‘Os Produtores’ manda cartilha do politicamente correto às favas

O Brasil é o paraíso dos ladrões, os alemães continuam nazistas de carteirinha e o clima no apartamento do diretor escolhido para montar o espetáculo dentro do filme "Os Produtores" é totalmente Village People. O cara é um gay louquíssimo que vive cercado de rapazes alegres – tem o cara que se veste de índio, o outro, de caubói, o terceiro, de operário e o quarto, de policial. "Os Produtores", que estréia amanhã (30) em todo o Brasil, manda às favas a cartilha do politicamente correto e assume a própria incorreção como um trunfo. O deboche é total. Meio mundo vai se sentir ofendido – ah, vai. Difícil será não engolir a ofensa para rir um bocado, porque o filme é muito divertido.

Boa parte do humor nasce do absurdo da própria história, sobre esse produtor que produz o pior show de todos os tempos para ganhar dinheiro. Que outra coisa pior, e de gosto mais duvidoso, do que um musical sobre o nazismo, "Primavera para Hitler"? E no qual um Führer obviamente gay canta e dança de joelho de fora, naquela calça curta de tirolês? A diretora da Broadway Susan Stroman estréia no cinema com um partido arriscado – um filme sobre um show de mau gosto não pode investir no bom gosto, sob pena de ser incoerente. Ela radicaliza o kitsch e a vulgaridade. Com atores certos (Matthew Broderick, Nathan Lane e, principalmente, Uma Thurman e Will Ferrell), mais a boa movimentação de câmera nas danças, ela leva o público no ritmo da sua extravagância.

Já houve o precedente de outro musical sobre nazismo, que foi show da Broadway e, depois, filme vencedor de vários Oscars – "Cabaret", de Bob Fosse, em 1972. "Mas lá o assunto era tratado dramaticamente", ela diz. "Não estou falando de tratamento a sério, porque sérios também somos", afirma. Para os cinéfilos, a oportunidade que se oferece é rara. Pois com o musical" Os Produtores", vem a chance de (re)ver o original de Mel Brooks que lhe serviu de inspiração, "Primavera para Hitler’. Brooks ganhou o Oscar de roteiro original de 1968. Ele também trabalha com os atores certos – Zero Mostel, Gene Wilder, Dick Shawn. Seu humor é insano. "Primavera para Hitler" continua um clássico da escola de humor judaico de Nova York. O paradoxo ajuda – um judeu, grosso e virulento, fazendo rir do nazismo. É hilário.

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