A primeira sensação é de deslumbramento: os limites entre palco e plateia são eliminados e todos mergulham numa viagem musical que mistura Bach com Bartók e Boccherini com Ravel, tudo comandado por Mozart. Depois do concerto da terça-feira, 30, na Sala São Paulo, dentro da Série TUCCA Música pela Cura, a sensação era de perplexidade: como um grupo de vinte músicos, metade internacionais, outro tanto de brasileiros de vários cantos do país, consegue fazer música de elevadíssima qualidade?

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A resposta é fácil: eles integram um projeto revolucionário, que se concentra na prática da música de câmara. Concebido pela violista norte-americana Jennifer Sturm, o Ilumina espelha-se no modelo do Festival de Marlboro, nos EUA, onde grandes músicos convivem com aprendizes por mais de um mês.

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Desde 2015, todo início de janeiro vem sendo ocupado por dez dias de imersão – primeiro em Bragança Paulista, depois em Mococa, no interior do Estado de São Paulo. O resultado é espantoso: os dez brasileiros que estavam no palco estudam em Salzburgo ou Viena. Nada substitui a imersão, que um dia já foi mote do Festival de Campos do Jordão, hoje travestido de Festival de Campos Elísios.

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Finamente engendrado em torno do chiaroscuro, o concerto remete ao nome do Projeto. Todos tocam de pé e mostram como o corpo fala e se integra com os instrumentos, que não são mais vistos como próteses mas extensões naturais de seus corpos. Tudo sem regente. Jennifer lidera, mas discreta.

Estruturada em três partes, a noite se iniciou com os músicos improvisando sobre um pedal do contrabaixo e cellos e adentrando o palco informalmente. Três minutos que desembocaram no sexto Concerto de Brandemburgo, em que brilham duas violas solistas com seus timbres ao mesmo tempo escuros mas calorosos.

A segunda parte girou em torno do pizzicato. E, como numa playlist, sucederam-se dois movimentos de quartetos (o incrível Assez vif do Quarteto de Ravel e o Allegretto pizzicato do Quarteto nº. 4 de Bartók) e La Musica Notturna delle Strade du Madrid nº. 6, de Boccherini – compositor injustamente pouco tocado hoje em dia.

Sob o signo de Mozart, ao lado do ótimo pianista inglês Paul Lewis, os músicos, sempre alegres e integrados, exploraram o sutil jogo de luz e sombra de seu derradeiro concerto. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.