini Brasil será igualmente proveitosa para a Mythos Editora, parceira da empresa italiana desde o início do ano. A editora paulista, que vinha se restringindo à publicação de alguns títulos alternativos da DC, já que a Abril tinha poder de veto mesmo sobre o material que não lhe interessava, agora poderá agir com maior liberdade. Tanto é que já está preparando, entre outros lançamentos, a edição nacional de JLA: The Nail, uma das mais festejadas minisséries da Liga da Justiça, escrita e desenhada por Alan Davis; Justice League of America: A League of One, belíssima novela gráfica de Christopher Moeller; Harley and Ivy, edição especial com Arlequina e Hera Venenosa, as duas belas inimigas de Batman; e Legends of the World’s Finest, minissérie narrando novo encontro entre Batman e Super-Homem, com argumento de Walter Simonson e desenhos de Daniel Breneton. Além desses títulos inéditos, a Mythos pretende republicar, com novas traduções e novo tratamento gráfico, algumas histórias já consagradas, como Batman: Ano Dois; A Biografia Não-Autorizada de Lex Luthor, com desenhos de Eduardo Barreto; e Batman: Asilo Arkham, com a magnífica arte de Dave McKean.
Um pouco de história
Pode-se dizer que o Universo DC começou com Super-Homem (Superman). Nos idos de 1938, em Cleveland, Ohio, EUA, um jovem chamado Joseph (Joe) Shuster idealizou um personagem nascido no planeta Krypton, que seria o defensor dos fracos e oprimidos da Terra. Vestiu-o com uma malha azul, e um calção, um par de botas e uma longa capa vermelha e pediu a um amigo e colega de escola, Jerome (Jerry) Siegel, para que o desenhasse. O primeiro esboço de história, já no formato de revista (comic-book), foi rejeitado por vários editores, até que a revista Action Comics, da National Periodical Publications, resolveu publicá-lo, em junho de 1938, a título experimental. Nascia ali o mito e um dos maiores sucessos dos quadrinhos de todos os tempos e em todo o mundo. Em maio de 1939, surgia a revista Superman Quarterly Magazine, que um ano depois já atingia a tiragem de 1.300.000 exemplares.
No Brasil, Super-Homem chegou em dezembro de 1940, através de O Lobinho, editado por Adolfo Aizen. O mesmo Aizen lançaria a primeira revista Superman, em novembro de 1947, pela Editora Brasil-América Ltda.
Batman, o outro grande precursor dos super-heróis, nasceu em 1939, da imaginação de Bob Kane, também o autor dos desenhos. O herói de Gotham City, uma figura soturna, que agia à noite, era o alter-ego do milionário Bruce Wayne. Suas aventuras passaram a ser publicadas em Detective Comics (as iniciais DC dariam origem, tempos depois, ao selo DC Comics), da mesma National Periodical.
Entre nós, antes de chegar às páginas de Superman, Batman também estreou em O Lobinho, em novembro de 1940. Depois, foi publicado por outras editoras, como Rio-Gráfica (depois, Globo) e O Cruzeiro, com o nome de Homem-Morcego e Morcego Negro. Ganhou título próprio em março de 1953, da Ebal.
Posteriormente, a National Periodical foi transformada em DC Comics Inc. e acabou engolida pela poderosa Warner Communications Inc., que além dos quadrinhos controla a produtora de cinema Warner Bros., o canal a cabo Warner TV, os discos WEA e inúmeras outras empresas de igual porte.
