Foram 17 dias, 1.280 alunos, 77 cursos, 45 concertos oficiais e uma seleção de alguns dos maiores mestres da música (erudita, contemporânea e MPB) entre os 98 professores à frente das oficinas e workshops. A 22.ª Oficina de Música de Curitiba terminou sábado, e mostrou que está consolidada como um dos maiores eventos do Brasil no gênero, definitivamente inserida no calendário musical internacional.
A fase erudita, iniciada no dia 7, contou com monumentos da música, como o trompetista Bud Herseth, 82 anos, integrante da Chicago Symphony Orchestra e possivelmente o maior trompete sinfônico do mundo, que ministrou um masterclass por 100 reais e freqüentou concertos.
Da Chicago Symphony também vieram o trombonista Charles Vernon e o violinista David Taylor. Vernon, que tocou com a Banda Sinfônica da 22.ª Oficina, executou em primeira audição mundial uma obra composta especialmente para ele, Vision of Light, de Eric Ewazen. A premiadíssima violinista Irina Tseitlin, dos Estados Unidos, também integrou o corpo docente, ao lado do clarinetista Joaquin Valdepenas, do Canadá, do oboísta Gordon Hunt e da soprano Jennifer Smith, da Inglaterra, e do pianista Frank Braley, da França. A Lehigh Univesity Philharmonic Orchestra veio com todos os seus integrantes e realizou concerto sob a regência do seu maestro titular Paul Chou, apresentando-se com o pianista gaúcho Ney Fialkow, que atua nos Estados Unidos.
“Artistas como esses atraem gente do mundo inteiro para vê-los”, conta Janete Andrade, presidente do conselho artístico da Oficina. “Muitos deles, que não saem de casa por menos de 10 mil dólares para um show, vêm, ficam dez dias, dão oficinas e concertos por um cachê máximo de 1,5 mil dólares. Em nenhum lugar do mundo uma apresentação desses músicos sairia por menos de 40 dólares. Aqui a gente pode prestigiá-los por 1 ou 5 reais. Tudo isso se deve ao prestígio do Alex Klein [oboísta curitibano que dirigiu a fase erudita pelo terceiro ano consecutivo].
Com direção artística do clarinetista Sérgio Albach e do saxofonista Hélio Brandão, a fase de MPB, que teve início no dia 17, reuniu perto de 350 alunos de todo o Brasil e de países vizinhos. Foram oferecidos 30 cursos, distribuídos entre os núcleos de Cordas, Sopros, Teclado, Percussão, Estruturação e Rock. Com a intenção de aproximar a Oficina de MPB de todas as comunidades da cidade, também as Ruas da Cidadania sediaram cursos para o aprofundamento musical dos participantes. Entre os professores, artistas do quilate de Raul de Souza, Paulo Moura e Paulo Belinati.
Continuidade
A preocupação agora é com a continuidade da Oficina na próxima gestão da Fundação Cultural de Curitiba, que vai assumir os trabalhos em janeiro de 2005, junto com o prefeito que ganhar as eleições de outubro. “Será um processo delicado, pois temos que contatar os músicos com meses de antecedência, e não sabemos como e se a Oficina será realizada”, comenta Janete. “Para o ano que vem já tínhamos garantida a vinda do renomadíssimo contratenor alemão Andreas Scholl, por mil dólares, mas não temos como fechar o negócio por essas indefinições. Antigamente deixávamos tudo empenhado, e o governo seguinte executava os compromissos. Agora isso não é mais possível.”
Janete também diz temer que a Oficina de Música tenha o mesmo destino de festivais como o de Cascavel, que não foi realizado no ano passado, depois de 15 edições. “Espero que as pessoas que vão nos suceder tenham sabedoria para aproveitar o que foi feito e deixem ainda melhor. A gente não agüenta mais ver as coisas andando para trás.”