Desde 2011, quando recebeu do então rei Juan Carlos de Espanha o título de marquês de Vargas Llosa, ele merece o tratamento protocolar de “ilustríssimo señor”. É provável, porém, que, mesmo sem o título real, Mario Vargas Llosa devesse ser chamado de ilustríssimo. Poucos escritores são tão premiados quanto ele. Biblioteca Breve, Romulo Gallegos, Príncipe Asturias de las Letras, Planeta, Cervantes. E, claro, em 2010, coroando sua atividade como escritor, cereja do bolo, o Nobel. O comitê sueco lhe outorgou o mais prestigiado prêmio das letras mundiais “por sua cartografia das estruturas de poder e suas imagens mordazes da resistência do indivíduo, sua rebelião, sua derrota.”
Nesta segunda-feira, 28, Jorge Mario Pedro Vargas Llosa, ou simplesmente Mario Vargas Llosa, comemora 80 anos – nasceu em Arequipa, no Peru, em 1936. Em 1993, adquiriu a nacionalidade espanhola, sem nunca romper com suas raízes andinas. Escreveu livros como Conversa no Catedral, Pantaleão e as Visitadoras, Tia Júlia e o Escrevinhador. Alguns foram adaptados para cinema ou TV. Político, ensaísta, polemista profissional, Vargas Llosa escreveu diretamente para o cinema. Foi jurado em Cannes.
Impossível esquecer-se disso neste dia tão especial, já que foi justamente na estreia de um filme do qual foi roteirista, na Cidade do México, que protagonizou o episódio talvez mais controverso de sua vida. Desde 1967, quando recebera o Gallegos, Vargas Llosa tornara-se grande amigo de Gabriel García Márquez, outra glória das letras latino-americanas. Vargas Llosa o admirava tanto que obteve o Doutorado em Filosofia e Letras na Universidade Complutense de Madri, com a qualificação ‘cum laude’, por sua tese sobre ‘lengua y estrutura’ na obra narrativa do amigo, publicada como García Márquez – Histórias de Um Deicídio. Até por conta disso – da estima e da admiração -, causou perplexidade o que ocorreu naquele 12 de fevereiro de 1976, no Palácio de Belas Artes do México. O escritor colombiano adiantou-se para cumprimentar o peruano e recebeu dele um soco na cara. Até hoje há controvérsia se Vargas Llosa disse se aquilo era pelo que García Márquez “havia dito (ou feito) a Patricia em Barcelona”. Patricia era sua mulher, na época.
Nenhum dos dois jamais falou sobre o assunto, mas a amizade e a ruptura violenta são temas de livros como Gabriel y Mario e Aquellos Años de Boom, de Xavi Ayén. Em 2015, Vargas Llosa separou-se de Patricia. Casou-se com uma mulher mais jovem. Nesta segunda, é possível que reflita sobre o que disse García Márquez numa de suas últimas entrevistas. Quanto lamentava a perda de um grande amigo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.