Depois de causar muita polêmica por onde passou por discutir com ironia e humor sincretismo religioso e homossexualidade na igreja com uma certa dose de realismo fantástico, a comédia O Santo Parto, escrita pelo dramaturgo e autor de novelas Lauro César Muniz, será apresentada em Curitiba no teatro Fernanda Montenegro (Shopping Novo Batel) de 24 a 26 de junho. Apesar dos temas considerados tabus e que ainda provocam muita discussão, um dos objetivos do espetáculo, além de propor a reflexão, é divertir o público.
No elenco, José de Abreu, Roberto Bomtempo, Sérgio Marone e Jussanam Dejah. O espetáculo foi o mais indicado, no ano passado, na 17.ª edição do Prêmio Shell no Rio de Janeiro. Das 9 categorias da premiação, O Santo Parto obteve cinco indicações (Autor; Ator: Roberto Bomtempo; Direção: Luiz Arthur Nunes e Música: Davi Tygel).
Neste texto envolvente, Muniz conta a história de padre José, jovem vigário de uma paróquia antiga, construída no início do século XIX, que está em pânico. Motivo: O volume de seu ventre, descomunal, que há tempos ele tenta esconder, até enfaixando-o, revela claramente o inevitável: ele está grávido!
Desesperado com tal aberração, José prefere imaginar tratar-se de um tumor ou algo parecido. Ainda confuso perante a situação, padre José recebe a visita do cardeal Quirino, fundador da freguesia há 200 anos e que, como era costume da época, foi enterrado sob um dos bancos da primeira fila, junto ao altar da igreja onde Padre José recebe os seus fiéis. Ali, diante da fantasmagórica figura do cardeal, daria explicações de seu desatino. O cardeal, no entanto, veio para puni-lo, esmagá-lo por desafiar todos os cânones da Santa igreja.
E quem aparece em defesa do padre, a pedido da madre Paulina (a primeira santa do Brasil), é São Jorge, o Santo Guerreiro! Ele está decidido a salvar o filho da "mãe" masculina. Heroicamente, o padre defende sua cria e pede um milagre, acreditando que seu filho será a revelação de um novo tempo de tolerância na igreja.
Comédia fantástica
Segundo Lauro César Muniz, a conclusão dessa história hilariante e fantástica há de expor o descompasso moral que existe entre os cânones religiosos milenares. "A forte atração que a igreja católica exerce sobre mim, através de sua cultura milenar, sua estética sublime, me impôs duas peças com temas semelhantes, mas com visões e climas opostos. Antes a esperança, hoje a absoluta incredulidade que me afasta cada vez mais de algum caminho que me leve a uma religação com este deus bíblico, concebido para complementar a impotência e a fraqueza humana".
Quarenta anos depois de escrever O Santo Milagroso, Lauro César Muniz volta a tratar do tema que o fascina: "As duas comédias nasceram de idéias muito especiais: na primeira, o pastor se vê coberto com um sudário roxo, de onde opera falsos milagres. Na segunda, um padre está simbolicamente grávido por seguir seus instintos sexuais, por amar um jovem, ainda menor de idade", conclui. Entre as obras do autor estão: A Morte do Imortal (1965), O Líder, Feira Paulista de Opinião (1968), Direita, Volver (1985)", Sinal de Vida (1979) e Luar em Preto e Branco (1991).
Serviço: Teatro Fernanda Montenegro (24 a 26 de junho) Shopping Novo Batel. Bairro Batel (Curitiba). Tel: (41) 3224-4986. Horário: sexta e sábado às 21h. Domingo: 19h. Preço: R$30,00 (desconto 50% para estudantes e idosos). Classificação 16 anos.