Maria Rita não se preocupa em correr riscos. Parece ter tomado gosto por eles. Especialmente após passar pelo maior de todos: uma turnê com base em “um dos melhores repertórios de todos os tempos”, o de uma certa Elis Regina.
Ela afirma que interpretar os clássicos de sua mãe, sem esconder a posição de filha, lhe deu entendimento melhor do que é ser cantora e de seu trabalho. E Coração a Batucar, seu novo CD, previsto para chegar às lojas em abril e já disponível no iTunes, é um reflexo do estágio de segurança adquirido com Viva Elis, posteriormente Redescobrir.
Entre os desafios embutidos no novo trabalho estão o de assinar pela primeira vez a produção de um disco seu com repertório majoritariamente inédito, a quebra de “tabus” relacionados ao samba e os ensaios de um show que deve exigir movimentos intensos após uma operação de correção de hérnias, da qual ainda se recupera e que a faz usar uma cinta pós-cirúrgica. “Mas vai dar tudo certo”, diz Rita, com a segurança adquirida.
Em Coração, ela optou por uma sonoridade diferente de Samba Meu (2007), seu primeiro flerte com o ritmo. O embrião do trabalho foi o show no palco Sunset do último Rock in Rio, com sambas de Gonzaguinha sem instrumentos tradicionais. O plano de Rita era gravar as cinco músicas interpretadas no show e ver o que poderia ser feito. Duas delas entraram como bônus de Coração no iTunes.
A cantora mudou de ideia, mas a sonoridade arrojada permaneceu, dando suporte a músicas enviadas por Arlindo Cruz – um dos autores do primeiro single, Rumo ao Infinto, e que já havia incluído composições em Samba Meu – Noca da Portela, Joyce Moreno, entre outros.
“O samba é a paixão da minha vida, só Deus entende. Mas não é um Samba Meu 2. É tudo diferente, a sonoridade, a banda e o meu momento”, salienta Rita. A cantora conta ter procurado refletir nas fotos do encarte do álbum o estado de espírito que o ritmo lhe traz. Mas fugindo do lugar comum, sem que ela segure pandeiro ou tamborim. Uma batalha que ela pretende travar a partir de agora.
“O samba tem que ser menos caricato. Pode ser algo tratado, bonito. Por que que pra fazer samba você precisa estar sentado em um boteco batucando com uma roupa qualquer nota? Quem disse que precisa ser assim?”
Família
O marido de Rita, o guitarrista Davi Moraes, toca em todas as faixas do álbum. A cantora conta que o método de trabalho dele casou perfeitamente com o da banda, já que todos dão palpite e trabalham coletivamente. Mas seu olho brilha mesmo ao falar da participação do filho Antonio, 9, tocando tamborim em Vai, Meu Samba.
“Ele estava no estúdio e o André (Siqueira, percussionista) estava mostrando os instrumentos. E André falou pra ele fazer o tamborim na música. Também falei pra ele ir e ele não acreditou. Se desse errado, o máximo que poderia acontecer era ter que refazer”. Atento aos movimentos do baterista Wallace Santos, Antonio foi aprovado pela mãe no posto de instrumentista.
E a família tem ocupado boa parte do tempo de Rita. Especialmente Alice, 1. O nascimento da caçula, segundo a cantora, é o auge da serenidade que ela almeja alcançar desde que se mudou para o Rio de Janeiro há sete anos, por conta do stress com o trânsito de São Paulo. Mas ela se considera uma “mãe leoa”. E teme que a filha passe por situações que enfrentou.
“A gente vive em um mundo machista. E com ela agora no mundo eu fiquei um pouco mais intolerante com a ignorância. Antes era comigo. Mas, quando é com a minha filha, eu me incomodo muito mais.” Mas sua intransigência é menor no que diz respeito ao seu campo de trabalho. As críticas já não a incomodam como no passado, quando tinha vontade de ligar para quem a alvejava e explicar que a pessoa via seu trabalho de uma maneira errônea.
“Já sofri muito com isso. Mas ninguém é obrigado a gostar de tudo nem achar um gênio. Não pretendo e nem quero ser uma unanimidade. Mas sei que cantora como eu hoje, ,no país, não tem. Talvez tenha e eu não sei. Mas o meu foco não é ser bacana. Meu foco é rasgar o útero em cima do palco.” Cinta cirúrgica não vai segurá-la. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.