Orquestra AfroReggae abre 5ª edição da mostra ‘Antídoto’

Com repertório em que conversam Michael Jackson, Bach, música barroca e funk, a Orquestra AfroReggae Diego Frazão abre a quinta edição de “Antídoto – Mostra Internacional de Ações Culturais em Zonas de Conflito”, apresentando-se neste fim de semana no Itaú Cultural, em São Paulo. “É um som muito diferente, jovem, despretensioso, mais divertido do que técnico. Nosso maior projeto é mudar o estado de brutalidade da vida”, afirma o maestro Guilherme Carvalho, que ajudou a formar a orquestra de cordas nascida em Parada de Lucas, comunidade carioca de cerca de 100 mil pessoas, cortada pela Avenida Brasil e fronteira com Vigário Geral.

“Antídoto”, parceria do Grupo Cultural AfroReggae e o Instituto Itaú Cultural, tem como proposta refletir e compartilhar as vivências da produção de cultura em áreas de embates sociais, religiosos e étnicos em todo o mundo. Com programação gratuita, reúne exposições de fotos, seminários, discussões sobre música e cartoons, shows e filmes, promovendo encontros entre artistas, líderes sociais e pensadores do País e, neste ano, de Guiné Bissau, Moçambique, Paquistão, Congo, Zâmbia, Índia, Irã, Serra Leoa, México, Grã Bretanha e Estados Unidos.

A parceria, segundo Edson Natale, gerente do Núcleo de Música do Itaú Cultural, surgiu de uma conversa em 2005. “Eles tinham vivido uma situação difícil entre Parada de Lucas e Vigário Geral, comunidades divididas por uma rua e dominadas por comandos diferentes”. O primeiro evento foi um seminário com duração de uma semana. Hoje, “Antídoto” toma um mês inteiro, mostrando musculatura e maturidade. “A arte não é a única forma de mediar conflito, mas é um know how bem brasileiro. O País pode se tornar protagonista nessa área”, afirma Natale.

Segundo Guilherme Carvalho, Parada de Lucas é muito familiar e basicamente formada por imigrantes nordestinos, enquanto em Vigário Geral predominam negros. O trabalho cultural desenvolvido pelo AfroReggae nas duas comunidades é diferente. Enquanto a força de Vigário Geral está na percussão; a de Lucas está nas cordas. “A comunidade abraça e se identifica ao ver os meninos passando com os instrumentos pelas ruas, chamando a atenção. Todo mundo é muito curioso e feliz com esse projeto”, diz o maestro. “Hoje se tivéssemos 5 mil instrumentos, atenderíamos 5 mil meninos, muitos esperam meses por um instrumento para começar a estudar. A maior parte continua porque descobre uma vontade imensa, uma necessidade de fazer essa história”.

Em Lucas, o programa atende hoje cerca de 120 crianças e adolescentes com oficinas de musicalização em instrumento. “Há cinco anos não havia perspectiva de uma orquestra, mas fazer uma oficina de violinos é quase como plantar uma semente de uma árvore e não esperar que ela se torne uma árvore um dia”, considera Guilherme. De seis violinos, a orquestra passou a 10, depois a 20, 30 e 40. “Aí chegaram as violas, depois entraram os violoncelos e, desde o ano passado, os contrabaixos, que formaram uma orquestra de cordas na sua totalidade, com o quarteto de instrumentos dessa estrutura” A orquestra de cordas de Parada de Lucas tem 26 componentes entre 7 e 29 anos e leva o nome do jovem violinista Diego Frazão, que morreu há um mês, aos 12 anos, de complicações de uma leucemia. Segundo o maestro, o show no Itaú Cultural traz um repertório que Diego gostava especialmente de tocar.

Antídoto – Mostra Internacional de Ações Culturais em Zonas de Conflito. De 1 a 30 de maio, programação variada. Abertura dias 1 e 2, às 20h, com a Orquestra de Cordas AfroReggae Diego Frazão e Renato Braz. Entrada franca, ingressos distribuídos com meia hora de antecedência.

Espaço Antídoto. De 1 a 21 de maio – Exibição permanente e contínua de curtas, documentários e filmes. De segunda a sexta, das 9h às 22h. Sábado, domingos e feriados, das 11h às 22h. Entrada franca. Itaú Cultural – Av. Paulista, 149 – estação Brigadeiro do metrô. Fones: (11) 2168-1776/1777. www.itaucultural.org.br

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