“Tenho três horas e dez minutos de filme tranqüilamente e poderia acrescentar cenas de época de Berlim, Rússia, Brasil, além de depoimentos de sobreviventes da Segunda Guerra. Pode virar uma microssérie para daqui a dois anos com tratamento mais para TV e com quatro capítulos e ainda daria um banho”, revela Jayme.
Jayme contou que está tão ansioso que não consegue pensar nem em expectativa de público nem em números de bilheteria. Segundo ele, a inexperiência em cinema o faz se preparar como um iniciante para tudo que está acontecendo.
“Não sei lidar com isso. Dois milhões para mim em TV é um fracasso. Em cinema é sucesso? É estranho para mim. De qualquer maneira quero que o exibidor e o distribuidor saiam com lucro.”
Jayme revelou uma estratégia típica de cineasta iniciante: sexta-feira vai para a fila dos cinemas em várias sessões diferentes para ver a reação do público.
“Vou me esconder para saber o que vai acontecer. Essas pré-estréias com convidados como aqui em Gramado não são suficientes para medir a reação do público. Mas sei que estão gostando e se emocionando com a história. Isso é que importa: gosto de contar histórias e se for com uma superprodução, melhor ainda”, disse o diretor.
“A novela vai falar antes de tudo de sonhos. De vida após a morte, do universo dos deficientes físicos, o mundo dos rodeios, tudo isso vai estar na novela. Gosto de histórias populares”, acrescentou.
Sobre algumas críticas que vem recebendo, algumas vindas da filha de Olga Benário, Anita Leocádia Prestes, Jayme disse não se importar. A herdeira da história política da mãe disse, em pré-estréia do filme semana passada no Rio de Janeiro, que o filme “não passa esperança”. Para o diretor, é direito dela não gostar do filme. Mas ressalva que a história retratada na tela não é dela.
“O que importa é que ela tem respeito pelo filme como muita gente tem. O que me disse é que eu poderia ter colocado um discurso de Prestes no final para passar mais otimismo. Mas a história é de Olga – afirma Jayme, que gosta de deixar claro que o filme é sobre as façanhas da militante comunista alemã e judia que se apaixonou pelo líder revolucionário brasileiro Luís Carlos Prestes.
Sobre algumas ressalvas que vem ouvindo em relação a sua intensa trilha sonora que acompanha todas as 2h15m do filme, Jayme disse que é proposital:
“Exagero na música sim. Marquinhos (o compositor da trilha Marcos Vianna) é meu parceiro e fazemos assim em todos os nossos trabalhos. Quero que as pessoas se emocionem com o filme, com a música também. Que chorem mesmo sem medo”, garante Jayme.
Monjardim transformou filme em novela
Balzac e a Costureirinha Chinesa. Pegando carona no título do filme cino-francês em exibição em São Paulo, talvez se pudesse rebatizar Olga, o filme que Jayme Monjardim adaptou do livro de Fernando Morais, como Marx e o costureirinho brasileiro. Numa cena decisiva, Luiz Carlos Prestes faz um vestido para a sua Olga. Ele conta que aprendeu a costurar com a mãe e as irmãs. O diretor Monjardim e a roteirista Rita Buzzar, também produtora, poderiam estar usando o ato de costurar no seu sentido metafórico, mas não. Ao longo do filme, Prestes não soube costurar alianças.
É a sua tragédia. Termina isolado numa cela pequena, um patético general sem soldados, como lhe atira na cara o arquiinimigo Filinto Müller. Olga inaugurou na segunda-feira à noite o 32.º Festival de Gramado – Cinema Brasileiro e Latino. Na sexta, toma de assalto 260 salas de todo o País.
Jayme Monjardim transformou Olga num novelão e você pode até achar que era o que se deveria esperar de um diretor com experiência em telenovelas. Ele se defende. Diz que não pensou em cinema nem televisão. Contou a história de Olga como conta todas as suas histórias de amor. O filme é muito bem produzido. É raro ver-se, no cinema brasileiro, uma obra de época em que tudo pareça verdadeiro. Olga tem também diálogos fracos, uma sucessão infinita de palavras de ordem e uma música melosa que invade, como intrusa, a maioria das cenas.
Por exemplo, Camila Morgado diz, lá pelas tantas, que se pode aprender com os erros. Teria sido essa a intenção ou o seu contrário? Os sonhos desfeitos, a guerra perdida, só o que resta nesse mundo de perdedores – e é muito, convenhamos – é a integridade pessoal. A caminho da câmara de gás, Olga diz que não está aceitando passivamente a própria morte. É quando ocorre a cena mais bela, que a roteirista foi buscar em Fernando Morais porque também é a idéia que encerra Chatô. A Olga adulta reencontra a menina que foi. O filme estréia na sexta-feira, em 260 salas no Brasil. (Luiz Carlos Merten)