“O Segredo de Brokeback Mountain” lidera indicações ao Oscar

São Paulo – Hollywood acordou hoje de madrugada para ver "O Segredo de Brokeback Mountain" confirmar seu favoritismo para o Oscar. Às 5h30, horário local (11h30 no Brasil), a TV foi o veículo para que o presidente da academia, Sid Ganis, acompanhado pela atriz Mira Sorvino, anunciasse os indicados deste ano

"O Segredo de Brokeback Mountain" ganhou oito indicações e é o recordista do ano. Concorre a melhor filme, diretor (Ang Lee), ator (Heath Ledge), ator coadjuvante (Jake Gyllenhaal) e roteiro adaptado (Larry McMurtry e Diana Ossana), entre outros prêmios

"Munique", de Steven Spielberg, também concorre a melhor filme, diretor, música (John Williams) e roteiro adaptado (Eric Roth e Tony Kushner)

"Boa Noite e Boa Sorte", de George Clooney, a melhor filme, diretor, ator (David Strathairn) e roteiro original. O astro Clooney também ganhou uma indicação para melhor ator coadjuvante por "Syriana"

Frustraram-se as esperanças de uma representação brasileira no Oscar. "Dois Filhos de Francisco", de Breno Silveira, não sensibilizou os votantes que indicam os candidatos para o melhor filme estrangeiro, mas isso não diminui em nada a força da obra nem o seu significado para o cinema do País

Fernando Meirelles também não foi indicado para o Oscar de direção, mas "Jardineiro Fiel" vai concorrer a quatro estatuetas entre elas melhor atriz coadjuvante (Rachel Weisz) e melhor roteiro adaptado (Jeffrey Caine)

À parte essas pequenas decepções, não é que a academia acertou? Ainda é cedo para saber se o Oscar, que este ano será entregue em 5 de março, vai realmente premiar os melhores, mas a seleção aponta para um recorte político muito interessante

Só colocar "Munique" e "Paradise Now", do palestino Hani Abu Assad como candidatos a melhor filme e melhor filme estrangeiro já aponta para alguma coisa muito significativa

Embora não seja o western gay anunciado de forma um tanto simplista pela mídia, "Brokeback Mountain" fala de solidão e amor, sem deixar de discutir o homossexualismo no contexto de uma sociedade homofóbica. Não vai nisso nenhuma coincidência – o objetivo é mesmo colocar em xeque a América conservadora do presidente George W. Bush. Spielberg bate ainda mais duro. Com toda a oposição da comunidade judaica a Munique, conseguiu emplacar indicações importantes. Seu filme trata do dilema moral implícito no ato de combater o terrorismo e essa é a pedra de toque sobre a qual Bush vem construindo sua presidência, desde o fatídico ataque às torres gêmeas, em 2001

O mais interessante é que "Munique" e "Paradise Now", produtos de duas culturas bem diversas, são quase complementares no que dizem sobre o terrorismo político

George Clooney, que tem se pautado por uma firme oposição ao presidente, retorna ao tempo do macarthismo para levantar a polêmica, em "Boa Noite e Boa Sorte", sobre o poder da mídia e a necessidade de resistência face ao autoritarismo alimentado pela paranóia

A empresa produtora de Clooney também está por trás de "Syriana" o longa de estréia de Stephen Gaghan, o roteirista premiado de Traffic, de Steven Soderbergh, sobre a questão do petróleo e as implicações políticas por trás do jogo de poder no Oriente Médio

O próprio Capote, de Bennett Miller, indicado para melhor filme, diretor, roteiro adaptado e ator (o excepcional Philip Seymour Hoffman, favorito dos favoritos), discute o período em que o escritor Truman Capote se envolveu com dois condenados à morte para escrever a obra-prima do romance de não-ficção, "A Sangue Frio"

O filme discute a questão da criação, mas não omite o homossexualismo do autor. Afetado até o limite, Capote precisa se afirmar perante uma sociedade repressora como a do Meio-Oeste americano e isso também tem a ver com as grandes bases do presidente Bush, cujos apoiadores não estão nas grandes cidades, nem em Nova York, atingida no 11 de setembro de 2001, mas na chamada América profunda

O azarão desta disputa, indicado para melhor filme, direção e roteiro original, é "Crash", de Paul Haggis, que investe no tema da violência urbana para discutir a instabilidade moral dos EUA na atualidade

Como se esperava, nos prêmios técnicos mais pesados, a disputa será entre Steven Spielberg e Peter Jackson, por Guerra dos Mundos e King Kong, mas nenhum dos dois filmes foi indicado nas categorias principais

"Crash" estreou no ano passado nos cinemas brasileiros, "Munique" está em cartaz atualmente. "O Segredo de Brokeback Mountain" e "Boa Noite e Boa Sorte" estréiam na sexta

Também no dia 3 entra em cartaz no país "Memórias de Uma Gueixa" de Rob Marshall, que ganhou indicações nas categorias de direção de arte, fotografia, som, montagem, figurinos e música. A partir de agora, a disputa do Oscar esquenta também nos cinemas brasileiros.

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