Michelle Obama deixou a Casa Branca há exatos dois anos, mas continua no topo. Eleita pelos americanos a mulher mais admirada do país, a ex-primeira-dama lançou em novembro sua autobiografia, Becoming (Minha História, Editora Objetiva). Um mês depois, o livro atingia a marca de 3 milhões de cópias vendidas. Agora, quebrou recorde ao ocupar o 1º lugar de livro mais vendido da Amazon. Até então, o recordista era Cinquenta Tons de Cinza, de E. L. James, publicado em 2012. No Brasil, é o 2º livro mais vendido de não ficção, atrás de Aprendizados, da top model Gisele Bündchen.
Logo no prefácio, dá para entender o porquê do sucesso. De forma simples, ela descreve seu primeiro momento de solidão logo que deixou a Casa Branca. “Éramos só eu, nossos dois cachorros e uma casa silenciosa… E eu estava com fome. Na cozinha, abri a geladeira. Achei um saco de pão, peguei duas fatias e coloquei no forno elétrico. Abri o armário e peguei um prato. Sei que é esquisito, mas esse momento – de tirar um prato do armário da cozinha sem antes alguém insistir em pegá-lo para mim e ficar parada sozinha vendo o pão tostar no forninho – me pareceu o que há de mais próximo de uma retomada da minha antiga vida.”
E é com essa linguagem próxima que ela cativa. Em pouco mais de 400 páginas, a autora conta sua trajetória da infância humilde em Chicago até se tornar uma das mulheres mais influentes do planeta. O leitor é guiado por um conjunto de memórias divididas em TRês partes: A História Começa, A Nossa História e Uma História de Amor.
Na primeira das três grandes partes em que divide suas memórias, Michelle fala dos primeiros anos de sua vida. Uma história de superação e trabalho árduo, que lembra um roteiro de filme, bem ao gosto americano. Ela iniciou a vida escolar num colégio de seu bairro, depois foi aprovada na melhor escola pública de Chicago e chegou à universidade. Estudou em Princeton e em Harvard.
Michelle tem consciência de que quebrou barreiras. “Quantas vezes constatei que era a única mulher negra – ou até mesmo a única mulher – na sala, sentada a uma mesa de conferência ou participando de uma reunião de diretoria ou entre os convidados de um evento VIP.”
Sobre ser a 44ª primeira-dama, relembrou: “Estava honrada e animada para ser primeira-dama, mas nem por um segundo achei que incorporaria um papel glamouroso e fácil. Isso jamais aconteceria a alguém que tivesse as palavras ‘primeira’ e ‘negra’ imputadas a si”.
Nos tempos que precederam os oito anos no epicentro do poder, Michelle fala sobre a rotina de casada, um aborto espontâneo, as fertilizações in vitro que trouxeram Sasha e Malia ao mundo, os malabarismos para administrar a rotina trabalhando muito e ganhando pouco. Mais vida real, impossível.
Também há lugar para romance no livro. Ela conta como conheceu Barack, de quem foi uma espécie de mentora no escritório de advocacia onde trabalhavam. “Barack era sério sem se levar muito a sério.” O colega de escritório virou um amigo, veio a paquera e o primeiro beijo, logo após um sorvete tomado na rua.
A política fez parte da vida de Michelle desde cedo. O pai, operário, atuava para o Partido Democrata. Ela também trabalhou na prefeitura de Chicago. Mas foi com a entrada de Barack Obama na política, a partir de 1996, que sua vida mudou. “Eu não gostava muito de políticos e não me agradava a ideia de meu marido ser um. Mas se Barack se julgava alguém capaz, quem era eu para atrapalhar?” Uma carreira que começou em 1996, para o Senado, e culminou com duas bem-sucedidas campanhas presidenciais, em 2008 e 2012.
Sobre a chegada à Casa Branca, resume: “Não queria ser um enfeite bem-vestido só para dar as caras em festas e cortar fitas em cerimônias de inauguração. Queria fazer coisas significativas e duradouras”. E fez. Na função, imprimiu um estilo próprio, liderando projetos para a educação de meninas e de combate à obesidade infantil.
Michelle deixou a Casa Branca em 20 de janeiro de 2017. Ela não esconde a frustração com a eleição de Donald Trump. Mas é enfática sobre o futuro. “Não pretendo concorrer a cargos oficiais, jamais!”
E assim como começou o livro, de maneira direta e despretensiosa, ela encerra: “Sou uma pessoa comum que se viu numa jornada extraordinária”. Em inglês, Becoming, título da publicação, pode ser traduzido como “Tornando-se”. Michelle está “tornando-se”, assim como todas nós.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.