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Ópera forma mosaico sonoro e de texto

O assunto é ópera, mas primeiro uma definição científica. Neutrinos são partículas que viajam quase à velocidade da luz e atravessam, aos bilhões, todos os corpos. Sugerem, portanto, se a filosofia entra na mistura, uma presença constante, que ultrapassa a ideia de tempo (ou evoca para ele um outro sentido), e nos define. Como uma ideia, ou conjunto de ideias, influencia tudo o que fazemos, sem que necessariamente percebamos esse processo.

É aí que entra Pitágoras, filósofo e matemático grego. “É como se Pitágoras fosse visto por mim como um neutrino, um neutrino da história da humanidade, viajando, porém lentamente, e interagindo com quase tudo: física, música, cosmologia, política, ética, religião e filosofia”, explica o compositor Flo Menezes, que estreia nesta sexta, 27, em São Paulo, sua ópera Ritos de Perpassagem.

Assim, a ópera não narra necessariamente uma história, “mas uma situação filosófica humana, que atravessa os séculos, que é o pitagorismo”. “Ele cantou a bola e deu o chute inicial para diversos campos. E influenciou a história da humanidade inteira. Arrisco-me a dizer que Pitágoras influenciou mais a humanidade do que Cristo”, completa.

A metáfora futebolística estará sobre o palco a certa altura do espetáculo. Não só. “Quebro tabus e revoluciono a ópera sob vários aspectos: simultaneidade de cenas; transmigração de personagens para vozes e sexos distintos; existência de personagens-som; não há nem início nem fim, tampouco intervalo da ópera: a ópera extravasa a arquitetura do teatro e o tempo de concerto. Há narrador: a ópera é também oratório; há eletrônica; há até música acusmática; cena de absoluto silêncio; há jogo e participação do público”, diz ainda Menezes.

O próprio compositor assina o libreto, ou seja, o texto da ópera. “Trata-se de um mosaico cuidadosamente costurado por mim em nove línguas em torno do pitagorismo, com autores que vão de Pitágoras a Anaxágoras, e a Roland Barthes, Fernando Pessoa, Augusto de Campos e outros. Episódios de vida do início do pitagorismo – Pitágoras – e de seu considerado fim – Johannes Kepler – entrelaçam-se, como os fios da teia de aranha que aprisiona e suspende Aracne na última cena, em que entrelaço Ovídio, Santo Agostinho e Roland Barthes: uma suspensão da própria escritura – por mal sermos compreendidos no capitalismo e muito menos ainda na atual era neofascista, mas também porque, se as coisas continuam a ser o que são, nós, artistas e filósofos, estamos sempre com os nossos pés um pouco acima do chão”, explica também.

A ópera será interpretada, além da orquestra do Teatro São Pedro, pelos cantores do grupo alemão Neue Vocalsolisten, pelo Grupo de Percussão da Unesp (Piap), pelo Studio PANaroma (da Unesp, dirigido por Menezes) e pelo Coro Contemporâneo de Campinas, com regência de Ricardo Bologna e direção cênica de Marcelo Gama.

Músicos e público estarão em contato próximo desde a chegada ao teatro – e, se assim quiserem, membros da plateia poderão até mesmo receber maquiagem. É nessa quebra de limites que reside outro aspecto da obra. O ser humano, diz Menezes, cria limites, regras, para depois ultrapassá-los. Nessa quebra está justamente um dos papéis da arte – e nesse sentido, Ritos de Perpassagem é um tipo de espetáculo que propõe uma investigação a respeito da condição humana. Ópera.

RITOS DE PERPASSAGEM
TEATRO SÃO PEDRO. R. BARRA FUNDA, 161, TEL. 3661-6600. 6ª (27) E SÁB. (28), 20H; DOM. (29) 17H. R$ 30 A R$ 80
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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