O tenor José Carreras

Uma apresentação do tenor espanhol José Carreras, ao lado da Orquestra Sinfônica do Paraná, do maestro Enrique Ricci e da soprano Verónica Villarroel, marcou ontem a inauguração do Teatro Positivo, em Curitiba. O evento foi exclusivo para convidados da instituição. Amanhã, o tenor volta a se apresentar, dessa vez em evento aberto – os ingressos, porém, estão esgotados. As apresentações são as únicas do tenor nesta vinda ao Brasil.

Pela segunda vez em Curitiba – ele esteve na cidade em 1993, no aniversário de 300 anos da cidade, quando se apresentou na Pedreira Paulo Leminski, sob a regência do mesmo maestro Ricci -, Carreras diz que, além de estar feliz por estar de volta à cidade, está honrado por poder participar da inauguração de um novo teatro. ?É uma oportunidade magnífica. Estou surpreso e maravilhado com esta obra arquitetônica?, diz. Apesar da experiência, o tenor não nega a pressão de inaugurar um novo espaço. ?Temos que estar à altura das circunstâncias.?

O Teatro Positivo – Grande Auditório tem 2400 lugares e é o maior do Paraná. Sua arquitetura foi inspirada no teatro grego de Epidaurus, do século IV a.C. Seu formato em arco permite ao público uma visão ampla do palco de qualquer lugar da platéia. A distância da última fileira de poltronas ao centro do palco é de apenas 27 metros.

?É o maior teatro do Paraná, com formato único e com certeza fará grande diferença na vida cultural de Curitiba, do Paraná e do Brasil?, comemora o professor Oriovisto Guimarães, reitor da Universidade Positivo e diretor-presidente do Grupo Positivo. Para ele, ?a universidade não tem apenas a função de formar mão-de-obra de qualidade, mas também de despertar os jovens para a cultura?.

O maestro Ricci compartilha a empolgação com o teatro: ?A acústica é estupenda?, diz, revelando que isso dá tranqüilidade para o trabalho dos músicos. ?O primeiro ensaio já foi muito emotivo, pelo fato de sabermos ser a primeira vez que soou música no local.? Ele conta, ainda, que sua carreira está, de certa forma, unida a Curitiba. ?Fui o maestro na inauguração do fosso da orquestra do Teatro Guaíra.?

A soprano Verónica Villarroel também considera importante participar da inauguração. ?É um desafio inaugurar e fazer parte da história deste teatro?, diz ela, que é chilena mas radicada nos Estados Unidos. É a primeira vez que ela canta ao lado de José Carreras.

 Em entrevista coletiva concedida esta semana no Teatro Positivo, Carreras falou também sobre outros assuntos, como a sensação de tocar para diferentes públicos pelo mundo, a influência da leucemia sobre sua carreira e o parceiro Luciano Pavarotti. Não deixou, também, de falar sobre os Três Tenores e descartou qualquer possibilidade do trio voltar, com outro tenor no lugar de Pavarotti.

Três Tenores

?O mais positivo dos concertos que tivemos oportunidade de cantar foi a chance de fazer chegar esse tipo de arte a um público muito mais amplo. Gente que não estava acostumada a visitar salas de ópera se interessou pela primeira vez por um tipo novo -para elas – de música. O primeiro concerto que fizemos em Roma era na ocasião da Copa do Mundo da Itália em 1990. Quisemos celebrar o fato da Itália ser a anfitriã do campeonato. Com isso conseguimos que esse tipo de arte chegasse a um público mais geral. Então conseguimos três objetivos em um só: celebrar os mundiais de futebol, cantar para um público mais heterogêneo -1,2 bilhão de pessoas – e ainda conseguimos fundos para a luta contra a leucemia?.

Pavarotti

?Se você se refere a alguém que possa suprir a ausência de Luciano Pavarotti nos Três Tenores, não há ninguém. Os Três Tenores nasceram com Plácido Domingo, Pavarotti e eu. Não há nenhuma possibilidade de Domingo e eu cantarmos com outro tenor substituindo Pavarotti. Isso seria ética e moralmente equivocado.

Falando do panorama artístico e da ópera internacional, acredito que tem magníficos tenores no momento. Sem querer fazer comparação com Pavarotti – que era único – mas há tenores que podem preencher o vazio deixado por ele nas grandes produções de ópera, como Roberto Alagna, Marcelo Alvarez, Jose Cura, Rolando Villazón e muitos outros, que são tenores de um nível magnífico, excelentes artistas?.

Leucemia

?Minha doença, que tive há 20 anos, teve influência antes de tudo em mim, como ser humano. E como o ser humano e o artista caminham paralelamente, influenciou também o artista. Se a pessoa amadureceu devido a este golpe difícil que a vida me apresentou, amadureceu também o artista. Se certas prioridades da vida do homem mudaram, mudaram também as prioridades do artista. Se a vida do homem tomou outras dimensões em certos âmbitos, provavelmente a do artista também.?

Pequim

?Estivemos recentemente em Pequim, eu e o maestro Ricci, mas estivemos também há uns 10 anos lá. Desde então estive cantando lá por algumas vezes. Posso dizer que o público asiático em geral se interessa cada vez mais pela cultura ocidental, pela música clássica. Se um país de 1,3 bilhão de pessoas começa a se interessar por esse tipo de música, é uma notícia muito boa. Eles estão dispostos e abertos cada dia mais a este tipo de manifestação. Em relação às Olimpíadas, estamos trabalhando em alguma coisa ao redor dos jogos, se não na inauguração ou fechamento, provavelmente nos Jogos Paraolímpicos.?

Brasil

?É um país extraordinário e fascinante. O que mais me interessa no Brasil é sua gente. A cordialidade e espírito aberto do brasileiro são legendários. Todos que vêm sempre se encontram bem-vindos e felizes de estarem aqui. Sobre os problemas sociais, gostaria de ter uma vareta mágica para poder dizer as coisas que poderiam ser feitas. Mas o Brasil está em muito boas mãos.?

Concerto em Curitiba

?É basicamente um concerto clássico, onde a sra. Villaruel vai cantar suas árias e peças de óperas, o maestro Ricci vai reger certas [obras] clássicas e eu vou cantar também algumas óperas e canções que têm sido sempre parte do repertório dos tenores importantes. Depois é provável – dependerá dos ensaios – que haja algum tipo de surpresa preparada especialmente para Curitiba e para o Brasil.?

Música preferida

?Sempre que me perguntam qual é minha ópera ou canção favorita, faço sempre referência a algo que disse Plácido Domingo em um encontro com a imprensa: ?Não me pergunte isso, pois é como perguntar qual de meus filhos é o favorito?.

Teatro Positivo

Não há duvida que é uma honra para mim participar da inauguração de um centro com essas características. Para mim, como artista, é um desafio, porque é algo novo. Um desafio importante porque temos, nós três (ele, Ricci e Villarroel) e a orquestra, que dar o melhor de nós mesmos.? 

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