Os assassinos de Jim Morrison continuam vivos

Ao ler um livro com a biografia, entrevistas, poemas e letras de músicas de Jim Morrison eu buscava a história de um ícone do rock que tanto gosto, a exemplo de Eric Clapton, Bruce Springsteen, David Gilmour, entre outros.

Filho de militar da marinha americana, Morrison foi o vocalista e autor da maior parte das letras da banda de rock norte-americana The Doors e acabou tragicamente aos 27 anos. Como tantos outros morreu se imolando por viver o mal-estar de uma geração que sofreu com a guerra do Vietnã e a onda da reação e do conservadorismo cultural dos anos 70s, que reprimiu a liberdade de expressão e acabou com a democracia. Para implantar um modelo econômico de concentração da riqueza, tirando de circulação o melhor do que tínhamos, o que nos faz viver este momento de desqualificação política, cultural e de exclusão social aqui e no mundo.

Jovem, foi a para escola, quando elas tinham os melhores professores, lá e em e todos os lugares do mundo, pois não haviam ainda sido afastados pelo arbítrio macartista. Jim Morrison estudou cinema, na Califórnia, tendo Jean Renoir como professor e Francis Ford Coppola como colega, que depois o homenageou em Apocalipse Now, quando no início do filme toca The End. Devorador de livros tornou-se leitor inveterado, explorando os beats, Kerouac, Ginsberg, Blake, Baudelaire, Rimbaud, Nietzsche, entre outros. Inspirou-se no teatro de Artaud, que o levou a incorporar a interpretação experimental em seus shows e o ritual do xamanismo. Escreveu Viajantes na Tormenta e cantou a história de uma cena que o marcou profundamente, quando ainda criança, durante uma viagem de família ao Novo México, deparou-se com vários índios espalhados pela estrada, sangrando, devido a um acidente de caminhão quando eram transportados na carroceria sem proteção, e também Soldado desconhecido, um clamor pela paz e em defesa da vida dos milhares de jovens que eram jogados no front da guerra. Incorporou em sua obra a estrutura de duração e melódica da música indiana, flamenca, cigana, do blues, jazz e da bossa nova brasileira.

Ler sobre Jim Morrisom nos faz imaginar como o mundo seria melhor se pessoas como ele e tantos outros que possuíam um padrão cultural e humano acima do seu tempo tivessem sobrevivido a pressão repressiva que o levou à revolta e ao fim muito jovem. Ler sobre Jim Morrison nos faz pensar como o mundo seria melhor se os melhores professores educados na democracia do pós-guerra não tivessem sido afastados e perseguidos e não tivesse sido implantada uma reforma de ensino tecnificando e desumanizando o saber, conjugada com a imposição de um sistema de mídia que incentiva o consumo de massa a serviço de um modelo econômico concentrador, que nos deixou como estamos.

Mas não podemos esmorecer, afinal ao ler a biografia de Jim Morrison, entrevistas, poemas e letras de músicas, e captar o olhar visionário e terno de um jovem preparado que cantava a música O fim, dizendo: ?Este é o fim belo amigo/Este é o fim/Meu único amigo, o fim/Dos nossos elaborados planos, o fim/Tão sem limites e livre/Este é o fim, belo amigo/Este é o fim, meu único amigo, o fim/Dói-te libertar?, nos faz ter o alimento de um espírito que nos diz: lutem por liberdade, pela democracia, pela paz, por um mundo mais solidário e justo até o fim, para que os meus assassinos não vençam.

Geraldo Serathiuk, advogado especializado em direito tributário pelo IBEJ. 

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