Desde muito cedo, Agildo Barata Ribeiro já demonstrava inegável aptidão para o humor. No austero Colégio Militar do Rio de Janeiro, arrancava gargalhadas dos colegas de turma ao imitar professores e contar piadas. Quando contou a façanha em casa, a mãe não achou a menor graça. Já o pai, famoso líder comunista, deu a maior força. “Naquele tempo, atriz era puta e ator, veado. Já imaginou ser veado num colégio interno? Estaria perdido…”, brinca. Com ou sem o apoio da família, Agildo seguiu sua vocação artística. E lá se vão 50 anos desde que estreou o musical Doll Face, de Lewis Seiler.
Para comemorar a data, Agildo estréia novo espetáculo, lança livro de piadas e cria personagem novo para o Zorra Total. “Completar 50 anos de humor não é nada. Importante é criar 50 de vida. Isso sim é motivo de orgulho”, frisa.
De vida, Agildo já tem 72, completados no último dia 26 de abril. Para ele, o segredo de uma vida saudável é simples: “Levar tudo na sacanagem”. “Sou assim desde a hora em que acordo até a que vou dormir. Comigo não tem tempo ruim”, garante. Por ironia, a única coisa que tira Agildo do sério é a Globo, emissora em que trabalha, ininterruptamente, há cinco anos, desde que estreou o Zorra Total. “Às vezes, acho mais graça do que se passa em Brasília do que nos programas humorísticos”, alfineta. Mesmo assim, ele se prepara para estrear novo tipo no programa: Pompeu, um sujeito que não gosta muito de trabalho. Embora tenha renovado com a Globo por mais três anos, não descarta a possibilidade de tentar a sorte em outras emissoras. “Sei que podia estar rendendo mais. Já já, chuto o balde”, ameaça.
Marcas
Mas foi na Globo que Agildo viveu alguns de seus momentos mais marcantes. O primeiro deles foi quando apresentou, ao lado do boneco de pano Toppo Gigio, o programa Mister Show, de 1969 a 1970. “Outro dia mesmo, vieram me mostrar um chaveiro que tinha o Toppo Gigio de um lado e eu do outro. Dá para acreditar?”, espanta-se. Outro momento inesquecível na carreira do humorista foi o programa Planeta dos Homens, que apresentou ao lado de Jô Soares de 1976 a 1982. Para Agildo, a ditadura militar foi a época mais profícua para a criação de alguns de seus tipos mais hilariantes, como o Professor de Mitologia Aquiles Arquelau, que popularizou o bordão “coisa horrorosa!”. “A ‘múmia paralítica’ era uma piada que eu fazia com a censura. Quando ela tocava a campainha, eu parava imediatamente de falar”, relembra.
Mas nem só de personagens cômicos vive Agildo Ribeiro. Em 1985, ele chegou a participar da novela De Quina para a Lua, de Alcides Nogueira, como o professor Cagliosto. Na trama, o humorista teve direito até a um inusitado triângulo amoroso com as personagens de Eva Vilma e Elizabeth Savalla. Mais recentemente, atendendo a pedidos do diretor Walter Avancini, fez rápida participação em Mandacaru, da Manchete.
A sua mais recente incursão por papéis ditos sérios, porém, aconteceu no cinema. No filme O Homem do Ano, de José Henrique Fonseca, Agildo interpreta um dentista que encomenda a morte de um assaltante ao matador de aluguel vivido por Murilo Benício. “Quando li as críticas no jornal, fiquei boquiaberto: todo mundo elogiou. Ninguém conhecia esse meu outro lado. A memória do brasileiro parece esperma de formiga”, exagera.
Pontos
Agildo não tem razão de reclamar. Todos os dias, quando sai de casa em Itaipava, na região serrana do Rio, ouve alguns dos bordões que o ajudaram a consagrar como “Posso perguntar? Perguntar não ofende!” ou “Dá uma subidinha, dá…”. E mais: segundo ele, muitos criticam a sua pouca participação no Zorra. Outros, mais inconformados, perguntam quando ele volta a apresentar um programa só seu, como aconteceu também na Globo na época do Estúdio A… Gildo, em 1982. “Hoje em dia, o Zorra dá 32 pontos e o pessoal já faz festa. Quando o Planeta caía para 72, o Boni já mandava memorando para todo mundo. Era esporro para todo lado”, compara, em mais um incontrolável acesso de nostalgia.