Talvez você não a conheça fisicamente, mas ela está bem acostumada com essa situação – apesar de ser atriz, Mabel Cezar é reconhecida como uma das dubladoras brasileiras mais requisitadas. Na profissão há 24 anos, ela se orgulha de sua versatilidade, conseguindo colocar sua voz em personagens de várias idades e em diversos trabalhos. Não sabe ainda quem é Mabel? Pois bem, ela é a voz da meiga Jessie, de Toy Story, a Jay, personagem da atriz Tisha Campbell-Martin na série Eu, a Patroa e as Crianças, e ainda a ratinha Minnie. Como ela diz, não conseguiu ainda contabilizar quantos personagens já dublou, mas passa dos 2 mil, com certeza.
A ligação de Mabel com a dublagem começou cedo. Ela tinha seus 19 anos na época, já era casada, e dava aulas para o ensino fundamental. E sua história na profissão teve início no momento em que ela viu um anúncio no jornal e decidiu fazer uma aula experimental de dublagem. “Como me saí muito bem nesse primeiro contato com esse mundo, comecei a fazer o curso, só que, no meio do caminho, descobri que, para ser dubladora, tinha de ser atriz. Esse foi um pequeno momento de pânico, e então decidi estudar teatro e seguir em frente”, conta.
Foi nesse momento que ela entendeu que tinha jeito para a coisa, que tinha sido pega de jeito pela trabalho novo. Daí, logo conseguiu ser contratada pela Herbert Richers e não pensou duas vezes: rapidamente decidiu pedir exoneração da escola em que lecionava. “A dublagem passou a ser minha profissão.”
E foi nos famosos estúdios de dublagem e legendagem carioca que Mabel teve seus primeiros grandes trabalhos, que traçariam seu futuro na área. “Assim que cheguei à Herbert, me chamaram para fazer um teste para o desenho da Luluzinha, pensei que não conseguiria, pois tinha que disputar com uma adolescente. Mas ganhei”, revela Mabel, que explica ter sido esse um grande começo, com um personagem importante. Mas, em seguida, viriam muitos outros, como a Piyomon, da animação japonesa Digimon.
A variedade de personagens dublados por Mabel inclui ainda a Jay Kyle, da série Eu, a Patroa e as Crianças, que ainda é exibida no Brasil. “Fiz essa dublagem por mais de dez anos e agora mesmo estava terminando a da série Reunião de Família, que tem as mesmas características de Eu, a Patroa…”, afirma.
Com seus horários malucos de trabalho, às vezes, ela fica dias sem trabalhar com a dublagem, mas outros acaba enfrentando 12 horas seguidas em estúdio. Mas, nesses anos todos de correria, tornou-se uma profissional requisitada, como foi o que aconteceu com a Disney, que a colocou para dublar a Minnie, e agora ela é a voz oficial da personagem. Em todos os produtos Disney que têm a Minnie em cena, tenha certeza, a voz sempre será de Mabel Cezar. “No Disney on Ice, por exemplo, já sei que todo ano terei esse compromisso de fazer as vozes da Minnie e da Jessie. Também colocam minha voz nos brinquedos e em outros equipamentos eletrônicos e brinquedos. Tudo o que inventarem da Disney, que tenha Minnie, a Jessie ou a Princesa Leia, sou eu que estou ali dublando, em todos esses projetos.”
Com entusiasmo na voz, Mabel lembra quando a Disney decidiu redublar Mary Poppins. “Me escolheram para dublar a Julie Andrews”, diz a orgulhosa dubladora, afirmando ter sido esse um dos muitos presentes que recebeu em sua profissão. Mas teve outros mais. “Recentemente, quando a Disney comprou a saga Star Wars, me deram a Princesa Leia, só que era a personagem em uma idade mais avançada, mas deu tudo certo, consegui dublar”, afirma.
Para Mabel, que dá aula de dublagem há 15 anos e é sócia da Sociedade Brasileira de Dublagem, é importante explicar que a dublagem é a última fase de um projeto audiovisual, que vem na pós-produção. “É a última etapa que fazemos, e ela pode alavancar ou derrubá-lo.” Ela enfatiza o quanto é importante, além da atenção à voz, conseguir entrar no perfil do personagem. “É nesse momento de interação que a voz vem. Se pensar só na voz, a dublagem fica sem vida”, explica.
Mas tudo isso não é o bastante para Mabel Cezar. Há cinco anos, ela foi escolhida pela Globo para fazer as chamadas de alguns programas. “Quando foi estrear a novela Joia Rara, conseguiram que as chamadas fossem feitas por uma voz feminina. Foram muitos testes e eu fui fazendo um depois do outro, sem saber para que seria”, conta Mabel. “Depois de um tempo, certo dia me chamaram e comecei a fazer esse trabalho, que foi bem avaliado, pela empresa e pelo público, continuando para outras produções.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.