Ópera ‘Yerma’, de Villa-Lobos, é encenada em Paris

Um público habituado a frequentar clássicos como “La Bohème”, de Puccini, e “Salomé”, de Strauss, em templos como a ópera Garnier, pôde degustar e descobrir, na noite de segunda-feira, um espetáculo erudito genuinamente latino-americano. A ópera “Yerma”, composta por Heitor Villa-Lobos e baseada nos textos de Frederico García Lorca, foi encenada em um dos santuários culturais da França, o Hôtel des Invalides, em Paris, em uma homenagem aos 50 anos da morte do brasileiro, dia 17.

A apresentação, com direção artística de André Heller-Lopes, foi a terceira e última de uma curta turnê iniciada em Berlim e com passagem também por Lisboa, em um ciclo de homenagens patrocinado pelas embaixadas do Brasil nos três países.

Baseada na célebre peça teatral de García Lorca, a ópera de Villa-Lobos narra a história trágica de Yerma, uma mulher obcecada pela ideia da maternidade não realizada, cujo marido, Juan, embora a ame, se recusa a ter filhos. A essa relação somam-se um vértice de um triângulo amoroso, Victor, paixão da protagonista, e as moradoras do vilarejo, que trazem consigo os moralismos opressores do casal. Esse texto foi convertido por Villa-Lobos em uma ópera de três atos entre 1955 e 1958 e é uma das três, ao lado de Yzath e A Menina das Nuvens, criadas a partir de 1914 pelo compositor brasileiro – inspirado, aliás, por sua passagem por Paris.

A montagem proposta por Heller-Lopes e realizada no Grand Salon de Invalides trouxe, em uma hora e 20 minutos, os “melhores momentos” da obra, encenada com quatro cantores ao som do piano de Marcos Aragoni, do Teatro Municipal de São Paulo. É uma forma, segundo o diretor, de propor a redescoberta da música erudita do Brasil por meio de um concerto original que enfatiza partituras raras e foge às obras mais conhecidas do compositor, como “Serestas”, “Canções da Floresta Amazônica” e “Bachianas nº 5”.

A encenação na capital francesa foi apenas a quinta montagem da ópera, realizada pela primeira vez por John Blankenship, na Santa Fé Opera, em 1971, e reproduzida apenas em 1983 no Brasil, no Teatro Municipal do Rio. Desvelar um trabalho raro de Villa-Lobos a um público apreciador da música erudita era, aliás, o objetivo de Heller-Lopes. “Senão Yerma, que outra apresentaríamos? Todas as três óperas de Villa-Lobos são desconhecidas do grande público. E Yerma é um texto excepcional de García Lorca, forte e emocionante”, definiu o diretor. “Apresentá-la na Europa é uma forma de despertar a curiosidade por Villa-Lobos.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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