Em 1983, Leonilson foi visitar a mostra Pintura Como Meio, na qual o Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP apresentava obras dos – então – novos artistas Ana Maria Tavares, Ciro Cozzolino, Leda Catunda, Sérgio Romagnolo e Sérgio Niculicheff (coincidentemente, a exposição é atualmente homenageada na nova sede da instituição). “Ele foi lá e me ligou”, conta Leda Catunda, sobre uma passagem histórica.
Naquela época mesmo, os dois tornaram-se amigos – e no ano seguinte, já estavam expondo juntos na Galeria Luisa Strina, em São Paulo. “Nos anos 80, não existia a figura do jovem artista, mas o Leonilson já veio antes de tudo: antes da Casa 7, de A Pintura Como Meio, e era também dos únicos a ter galeria”, conta a pintora. “Ele exerceu uma liderança e uma influência estética enormes nos seus pares”, completa Leda, que agora se lançou ao desafio de organizar a mostra Leonilson: Verdades e Mentiras, que será inaugurada amanhã, na Galeria Superfície.
A exposição, diferentemente da que será aberta em agosto na Estação Pinacoteca, joga luz também para a produção mais antiga do artista, do início de sua carreira. Desse período, vale citar a exibição de três pinturas da década de 1980 – entre elas, Carro Invisível (Pure Freud), de 1982, e Ícaro e a Queda (1984) – e o desenho Sem título (Saluta, Diane), de 1983. É, entretanto, uma mostra mais reduzida, com cerca de 24 obras (emprestadas de colecionadores e outras, à venda) e compreendendo, nesse conjunto, edições de pequenas peças produzidas em bronze (a da escadinha e do coraçãozinho) – e excetuando os famosos bordados que Leonilson criou no fim de sua vida.
“Desde que ele morreu, os curadores têm predileção pelos últimos anos de sua produção, na qual eu enxergo uma síntese mais forte”, considera Leda. “Tinha uma preocupação dele de fazer os bordados e tudo ficou muito mais dramático, o trabalho, mais pessoal”, continua a artista, contando, curiosamente, que criticou Leonilson quando ele começou a usar a palavra em suas obras.
“Mas a verdade é que adoro suas pinturas dos anos 80, eram espontâneas, mais abertas, e que tiveram uma conexão forte com o que havia na Itália e na Alemanha, porque o Leonilson viajava muito. Acho todas elas poderosas e que não foram suficientemente vistas”, diz ainda. Segundo a pintora, o amigo representava símbolos do que via em seu dia a dia nas obras pictóricas mais antigas e depois esse repertório foi ficando mais pessoal e mais poético.
Como conta Leda Catunda, que foi, inclusive, uma das participantes da fundação do Projeto Leonilson logo após a morte do artista, sua vontade foi realizar a montagem da atual mostra aos moldes dos critérios do amigo. “Ele tinha uma personalidade muito forte”, conta a pintora. Para a ocasião, ainda, ela, que é também uma das criadoras expoentes da arte brasileira, escreveu um texto sobre sua relação com o amigo. “Estávamos sempre muito juntos.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.