Orquestra Real do Concertgebouw se apresenta no Brasil

Foi durante uma récita de La Bohème, em Oslo, em 1997. A ópera já se encaminhava para o fim quando o maestro caiu do pódio. Foi acudido pelos músicos à sua volta, estupefatos: no chão, o rosto contorcido de dor por conta de um enfarte, ele continuava a reger. No tempo certo. A história, na narrativa de quem a vivenciou, virou lenda – e testemunho do talento do letão Maris Jansons. Há outros, mais concretos. Simon Rattle, diretor da toda poderosa Filarmônica de Berlim, se refere a ele como o maior maestro da atualidade. E, em 2009, quando a revista Gramophone fez uma enquete para eleger as maiores orquestras do mundo, ele foi o único a ter dois dos grupos que comanda entre as dez mais. E é com a primeira colocada, a Orquestra Real do Concertgebouw de Amsterdã, que ele desembarca no dia 23 no Brasil, para concertos em São Paulo e no Rio.

As apresentações fazem parte dos festejos pelos 125 anos do grupo, que resolveu comemorar o aniversário com concertos em todos os continentes. A primeira apresentação em São Paulo (pela Sociedade de Cultura Artística) será no dia 23, ao ar livre e com entrada franca, no Auditório Ibirapuera – e será transmitida ao vivo em um telão na Museumplein de Amsterdã. No programa, obras de Enescu, Prokofiev, Stravinski, Bizet e Villa-Lobos. Já na Sala São Paulo, nos dias 24 e 25, as obras serão outras: a Rapsódia Sobre Um Tema de Paganini, de Rachmaninov, e a Sinfonia n.º 5 de Tchaikovski, no primeiro dia, e, no segundo, além da rapsódia, a Sinfonia n.º 1 de Mahler.

“Esta tem sido uma jornada especial”, diz Jansons, lembrando que se trata da primeira vez que uma orquestra visita todos os continentes em uma só temporada, e comentando a recente viagem do grupo à Ásia, onde interpretaram todas as sinfonias de Beethoven. “Desde o início, o jubileu da orquestra foi compreendido como uma maneira de disseminar nossa cultura, nossa música, nossa maneira de trabalho. Você pode imaginar as proporções do planejamento que isso exigiu, mas nossa percepção é de que o objetivo tem sido atingido.”

Sobre o repertório, ele reconhece que a atenção especial recai sobre a sinfonia de Mahler. “É natural que seja assim. Há uma relação entre a orquestra e sua música, e ela é antiga. Basta lembrar que Wilhelm Mengelberg, um dos primeiros diretores do grupo, foi também um dos primeiros a incentivar a execução de suas composições.” Isso, claro, no início do século 20 – e os músicos daquela época já não estão mais na orquestra. Como, então, manter viva essa tradição. “Sou o primeiro a dizer que isso poderia soar exagerado, quer dizer, como um grupo que tocou Mahler no início do século poderia manter uma ligação em primeira mão com ele tanto tempo depois? Mas este é um dos aspectos que mais chamam a atenção no trabalho deles. Há um fluxo interessante da tradição, que se explica pelo modo como os jovens instrumentistas estão sempre em contato com a antiga geração. E a troca de experiências dá à sonoridade deles uma característica sempre especial.”

ORQUESTRA REAL DO CONCERTGEBOUW – Sala São Paulo. Dias 24 e 25,

21 h. R$ 140/ R$ 390. Dia 23, 11 h, grátis, Parque do Ibirapuera.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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