Os Beatles chegam ao mundo dos videogames

Não há quem não admita que os Beatles são a grande força da indústria da música.

Não há grupo mais duradouro nas paradas de sucesso, não há iniciativa musical do quarteto formado por John Lennon, Paul McCartney, Ringo Starr e George Harrison que não seja bem-sucedida sobrevivendo, inclusive, ao final da banda (há quase quarenta anos) e à morte de dois deles, John e George. Agora, eles chegam à última fronteira da indústria do entretenimento: o videogame.

Lançado recentemente, o jogo “The Beatles: Rock Band” explora a maior banda de rock da história em um filão altamente lucrativo, os games musicais para as plataformas de última geração, notadamente o XBOX 360, o Wii e o Playstation 3.

Para brincar, é preciso contar – além dos controles normais – com “guitarras’, “baixos’ e “baterias’ que simulam a ação dos artistas que estão no vídeo. Assim, você se sente integrante do grupo.

E quanto mais próximo do que eles fizerem o jogador conseguir, mais pontos ele ganha. E, claro, vence a disputa, pois videogame é uma disputa, mesmo que todos estejam do mesmo lado.

Interessante pensar assim, pois os Beatles chegaram ao seu final justamente porque havia uma disputa, apesar de todos estarem do mesmo lado. John, Paul e George já não se suportavam quando o grupo decidiu se separar – de forma retumbante, aliás, com anúncio no jornal e pedido de separação na Justiça. Era o momento de ruptura de uma história juntos. Mas eles, mesmo querendo, jamais conseguiriam ficar separados.

A conjunção de fatores que transformou os Beatles nos maiores vendedores de discos de todos os tempos (e por tanto tempo) não é fácil de explicar. Ela envolve sentimento, um entrosamento que pouco se viu na música popular – nem irmãos, como os Gershwin, ou casados, como os Turner, se deram tão bem por tanto tempo – e um senso de oportunidade extraordinário. Quando Paul e John lideravam, e eram aceitos por isso, os Beatles foram unidos, fortes e brilhantes.

É o período da consolidação do grupo, e da incrível explosão em todo o mundo da música dos Beatles (a chamada “beatlemania’). Eles condensaram ainda mais a fórmula de Chuck Berry, Jerry Lee Lewis e Elvis Presley para criar uma música agressiva, mas melódica, que acabava atraindo até mesmo aqueles que não estavam na onda do rock.

Inteligentes (e com a colaboração fundamental do produtor George Martin e do empresário Brian Epstein), eles não fugiram até do romantismo, criando clássicos do gênero como Yesterday e You’ve Got To Hide Your Love Away, que ficavam no mesmo álbum de rocks como Help! e Ticket To Ride.

Mas a fama, os excessos e a busca pela individualidade começou a cindir o grupo. Paul queria ir em uma direção, mais melódica e introspectiva. John queria dar passos à frente, partir no rumo do psicodelismo.

E Ringo e George (este principalmente) queriam abrir espaços para suas composições. Os Beatles começaram a brigar. E se unidos eles eram fortes e brilhantes, desunidos foram geniais.

Foi o período dos grandes álbuns e das canções mais elaboradas. Algumas assinadas por Lennon e McCartney (mas geralmente feitas por só um deles), como Revolution, Lucy In The Sky With Diamonds, Let It Be, Eleanor Rigby, A Day In The Life, With a Little Help From My Friends, Get Back, Hey Jude, Hello Goodbye e Come Together.

Outras, verdadeiras pérolas compostas por Harrison, como While My Guitar Gently Weeps, Here Comes The Sun e Something – esta apontada como alguns como a maior canção dos Beatles (“É a música mais romântica que eu conheço, e não diz “eu te amo'”, dizia Frank Sinatra em seus shows).

Neste tempo, eles gravaram três discos que estão na antologia dos maiores álbuns da história da música popular: White Album, Let It Be e Abbey Road. Separados, os quatro fizeram sucesso, em maior ou menor escala. É possível dizer que George foi o que mais luziu neste período (que se conta a partir do final do grupo até a morte de John, assassinado em frente ao prédio que morava, em dezembro de 1980).

Seu á,lbum All Things Must Pass, lançado pouco tempo depois da separação dos Beatles, é o único clássico feito por um deles – tão espetacular que Harrison nunca conseguiu repetir seu feito.

Mesmo assim, eles seguiram na crista da onda, até pelo fato de suas músicas juntos nunca terem saído das paradas – e estarem, desde o momento em que se separaram, nas vozes mais diversas, em vários países. A tragédia com John reaproximou o grupo, que chegou a lançar Anthology e depois autorizou a remasterização dos discos originais.

Agora, John, Paul, George e Ringo chegam aos videogames. Estão lá em várias versões – desde as clássicas caras de adolescentes eternizadas no álbum With The Beatles até os cabeludos que atravessavam a rua e cantavam no topo do prédio.

Cinquenta anos depois de começarem a tocar juntos, eles estão mais atuais que nunca. E, daqui a outros cinquenta anos, nossos netos não precisarão ensinar aos filhos quem são os Beatles.

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