À diferença de outros museus do mundo, nos do Vaticano os visitantes entram num lugar ainda habitado. E por ninguém menos que o papa. Metade do meio quilômetro quadrado que compõe a Cidade do Vaticano, a sede da Igreja Católica, é ocupada por um complexo de museus com algumas das obras de arte mais valiosas e importantes do mundo. Neste ano, os 18 museus mais salas, capelas e aposentos do Palácio Apostólico que compõem esse conjunto completam cinco séculos de existência.
Para comemorar a data, o Vaticano reformou alas e, ao longo de 2006, vai realizar festas, exposições e celebrações financiadas pela própria Igreja e também por parceiros doadores – embora não divulgue quanto vai gastar com a festa. Segundo o diretor dos Museus do Vaticano, Francesco Buranelli, no ano passado 3,8 milhões de pessoas percorreram os quase 6 quilômetros de área aberta ao público, garantindo receita de 40 milhões. Metade do valor cobriu as despesas de manutenção e o pagamento de 400 funcionários. O restante foi para os cofres do Estado do Vaticano.
A história dos cinco séculos dos Museus do Vaticano é tão rica quanto seu acervo, que atualmente conta com 30 mil obras expostas de diversas épocas e de valor inestimável. Sem contar os armazéns, que guardam milhares de objetos de arte que, por diversos motivos, não são mostrados ao público.
Sua fundação é atribuída ao papa Julio II (1503-1513), que comprou um grupo de esculturas descobertas por acaso em 1506 nas proximidades do Coliseu, em Roma. Eram estátuas em mármore que Plínio, o Velho, morto durante a erupção de Pompéia no ano 79 d C, havia citado em suas escrituras, atribuindo a autoria aos artistas gregos Agesandro, Atenodoro e Polidoro de Rodes.
A escultura principal representa o sacerdote troiano Laocoonte que, por ter avisado seus concidadãos de que o cavalo levado a Tróia escondia os inimigos, foi condenado pelos deuses Atena e Poseidon. Como punição, os deuses enviaram do mar duas serpentes que o aprisionaram junto de seus dois filhos, enrolando-os até a morte. Impressionado com a harmonia das estátuas, Julio II decidiu comprá-las para expô-las com a sua coleção particular, no jardim dentro do pátio do Miradouro. Essa mostra deu origem aos Museus do Vaticano.
Nesse pátio encontram-se diversas estátuas, como a de Apolo, o deus da beleza. A perfeição da escultura inspirou o artista Michelangelo Buonarroti (1475- 1564) quando, em 1508, pintou na Capela Sistina o rosto de Cristo parecido com Apolo. Mais de dois séculos depois, o pátio ganhou o nome de Octogono, pela forma que lhe deu Clemente XIV, em 1772.
Assim como nas fábulas dos palácios reais, não poderia faltar a lenda de um fantasma dos Museus. A lenda está ligada ao espanhol Rodrigo de Borja y Doms (pai de Cesar e Lucrecia Borgia), que ao ser eleito papa assumiu o nome de Alexandre VI (1492- 1503). O marido de Lucrecia foi assassinado no quarto secreto do apartamento do papa – decorado pelo artista Pinturicchio – situado no primeiro andar do palácio . Logo após a morte dele, nenhum papa quis morar naquele apartamento, provavelmente pela superstição do fictício fantasma.
