Curitiba perdeu, ontem, a sua atriz, diretora de teatro e professoras de interpretação das mais famosas no cenário nacional: Lala Schneider. Ela faleceu em sua casa, no bairro Vila Hauer, por volta das 9h. De acordo com os familiares, a atriz tinha problemas pulmonares, sentia dores na coluna e há alguns anos já havia feito uma cirurgia no cérebro. Lala tinha 80 anos. O sepultamento será hoje, às 10h, no Cemitério Comuna Evangélica Luteran, no Boqueirão. O velório ocorreu no Teatro Guaíra.
Lala era conhecida em todo o País. Ela fez cerca de cem peças teatrais, nove filmes e oito novelas em 52 anos de carreira. Entre as novelas mais famosas que participou, destacam-se Lua cheia de amor e Felicidade, da Rede Globo. Lala subiu em um palco pela primeira vez em 1950, quando representou no espetáculo O poder do amor. A atriz ganhou diversos prêmios, entre eles o Troféu Gralha Azul, em 1984 e 1993. Os seus últimos trabalhos foram o longa-metragem Misteryos, que está em fase de edição, e a peça teatral Esmeralda, a vida de Lala Schneider. O filme traz globais no elenco, como Carlos Vereza, Sthefany Brito e Jayme Periard. Já a peça conta com o responsável pelo Teatro Lala Schneider, João Luiz Fiani. Ele sentiu muito a morte da atriz, já que foi seu aluno desde os 15 anos de idade e mantinha contato permanente com ela. ?Lala era uma pessoa maravilhosa. E a peça vai acontecer sim, só não sei ainda de que forma, mas vai acontecer como uma homenagem?, disse, bastante emocionado. Uma exposição de fotos chamada Heroínas também traz Lala no Shopping Crystal, em Curitiba.
Lala Schneider tinha reconhecimento nacional mas gostava mesmo era do Paraná. O ator Ary Fontoura, que trabalhou muitos anos com a atriz, conta que Lala teve várias propostas da Rede Globo, mas recusou todas porque não queria deixar Curitiba. O último contato que ele teve com ela, em Curitiba, foi em dezembro do ano passado. ?Ela era muito requisitada, a ponto de não aceitar alguns trabalhos. Era batalhadora, alegre, esperançosa, uma pessoa de caráter excepcional. Tinha verdadeiro amor ao teatro. Não quis sair de Curitiba porque dizia que se sentia feliz na sua cidade natal?, disse Fontoura. Para ele, o falecimento foi lamentável, pois o que fica agora é a saudade. ?Seu trabalho será sempre lembrado. O chamado é esse, agora viveremos na saudade?, completou.
Durante o velório de Lala, ontem à noite, a sobrinha da atriz, Anadeje Silveira, contou que sua tia não queria saber de deixar o trabalho, e por isso sentia muita ansiedade. ?Ela tinha receio de esquecer o texto, a vida dela era o palco. Ela tinha verdadeira paixão pelo trabalho?, lembrou.
Anadeje acompanhou os últimos momentos de vida de Lala. Por volta das 6h de ontem, os familiares chamaram a ambulância porque a atriz estava em sono profundo. Porém, os sinais vitais ainda eram evidentes.
Por volta das 9h, a ambulância foi chamada novamente porque, então, já não era mais possível fazer nada. Outro sobrinho da atriz, Glauco Silveira, lembra com saudades da tia, sempre alegre e sorridente. ?Nós jogávamos baralho juntos, todos os domingos?, disse, emocionado.
Atriz deixa uma legião de alunos e admiradores
Foto: Arquivo |
Quem conhecia Lala lembrou que, além de grande atriz, ela sempre foi muito respeitada como pessoa. |
Muitos artistas compareceram ao velório da atriz Lala Schneider, ontem à noite, no Teatro Guaíra, na capital. Personalidades e autoridades mostraram o pesar pela perda durante toda a tarde de ontem.
O ator global Luiz Melo, que foi aluno de Lala, disse que é muito difícil falar da atriz, já que ela era sua ?fonte de inspiração?. ?Ela era uma fonte de inspiração para toda a classe artística pelo seu trabalho maravilhoso, pela sua postura no palco, pela paixão que tinha por representar. Ela era uma pessoa muito generosa, não tinha receio de repassar tudo que sabia a seus alunos. Era uma atriz de muita credibilidade?, disse Melo. O ator lembrou também a luta de Lala pela representatividade dos atores paranaenses no cenário nacional. ?Ela fez parte de todas as dificuldades que nós artistas temos. Dificuldades financeiras, dificuldades de conseguir espaço, tudo que vai desgastando o artista. Ela lutava por isso?, contou.
O ator global Ranieri Gonzáles, que atuou na minissérie JK, disse durante o velório que a maior lembrança de Lala é o seu sorriso. ?A risada, a simpatia, o bom humor. É isso que eu vou lembrar de Lala para sempre. Toda a minha geração ficava de boca aberta vendo ela atuar?, disse. O ator curitibano Lúcio Weber, que foi muito amigo de Lala, contou que a conheceu em 1964, na época da peça teatral Megera domada. Para ele, o que vai marcar mesmo na vida da atriz é a perseverança. ?Os artistas paranaenses são pouco reconhecidos, e ela fez com que o resto do País a conhecesse?, comentou. Mônica Reschbieter, que trabalhou com Lala no longa-metragem Misteryos, disse que o último contato com a atriz foi em fevereiro, e que ela estava muito bem. ?Ela era muito generosa e engraçada?, comentou.
A produtora de teatro e amiga de Lala, Regina Vogue, encontrou pela última vez com a atriz na semana passada, quando as duas foram homenageadas por conta da exposição de fotos Heroínas, que está no Shopping Crystal. ?Lala sempre falava que não gostava de produzir, mas sim de atuar. Ela sempre estava bem disposta, de bem com a vida. Dizia que era enrugada porque sempre estava fazendo bico para beijar?, lembrou Regina. A outra amiga e atriz, Iara Sarmento, disse que ficou muito surpresa quando soube do falecimento, já que Lala não apresentava sinais de alguma doença grave. ?Trabalhamos juntas desde 1963. Foi um choque saber da morte?, lamentou.
Autoridades lamentaram a morte de Lala durante toda a tarde de ontem. O prefeito de Curitiba, Beto Richa (PSDB), afirmou que ela era ?uma das pessoas mais queridas de nossa cidade? e que foi uma mulher ?lutadora, com uma trajetória de trabalho, amor, dedicação em prol da nossa cultura?. O presidente da Fundação Cultural de Curitiba, Paulino Viapiana, disse que a morte da atriz foi ?uma perda muito grande para a cultura paranaense devido à importância e o carisma que ela possuía?. O diretor de Ação Cultural, Beto Lanza, afirmou que Lala foi uma ?das personalidades mais queridas e ilustres do teatro?. Ele completou, dizendo que ?Lala era uma pessoa generosa, afetuosa e impecável profissionalmente, um dos nomes que mais fizeram pelo teatro paranaense?.
Além do longa Misteryus (filme baseado em contos de Valêncio Xavier em fase de edição), Lala trabalhou com outros diversos cineastas paranaenses e atuou em filmes como Guerra dos Pelados, Aleluia Gretchen, O Cerco da Lapa, de Berenice Mendes, Making of Curitiba, de Sylvio Back, Maré alta, de Egídio Élcio, entre muitos outros.
Idade
Durante toda a tarde de ontem, a notícia divulgada era que Lala tinha 80 anos de idade. Mas familiares da atriz contam que ela tinha 82 anos, e que dois deles não foram registrados em cartório.