Em 1978, depois da bem-sucedida estréia como autor de novelas em Maria, Maria, adaptada do romance Maria Dusá, do escritor Lindolfo Rocha, Manoel Carlos recebeu uma “encomenda” de Herval Rossano. O diretor queria uma nova adaptação da literatura brasileira, também para o horário das 18h. Menos de quatro meses depois do final de sua primeira trama, entrava no ar A Sucessora, cuja estréia completa 25 anos no próximo dia 9. A escolha do romance homônimo de Carolina Nabuco ficou por conta do próprio Manoel, que não consegue se lembrar de outra justificativa senão o fascínio que a casa da escritora exercia sobre ele naquela época. “Freqüentávamos a casa da Carolina e víamos coisas inesquecíveis, como fotos dela com Machado de Assis e Santos Dumont”, rememora o autor.
A história gira em torno do amor entre o sofisticado Roberto Steen e Marina, uma jovem de hábitos simples, personagens de Rubens de Falco e Susana Vieira. E do clima de mistério e suspense criado por Juliana, governanta apaixonada pelo patrão, vivida por Natália Timberg. Depois de se casar com Roberto, Marina passa a viver numa casa onde tudo lembra a falecida esposa do marido -de fotos e objetos espalhados pelos cômodos à insistência de Juliana em atormentar Marina com a imagem da antiga patroa. “Nada mais é que a história de Rebeca, a Mulher Inesquecível, do Hitchcock: a mulher morre, mas é mantida viva dentro de casa”, explica o autor, que faz questão de destacar que a obra de Carolina foi escrita antes da de Daphne du Maurier, que inspirou o filme do mestre do suspense.
Densos
Uma das maiores produções de época da Globo para o horário das 18 h, A Sucessora foi vendida para cerca de 50 países, entre eles Holanda, Itália, União Soviética e Suíça, onde foi exibida duas vezes. O suspense e o clima psicológico eram as grandes inovações para o horário, mas as maiores lembranças do elenco são os personagens densos. Natália até hoje ouve comentários sobre a misteriosa Juliana e não se esquece da abordagem de uma criança na rua. “Um menininho que mal sabia falar direito olhou bem na minha cara, apertou os olhos e disparou: ?Sua chata!?”, diverte-se a atriz, que destaca Juliana como uma de suas personagens mais fortes na tevê. Da mesma forma, Rubens de Falco reconhece em Roberto seu único papel que conseguiu chegar perto da repercussão do vilão Leôncio, de A Escrava Isaura, exibida dois anos antes. “Era um bom marido, bom pai, bom amigo e ainda por cima generoso. Mesmo assim, não conseguiu apagar o Leôncio”, reconhece.
Na pele de Marina, Susana Vieira, que hoje interpreta Lorena em Mulheres Apaixonadas, fazia seu primeiro trabalho com Manoel Carlos. E foi o suficiente para que ela nunca mais titubeasse ao aceitar um convite do autor, com quem atuou ainda em Baila Comigo, de 1981, e Por Amor, de 1997. “O Maneco cuida muito bem de mim. Nem pergunto qual é a história antes de fechar um trabalho com ele”, garantia a atriz, à época da estréia da atual novela das oito. Paulo Figueiredo é outra figura comum aos dois elencos. O intérprete de Afrânio vivia o jornalista Miguel, um primo apaixonado por Marina, mais um dos inúmeros obstáculos ao casal protagonista. As lembranças mais fortes do ator, no entanto, dizem respeito a sua trajetória pessoal. “Era contratado da Tupi, que estava agonizando, e vim para o Rio estrear na novela. Foi ótimo, porque conheci gente muito boa e perdi o medo de enfrentar outra cidade, outra vida”, lembra Paulo.
Cena recorrente
Para o autor Manoel Carlos, é difícil escolher os personagens mais marcantes da trama. “Como eram muito poucos, todos são inesquecíveis”, despista. Mas cita as atuações de Susana e Rubens, Arlete Salles no papel de Germana, irmã de Roberto, e a governanta de Natália, responsável por uma cena que ele garante ter repetido em várias de suas novelas. Com ciúmes de Roberto, ela pegava uma rosa cheia de espinhos e ia apertando nas mãos até que elas começassem a sangrar. “Era uma bela cena. Como fui eu que criei, posso usar quantas vezes quiser. Acho até que ainda dá tempo de colocar em Mulheres Apaixonadas”, diverte-se.