Antiga Prefeitura de Ponta Grossa e primeiro QG do general Rondon: os carroções levavam víveres e munições para os legalistas.

Será lançado no próximo dia 18, terça-feira, às 17h, no salão nobre da Assembléia Legislativa, o livro De Catanduvas ao Oiapoque – O martírio de rebeldes sem causa, de autoria do jornalista Mílton Ivan Heller, com prefácio de Fábio Campana e comentário do historiador Noel Nascimento.

continua após a publicidade

O livro é resultado de vários anos de pesquisas, reunindo mapas e fotos de 1924 mostrando a região conflagrada, cenas de combate e o transporte de mortos e feridos em conseqüência da revolução dos tenentes, que promoveram no segundo 5 de julho em S. Paulo, sob o comando do general Isidoro Dias Lopes, um veterano da Revolução Farroupilha. Derrotados por tropas legalistas bem mais numerosas e dispondo de um tremendo poder de fogo para a época, incluindo a uitilização de canhões e bombardeios aéreos, os rebeldes recuaram até Foz do Iguaçu à espera da Coluna Gaúcha liderada por Luís Carlos Prestes, o mais jovem capitão do Exército brasileiro, aprovado com distinção em todos os cursos que realizou.

A antiga estrada que ligava Guarapuava a Foz do Iguaçu passava pelo povoado de Catanduvas e ali houve uma grande concentração de tropas de ambos os lados, e renhidos combates entre novembro de 1924 e março de 1925. Sem os reforços esperados e não dispondo mais de munição nem comida para uma refeição decente, com centenas de feridos e mortos insepultos, não restou outra alternativa senão a rendição de 407 soldados e oficiais rebeldes, comandados pelo coronel Newton Estilac Leal. Todos em precárias condições de saúde, mal se sustentando sobre as próprias pernas.

O fim inexorável

Seguiu-se uma viagem dantesca de mais de 100 km até Irati, onde já existia a coneção com o trem de União da Vitória. Colocados em vagões de transporte de gado, sem água e sem alimentação, os rebeldes foram conduzidos a Paranaguá e ali colocados em um navio com destino ao Oiapoque, próximo à Guiana Francesa, onde existia um presídio militar, e ali deixados para morrer de malária e outras doenças sem qualquer assistência médica. Dos 407 detidos em Catanduvas, sobreviveram apenas sete, que tempos depois foram recambiados até o Rio de Janeiro, onde chegaram como verdadeiras múmias, morrendo dias depois.

continua após a publicidade

Estes fatos despertaram a indignação de toda imprensa da época e protestos indignados de milhares de pessoas contra o governo Arthur Bernardes, que mantinha um campo de concentração em uma região insalubre, levando centenas de homens à morte em flagrante desrespeito às decisões do Supremo Tribunal Federal, que acolhia habeas corpus e determinava um tratamento humanitário aos vencidos.

Com exceção de Prestes, que aderiu ao comunismo, todos os oficiais rebeldes foram reintegrados ao Exército e fizeram jus às promoções por antiguidade e por mérito: Isidoro já era oficial da reserva; Miguel Costa foi chefe de polícia em S. Paulo, onde o ex-tenente João Alberto Lins de Barros foi nomeado interventor; Cordeiro de Farias e Juarez Távora foram contemplados com a interventoria no Rio Grande do Sul e em Pernambuco, respectivamente. O brigadeiro Eduardo Gomes – um dos 18 do Forte de Copacabana no primeiro 5 de julho em 1922 – foi ministro da Aeronáutica, criando o Correio Aéreo Nacional e disputando a Presidência da República após a redemocratização do País em 1946, quando foi derrotado pelo marechal Eurico Dutra. Hoje há um consenso estabelecido que sem a revolta dos tenentes não haveria a revolução de 1930, que sepultou a República velha e iniciou a modernização e o desenvolvimento do País. 

continua após a publicidade