O catalão Albert Serra não é dos cineastas mais populares. Pelo menos não quando se trata de bilheteria. Seus filmes, que ganham retrospectiva no Indie Festival 2014, são sempre trabalhados em um tempo único, no qual a dinâmica da ação, cortes e diálogos possuem uma lógica particular. Muito por isso, como observa o próprio diretor, seu trabalho costuma atrair “um público reduzido e cada vez mais raro, disposto a não ser entretido, mas desafiado”.

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O que para muitos cineastas poderia representar um problema, para Serra, catalão de 39 anos, é uma verdadeira bênção. “Não faço filmes para o público que quer se divertir. Faço porque estou interessado em investigar um assunto, explorar novas formas de contar uma história”, comentou ele em conversa com o jornal O Estado de S.Paulo, quando o diretor se preparava para ir à Bienal de São Paulo.

Serra, que chegou na segunda à cidade, é também convidado do Indie Festival e participa nesta quarta-feira, 24, de bate-papo com o público após a sessão de História da Minha Morte, às 19 horas, no Cinesesc. “A arte me interessa, a literatura, a poesia. Até mesmo os filmes me interessam. Não é que não veja mais filmes, mas vejo filmes específicos, que me sejam úteis de alguma forma”, continuou ele.

A afirmação de que não se importa com o público, no entanto, não deve ser mal-entendida. Confiante no cinema que faz, Serra confia também em seu espectador. “Ontem mesmo apresentei Honra dos Cavaleiros aqui em São Paulo. A sala estava cheia e havia muitos jovens. Isso me agrada, saber que é um público curioso, que vai ao cinema querendo ser surpreendido, como quem vai à Bienal, ao teatro, lê um livro”, comentou ele, que, além do papo de hoje, ministra amanhã uma masterclass, também no Cinesesc.

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“Gosto de conversar com meu público, de falar no processo, de contar como para mim filmar é registrar uma performance, algo que não existia, e que nunca mais vai acontecer. Nunca ensaio ou repito as cenas. Apenas filmo”, explicou.

“O fato é que é preciso estar aberto para perceber isso tudo. E as pessoas estão cada vez mais conservadoras. Não falo nem do espectador, mas de quem financia também. Na Europa em geral, além dos fundos públicos, os filmes são financiados pelas TVs públicas e privadas. E não estão mais interessadas no cinema que faço. Em geral, a TV não compra mais estes filmes, mas sim os longas comerciais.”

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No entanto, otimista que é, Serra insiste. “Está difícil, mas sei que ainda há espaço e continuo em busca do financiamento. Mesmo que receba um não, é preciso provocar sempre.”

De provocar e criar um novo sentido a histórias e personagens que pareciam cristalizados pela história Serra entende. Assim o fez em Honra dos Cavaleiros, no qual reconta a saga de Dom Quixote e Sancho Pança sob um olhar que os observa em ações corriqueiras e nada heroicas. Assim também o faz em História da Minha Morte, que levou o Pardo de Ouro do Festival de Locarno 2013, no qual cria um encontro improvável, mas rico, entre Giacomo Casanova e Conde Drácula.

“Com esses personagens, podemos fazer tudo. Todos os conhecem, mas posso criar novas histórias, dar novo sentido. A primeira vez que coloquei Casanova e Drácula juntos foi como se de fato tivessem sido próximos. O mesmo com Quixote. Imagine que Cervantes conheceu alguém que o inspirou a criar Quixote. E um novo significado aconteceu. É isso que busco.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.