Horários alternativos, preços acessíveis e professores de renome são alguns dos incentivos oferecidos pelos cursos da Oficina de Música que acontecem em sete Regionais da cidade, de 16 a 21 de janeiro. O sucesso da iniciativa fica evidente na procura pelas aulas, que reúnem participantes com as mais diversas formações profissionais. As Ruas da Cidadania Bairro Novo, Boa Vista, Fazendinha, Pinheirinho, Cajuru, Santa Felicidade e Boqueirão abrigam alunos que se dividem entre cursos instrumentais, de teoria musical e de técnica vocal. Os 15 cursos ministrados diariamente, a partir das 18h30, deram continuidade à 24ª edição da Oficina de Música de Curitiba, cuja primeira fase, de 05 a 15 de janeiro, reuniu música erudita e MPB.
Os irmãos Bruno e Breno Ramos, de 9 anos e 8 anos, moradores do bairro Campo Comprido e admiradores de samba, pediram ao avô para cursar Percussão, na Regional do Portão, na Rua da Cidadania da Fazendinha. "Queremos um dia tocar profissionalmente. Estou gostando muito da aula do professor Leandro", diz Bruno, o irmão mais velho. Para Breno, que está na 2a série, a Oficina de Música é divertida. "Eu gosto!", resume o garoto.
A aprovação pelos cursos nas Regionais também é compartilhada pelos professores. "Levar a Oficina de Música aos bairros é muito importante para as comunidades", atesta Leandro Teixeira, que comanda as aulas de Percussão (MPB), na Regional Portão. Professor do Conservatório de MPB de Curitiba, Leandro diz que centra as aulas da Oficina no ritmo e improvisação, com o objetivo de estimular o caminho criativo por meio de brincadeiras musicais.
O método de ensino de Leandro é reconhecido pelos alunos. O baterista Rodrigo Sivitatte, que também freqüenta o Conservatório de MPB, está entusiasmado com os resultados da Oficina. "A percussão melhora a coordenação motora e dá ritmo", diz Rodrigo. "Estou mudando um pouco de estilo e gosto da influência brasileira na minha música", conta o aluno que, aos 28 anos, trocou a bateria do gênero metal pela mistura dos sons brasileiros.
Cordas
Na Regional Boqueirão, os cursos oferecidos são os de Violão (MPB), com o professor Guilherme Campos, e de Violino (MPB), com o professor Atli Ellendersen. Para a gerente do Núcleo da Fundação Cultural de Curitiba, Raquel dos Santos, levar aos bairros a Oficina de Música é uma forma de valorizar a comunidade. "A movimentação musical nas Regionais permite realizar uma atividade cultural sem sair do seu bairro. É maravilhoso poder despertar o interesse pelas artes e nada melhor do que a música para atingir esse objetivo", atesta Raquel.
Atli Ellendersen, que ministra o curso de Violino, acredita que é "um incentivo extra para os alunos que já têm aula nas Regionais". Para Atli, "os alunos ficam boa parte das férias sem ter contato com os instrumentos, e a Oficina transforma-se numa injeção de ânimo". O professor, que integra a Camerata Antiqua de Curitiba, tem em sua turma dois alunos que também dão aula em outras Regionais, o que para ele é gratificante.
Gustavo Schimicht, 26 anos, professor de violino em uma das Regionais da cidade, aproveita a oficina para se reciclar. "Estou aproveitando as férias para colocar em dia as técnicas e depois, no decorrer do ano, passar para os meus alunos", diz Gustavo. Para ele, a Oficina nas Regionais tem um diferencial que se estende além do simples aprendizado e passa pela relação com a comunidade. "É como se fosse um ciclo. Os meus alunos participam, eu participo junto com eles e assim construímos uma amizade, um vínculo. É a comunidade se conhecendo por ela mesma".
Outro aluno de Atli é o garoto Felipe Adamartins, 10 anos, que tem na família irmãos que tocam flauta doce, violão e acordeon. Ele participa do curso trazido pela avó. "Meu interesse é aperfeiçoar o que aprendi nos três anos em que toco. A música para mim significa o maior sentimento que tenho: o amor", diz Felipe que já se tornou o mascote da turma.
Guilherme Campos, professor do Conservatório de MPB e responsável pelo curso de Violão, destaca a importância da Oficina de Música nas Regionais por um viés político-cultural. "É extremamente importante porque viabiliza que moradores aqui da redondeza participem dos cursos da Oficina, tornando-a mais democrática."
Janete Andrade, diretora da Oficina, diz que muitos alunos não podiam participar da Oficina de Música em razão das atividades serem desenvolvidas em horário comercial. "Resolvemos, então, oferecer aulas no período da noite, nas Regionais de Curitiba, abrindo espaço para as pessoas que trabalham o dia todo.", afirma Janete.
Para Jocely Marly Araújo dos Anjos, 36 anos, professora de música, a Oficina nas Ruas da Cidadania representa uma oportunidade de aperfeiçoamento e aprendizado muito grande. "Durante a Oficina é possível absorver novas informações e teorias", diz Jocely que dá aulas de flauta doce e violão para iniciantes.
Qualidade
Luzia Simplício da Silva, gerente do Núcleo Regional da Fundação Cultural no Bairro Novo, garante que os cursos levados às Regionais são de alto gabarito e com a mesma qualidade da primeira fase da Oficina de Música. "Ter a Oficina de Música aqui na Regional é uma maneira de dar à comunidade o acesso a cursos perto de casa, com um custo baixo, além de proporcionar o contato com professores de alto nível", enfatiza.
Os professores que compõem essa fase da Oficina de Música são profissionais com destaque no cenário musical curitibano e brasileiro. Um exemplo é a cantora Ana Cascardo, que ministra o curso de Técnica Vocal e Interpretação Musical. "É super legal essa fase da Oficina nas Regionais, pois trabalhamos com pessoas de variadas formações. Esse intercâmbio musical é muito rico, até na preparação vocal que não deixa de ser um instrumento", diz Ana que é professora de canto popular, atua como cantora profissional há 22 anos e tem sua formação voltada à fisiologia vocal.
O entusiasmo de Ana Cascardo é o mesmo do aluno Onsmar Santos, 58 anos, que é pedreiro de profissão. Ele resolveu fazer o curso por achar a proposta de Técnica Vocal interessante. "A desenvoltura proporcionada pela professora é muito importante para que possamos perder a timidez e perceber a importância da nossa voz no dia-a-dia", atesta Onsmar.