O Dia Mundial do Rock está chegando. Apesar do nome, a data é celebrada apenas no Brasil, e marca o aniversário do megashow beneficente Live Aid. Se no ano do evento, 1985, muitos roqueiros marcaram presença entre as músicas mais executadas do ano, em 2019 nenhuma faixa do estilo figura no ranking das 100 mais ouvidas da Billboard – e há dois anos, o rock foi ultrapassado pelo rap como gênero mais popular dos EUA. Se uma nova edição do Live Aid fosse realizada hoje, o rock estaria em sua lista de atrações?

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Ainda há bandas do gênero que cultivam legiões de fãs, como Imagine Dragons, Arctic Monkeys, Twenty One Pilots, Foster the People, Coldplay ou Portugal. The Man, mas elas se distanciaram estilisticamente dos riffs de guitarra, escalas de blues, distorções e solos virtuosos que caracterizam o rock dito “clássico” dos anos 1970 – pecha que faz pouco sentido para um gênero tão transgressor.

A inesperada ascensão da banda americana Greta Van Fleet, cuja sonoridade remete a esse estilo setentista, reacendeu uma antiga discussão entre saudosistas do rock e os apreciadores das vertentes alternativas mais recentes. Ao jornal O Estado de S. Paulo, o guitarrista da banda, Jake Kiszka, disse, à época do Lollapalooza 2019, que seu jeitão setentista não é imitação: “É um olhar para os grandes trabalhos do passado.” O Greta é mais um nome da longa linhagem de “salvadores do rock” – como já foram Foo Fighters, Strokes ou White Stripes -, mas talvez o gênero simplesmente não precise ser salvo. Assim como aconteceu com o jazz nos anos 1980, o rock não morreu, simplesmente virou um nicho.

Nostálgicos não precisam sofrer com o luto: a produção de rock com “cara de clássico” continua tão volumosa quanto em sua era de ouro, só ficou menos visível, ofuscada pelo sucesso retumbante de outros estilos. Em tempos de streaming, bandas que evocam Rush, Creedence Clearwater Revival ou Grand Funk Railroad surgem aos borbotões pelos cantos recônditos da internet – artistas que em outras épocas teriam dificuldade para se sobressair no saturado mercado roqueiro, mas que no cenário atual sobrevivem com poucos, porém fiéis fãs.

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Há alguns casos mais evidentes, como o Black Keys, que atualiza o blues para uma nova geração e lançou em junho o álbum Lets Rock; Rival Sons, que foi como um precursor do Greta Van Fleet e também teve material novo em 2019, Feral Roots; Royal Blood, que tem como fã ninguém menos que Jimmy Page; ou a australiana Tame Impala, que mescla um rock lisérgico a tendências eletrônicas, todos com forte apelo para quem sente falta da influência do rock clássico no século 21.

Mas as plataformas digitais oferecem recomendações com base em algoritmos para indicar músicas com as quais seria difícil entrar em contato de outro modo. Exemplos não faltam. Stoned Jesus, da Ucrânia, mescla psicodelia, blues e metal com pitadas progressivas; Wolfmother, da Austrália, faz ode às guitarras pegajosas e distorcidos; o duo Inspector Cluzo, da França, tem um tom politizado embalado por uma sonoridade crua; os brasileiros do Haxinxins resgatam os melhores momentos da psicodelia com instrumentos analógicos; Radio Moscow, dos EUA, não economiza em riffs enérgicos. Mars Red Sky (França) e Samsara Blues Experiment (Alemanha) apostam em vocais introspectivos com um rock progressivo bastante distorcido e artistas como Orchid, The Sword e Witchcraft resgatam os contrabaixos galopantes aliados à distorção pesada de um blues eletrificado como o do Black Sabbath.

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Essas – e muitas outras – bandas poderiam ter surgido no tempo em que gigantes do rock caminharam pela Terra, mas isso não quer dizer que nasceram na época errada. Ainda em 2019, todo dia é dia de rock.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.