Em qualquer profissão, tem sempre aquela turma que, para engrossar a renda, faz uns “bicos” fora do horário de trabalho. Atores de tevê não fogem à regra. Além de decorar texto e gravar cenas de novela, muitos se aproveitam da fama para faturar um extra. Marcam presença em festas, desfiles, lançamentos e, no caso dos rapazes, dançam até valsa em bailes de debutantes. Tudo, é claro, por “simbólicos” cachês – que vão de R$ 5 mil a R$ 50 mil, conforme o evento e a cotação do artista no mercado. Na maioria das vezes, um evento desses rende para o ator ou atriz mais do que o salário de um mês inteiro. “Vou a bailes e tudo o mais pelo dinheiro. Mas também pela oportunidade de estar em contato com as fãs e poder retribuir todo o carinho que recebo”, teoriza o ator Bruno Gagliasso, que viveu recentemente o Caetano de A Casa das Sete Mulheres.

Às vezes, porém, as calorosas demonstrações de carinho podem deixar o ator de “saia-justa”, ou até sem roupa. Cláudio Heinrich, por exemplo, não esquece o dia em que participou da inauguração de uma boate no interior de São Paulo. Na hora da saída, se viu cercado por uma multidão de fãs, ávidas por levar uma recordação do ídolo para casa. “Saí de lá quase pelado! Mas tudo bem… Dá para fazer um bom laboratório com essas experiências”, pondera. De fato, até hoje o ator é lembrado como intérprete do índio “loiro” Tatuapu, de Uga Uga – que não dava trabalho nenhum aos figurinistas da Globo.

Além de, eventualmente, colocar em risco a própria integridade física, artistas que topam qualquer negócio podem acabar com o passe desvalorizado. Isso, quando não ficam “queimados” na própria emissora por causa de atrasos, olheiras profundas e textos sem decorar. “No início, o ator tem até obrigação de fazer os eventos que aparecem para firmar seu nome e sua imagem. Mas, depois, precisa aprender a selecionar melhor os trabalhos. Senão vira ?arroz de festa?”, ensina Anna Paula Lima, da AP2 Assessoria de Imprensa.

Homens valorizados

Ao contrário do que acontece na moda – onde as mulheres ganham bem mais que os modelos masculinos -, o mercado das celebridades é mais generoso com os galãs. São eles que recebem o maior número de convites e, geralmente, os melhores cachês. “Promotor de eventos gosta de provocar a histeria no público. Quem dá ataque histérico é mulher. Então… Nada melhor do que chamar um cara famoso e boa pinta”, explica o assessor de uma grande agência de modelos e atores, que considera o meio mais cruel para as atrizes. “A maioria precisa posar nua primeiro para despertar interesse e receber boas propostas”, revela, depois de pedir – por razões óbvias – que ficasse no anonimato.

Quem não precisa se exibir, mas embolsa cerca de 20% do cachê combinado, é o assessor ou empresário do artista. O trabalho, contudo, inclui selecionar os trabalhos, negociar valores, pagamento adiantado, transporte, estadia e segurança, se preciso. No dia do evento, o assessor ainda acompanha seu pupilo e resolve qualquer problema de última hora. Mas nem sempre é possível evitar “roubadas”, como se perder no caminho ou não dispor das medidas de segurança previamente combinadas.

A atriz Luana Piovani admite que já participou de muitos eventos por dinheiro. “Chegava lá, marcava 25 minutos no relógio e ia embora. Hoje, me dou ao luxo de não fazer. É muito chato!”, admite. Outro que, após muitas noites maldormidas e alguns “puxões de orelha”, prefere levar uma vida mais tranqüila é Iran Malfitano. “No começo, fiquei deslumbrado com todo esse ?glamour? de festas, boates, desfiles… Mas chegava muito cansado para gravar no dia seguinte e ainda ganhava fama de farrista. Agora, quero me dedicar mais ao trabalho de ator”, confessa, redimido, o intérprete do ?playboy? Carlito, de Kubanacan.

Ao som da valsa

Quase todo aspirante a galã participa de bailes de debutantes no início da carreira – e depois finge que nunca fez isso. Mas há sempre alguém que lembra bem e faz questão de contar. Como o advogado e empresário Sérgio Dantino. “Até Francisco Cuoco e Lima Duarte já apresentaram baile de debutantes. Aliás, todos os atores da velha-guarda”, entrega o proprietário da Dantino & Associados, há cinco décadas no ramo artístico.

Até poucos anos atrás, galãs como Thiago Lacerda e Rodrigo Santoro também podiam ser contratados para o deleite das debutantes. Já na safra atual de atores “pé-de-valsa” figuram, por exemplo, Cauã, Sérgio Abreu e Bruno Gagliasso. A lista, porém, se estende por quase todos os novatos interessados em engordar o cofrinho. Afinal, com um único baile o jovem galã embolsa entre R$ 4 mil e R$ 8 mil. Quase sempre mais que o salário pago pela emissora.

Instantâneas

– Rodrigo Santoro prefere fazer campanhas publicitárias, que são mais rentáveis que eventos. Mas avalia todas as propostas pessoalmente.

– Bruno Gagliasso sempre leva um colar de pérolas para as debutantes dos bailes que apresenta. Mas confessa que, às vezes, se perde na dança e entrega a moça para os pais errados.

– Carlos Casagrande jura que já dançou com 200 meninas num único baile de debutantes.

– Em geral, o salário de um ator requisitado para eventos não chega a dois terços do que ele recebe por uma única noite de “presença”.

Salários médios dos globais

– Jovem estreante, perfil “Malhação” – R$ 3 mil a R$ 5 mil.

– Galãzinho da vez – R$ 7 mil a R$ 10 mil (às vezes mais).

– Veteranos em papéis de destaque – entre R$ 15 mil e R$ 25 mil.

– Galãs e protagonistas – entre R$ 25 mil e R$ 45 mil.

– Megaestrelas disputadas a dentadas pelos autores – até R$ 60 mil.

Cachês médios por eventos

– Protagonista loura e admiravelmente enxuta da novela das seis – R$ 50 mil.

– Atual descamisado-mor de novela do Lombardi – R$ 20 mil.

– Bonitona jovem da novela das oito – R$ 15 mil.

– Típica gostosona “turbinada” de novela das sete – R$ 10 mil.

– Galãzinho da hora na novela do Manoel Carlos – R$ 6 mil.

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