Shirley MacLaine recebeu duas vezes o Globo de Ouro como melhor atriz de drama, e duas o de melhor atriz de comédia ou musical. Recebeu duas vezes a Taça Volpi de melhor atriz em Veneza, duas vezes o Urso de Prata de melhor atriz em Berlim e um Urso de Ouro honorário por sua carreira. Ganhou duas vezes o Bafta, uma vez o Oscar e um Oscar honorário, na verdade, o Memorial Cecil B. De Mille. São prêmios que dão para encher uma estante inteira, mas entre eles faltou um que ela achou muito divertido quando foi indicada, a Framboesa de Ouro de pior atriz por Um Rally Muito Louco. em 1985.

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Pior atriz? Não nos filmes que você poderá (re)ver nesta quarta, 24, no Telecine Cult, que comemora os 85 anos de Shirley apresentando Irma la Douce, às 19h25; Charity, Meu Amor, às 22 h; e Dois na Gangorra, à 0h40. Seus parceiros e diretores nesses filmes foram-se todos – Billy Wilder, Bob Fosse, Robert Wise, Jack Lemmon, Robert Mitchum, Sammy Davis Jr., etc. Bye-bye. Só Shirley permanece, como impávido colosso.

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Ela nasceu Shirley McLean Beatty em Richmond, Virginia, em 24 de abril de 1934. Preferiu trocar de nome, e adotar um pseudônimo. Seu irmão caçula, de 82 anos, virou astro somente suprimindo o primeiro nome – (Henry) Warren Beatty. Shirley sempre quis ser atriz. Estudou balé na infância e adolescência e muito jovem foi para Nova York, tentar a carreira na Broadway. Conseguiu pequenos papéis e um caçador de talentos recomendou-a à Paramount. Em 1955, já era atriz de Alfred Hitchcock, em The Trouble With Harry, que no Brasil se chamou O Terceiro Tiro.

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Logo em seguida estava fazendo Artistas e Modelos, uma comédia com Jerry Lewis e Dean Martin; A Volta ao Mundo em 80 Dias, que recebeu o Oscar; o western Irresistível Forasteiro, com Glenn Ford; e a obra-prima Deus Sabe Quanto Amei, de Vincente Minnelli, com Frank Sinatra, que a adotou e incluiu em seu círculo de amigos. Com eles fez Onze Homens e Um Segredo, de Lewis Milestone, que a crítica meio que desprezou na época mas virou cult – e originou a série de Steven Soderbergh com os amigos George Clooney e Matt Danmon. Em 1960, teve seu primeiro encontro com Billy Wilder, e Se Meu Apartamento Falasse ganhou os Oscar de melhor filme, direção e roteiro original. Três anos mais tarde, Irma la Douce repetiu o trio – Wilder/Shirley/Jack Lemmon. Não fez tanto sucesso de crítica – Jean Tulard, no Dicionário de Cinema, define o filme como ‘execrável’ -, mas estabeleceu em definitivo Shirley e Jack como dupla ‘wilderiana’. Não faltaram grandes filmes – Charity, Meu Amor, de Bob Fosse, a versão musical (via Broadway) de um clássico de Federico Fellini, As Noites de Cabíria; e Muito Além do Jardim, de Hal Ashby, quando contracenou com Peter Sellers. Sucessos de público contam-se aos montes – O Rolls-Royce Amarelo, Os Abutres Têm Fome, o western de Don Siegel com Clint Eastwood e elas, Madame Souzatska, Flores de Aço, etc.

Em 1983 recebeu o Oscar, por Laços de Ternura, comédia dramática de James L. Brooks que recebeu mais quatro prêmios da Academia, incluindo filme, direção, roteiro adaptado e ator coadjuvante (Jack Nicholson). Nesse filme ela faz uma mãe sofredora que assiste à degradação física da filha, que morre de câncer. Conta a lenda que Shirley e Debra Winger, a filha, brigavam o tempo todo no set. Shirley não perdoou – mostrava a estatueta e soprava para Debra, ‘Eu ganhei!’ Shirley também é escritora. Escreveu autobiografias, no plural, nas quais expressa sua crença na reencarnação. Também acredita em óvnis. Por causa disso, ganhou a fama de velha excêntrica. Pode até ser que seja – de perto ninguém é normal, nem perfeito, como dizia Billy Wilder -, mas sua capacidade de provocar humor e drama é única. Na mesma cena, Shirley consegue fazer rir e chorar. É uma grande e maravilhosa atriz.