Ao lançar o livro Imagens de inocência (Amaro Amaro Edições), durante a I Bienal do Livro de Curitiba, que está sendo realizada na ExpoUnimed, a escritora e pintora Maivilis Amaro conta que levar a obra a público durante o evento é a realização de um sonho.

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Ainda menina, Maivilis deixou o interior do Estado e veio para Curitiba em busca de conhecimento artístico. Autodidata, cursou o atelier de Alfredo Andersen, onde teve aulas com o artista Andrade Lima, aos 14 anos. A pintora se descobriu escritora em 2000, ao perceber que, a cada rabisco, já tinha pronto o conteúdo literário.

A obra integra um projeto de licenciamento conduzido pela empresa Recriar, que terá como primeira peça as reproduções dos desenhos da personagem Linda através das reprografias certificadas, também à mostra na Bienal.

Em entrevista exclusiva para O Estado, Maivilis fala sobre o lançamento, que apresenta uma obra delicada, fruto de um trabalho autoral, que mescla o refinamento das aquarelas com a sensibilidade das poesias, onde a personagem principal, a menina Linda, procura despertar a criança que vive em cada leitor.

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O Estado – A elaboração desse livro teve alguma motivação especial?

Maivilis Amaro – A ideia é compartilhar com o público o resultado de tantos anos do trabalho e fazer chegar às pessoas esse traço de delicadeza, de inocência e de resgate da beleza interior que existe em cada um. A diferença desse trabalho é justamente a geração desse novo olhar, para que as pessoas descubram que dentro delas mora toda essa delicadeza.

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OE – Quanto tempo você levou para concluí-lo?

MA – O livro é o resultado de um trabalho de cerca de cinco anos. Em horas de trabalho, temos um tempo grande porque a aquarela é uma técnica que envolve muitas horas. Nesse livro, que é complexo e envolveu várias etapas, só de aquarela eu tenho 2.340 horas.

OE – A Linda, personagem principal do livro, foi baseada em alguma pessoa próxima?

MA – Ela não é uma personagem cópia de nenhum perfil específico. Ela é uma menina que nasce da beleza que a artista colhe na vida e em tudo o que é certo. A linda é uma personagem que desenha e escreve e por isso ela se dá o direito de observar a vida. Ela cresceu comigo. Desde criança eu idealizava fazer um livro onde eu pudesse mostrar essa identidade com uma criança interior. A linda é um reflexo da minha criança, mas também é um pouco da beleza de cada pessoa.

OE – Qual o simbolismo que é atribuído à Linda no livro?

MA – A idéia central da personagem é que ela consiga a chegar na criança eterna, que é a criança do adulto. Dessa forma ela é uma personagem que conversa com pessoas de todas as idades. A criança não tem idade, ela está dentro de cada um e simplesmente floresce na media em que você se sensibiliza.

OE – Você se declara uma pessoa autodidata?

MA – Totalmente. Até porque, como esse traço de arte, com essa técnica, não havia no Brasil, eu acabei tendo que pesquisar e buscar lá fora. Não foi muito fácil porquê há 25 ou 35 anos, todos os artistas que desenvolveram ou desenvolvem um trabalho como este eram europeus ou americanos. A opção foi entrar para o atelier e pensar que eu em conseguir fazer aquilo que eu queria. Posso dizer que, olhando para esse livro, que ele é o que eu gostaria de ter encontrado há 25 anos atrás.

OE – Esse livro pode servir de base para que outros artistas possam inovar?

MA – A necessidade do artista sempre é o compartilhar. Esse livro pode semear, num primeiro momento, que as pessoa,s sensíveis à arte, que gostam de ilustração, que eles tenham uma facilidade que eu não tive na minha época. Até porque, ele reúne um traço de pesquisa sério e comprometido com uma responsabilidade com relação à técnica e à qualidade. Vou ficar feliz se eu ver outras pessoas interessadas desenvolvendo algo novo em cima deste trabalho.

OE – Você tem idéia abri uma escola ou um atelier?

MA – Acho que não é o momento, a gente não pretende fazer isso agora, mas o trabalho por si só vai semear e espalhar isso para as pessoas.

OE – Quando e como você decidiu que também poderia produzir obras de literatura e poesia?

MA – O escrever está dentro do contexto do meu trabalho desde sempre. Então quando chegou o momento de formatar esse livro, senti que eu poderia resgatar esse lado e explorar um pouco mais isso. Hoje escrever faz tão parte da minha vida quanto pintar. Para um segundo momento, temos muitos outros livros encaminhados com conteúdos substanciosos a nível de conceito de visa, de alegria e de reencontro com o equilíbrio que hoje faz falta em muitos setores da vida.

OE – Você acredita que o dom facilita o aprendizado na arte, independentemente da formação profissional?

MA – Essa coisa de dom é muito relativo. Dom todas as pessoas têm, sobre tudo o dom de ser feliz e de demonstrar para o mundo o seu lado do bem. O dom está em absolutamente tudo. É obvio que quando você desenvolve um trabalho no qual você começou desde criança, sentir tatear aquilo como sendo o seu objetivo é quase como um dom nato. Eu me incluo nisso porquê desde criança a minha diversão era desenhar na areia, ou na janela com o vidro embaçado. E eu observo isso nas crianças, que elas estão muito sensíveis ao dom. Hoje eu acho que deve ser investir muito na criança e no jovem porque o dom está aí florescido e precisa mesmo é ser canalizado.

OE – Qual a importância da Bienal do Livro para fomentar a cultura no Paraná?

MA – Era mais do que merecido que Curitiba recebesse esse presente, essa primeira oportunidade de contato com a literatura. O Paraná é um Estado riquíssimo na área das artes em todos os aspectos e a literatura deixava a desejar, nós não tínhamos até então um movimento tão específico. Nosso desejo como artista é que a cidade aceite bem o evento, que participe e valorize porque é daqui que vão nascer os outros movimentos que possam presentear a cidade com outras obras.

OE – Ainda falta incentivos não só do poder público mas da iniciativa privada para promover a arte no Estado?

MA – Essa coisa do incentivo é muito relativo. Sempre vai estar faltando, por mais que a empresa privada e o governo invistam. A arte é o respirar do ser humano. Acho que quanto mais for investido melhor. Quantos artistas nós temos com belíssimos trabalhos e que esbarram na dificuldade. Sou uma felizarda por colocar a público um material de primeira qualidade e a gente sabe que não são todos os artistas que conseguem isso. Então falta apoio sim, falta interesse e movimentos como este (Bienal). Poderíamos ter eventos mais freqüentes voltadas à arte e visão para o conceito de arte, que não pode ficar presa em galeria de museu. A arte tem que partir para ir ao encontro do público.

Serviço

O livro Imagens de inocência, Maivilis Amaro, está à venda na Bienal do Livro de Curitiba a R$ 98,00. Mais informações: www.recriararte.com.br.